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(Foto: Debora Feddersen/Ed. Globo)

 

Após ler o título deste artigo, você, leitor, deve estar se perguntando o que quero dizer usando uma chamada já tão popular – parte da campanha “Agro: a Indústria-Riqueza do Brasil” – para afirmar que este setor também é Halal. Em resumo, minha intenção é mostrar que a força do agronegócio brasileiro é fruto também das exportações ao mercado islâmico.

Para iniciar esta reflexão, se faz necessário explicar o que é Halal. Existe uma recomendação religiosa para que os muçulmanos consumam os chamados produtos Halal, palavra que quer dizer “permitido”. Trata-se de um padrão ético e moral de ações lícitas não só na alimentação, mas também no ambiente social, na conduta, na Justiça, nas vestimentas e nas finanças.

Um alimento é considerado Halal quando, em seu processo produtivo, foram utilizados matérias-primas, processos, mão de obra e embalagens que não trazem qualquer prejuízo à saúde e à segurança das pessoas. No ramo agropecuário, a certificação Halal ainda garante a segurança e o status Halal dos defensivos agrícolas, controle de OGM (organismos geneticamente modificados) e preservação de áreas. E, justamente por ter essas características, pessoas preocupadas com consumo consciente, saúde e segurança dos alimentos vêm procurando, cada vez mais, alimentos, fármacos, medicamentos e cosméticos Halal, mesmo não professando a fé islâmica.

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Porém, antes de chegar ao mercado, é preciso que tais produtos obtenham a certificação Halal, tarefa das certificadoras. São elas que farão avaliações documentais, auditorias e ensaios laboratoriais a fim de comprovar se aquele item é, efetivamente, Halal, portanto, permitido para o consumo dos muçulmanos.

Voltando ao agro, a produção brasileira de itens agropecuários vem abastecendo com bastante destaque o mercado islâmico – composto por 1,8 bilhão de pessoas, que representam 24% da população mundial, e que deve atingir a marca de US$ 3,2 trilhões até 2024.

Dados da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), mostram que os países integrantes da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) responderam por 18% das compras de produtos do agronegócio brasileiro entre janeiro e julho de 2020. O maior mercado foi a Turquia, seguido por Indonésia, Bangladesh, Arábia Saudita, Egito, Argélia, Paquistão, Emirados, Irã e Malásia. Os principais produtos vendidos foram açúcar, soja e carne de frango.

Neste mesmo período, ainda de acordo com a Secretaria, novos mercados foram abertos: venda de carne bovina para o Kwuait, material genético avícola para o Marrocos, embriões e sêmen bovino ao Catar e derivados da carne de frango ao Egito.

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E quando o assunto é proteína animal, a força dos produtores brasileiros se revela ainda maior. O Brasil é o líder mundial em exportações de frango Halal e um dos principais fornecedores de carne bovina também Halal. Em 2020, de acordo com dados da Comex Brasil, apenas no primeiro semestre, quase um milhão de toneladas de frango Halal foi exportada para os países árabes. Os principais compradores foram Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kwait, Iêmen e Catar, entre outros. O total de frango Halal exportado pelo Brasil corresponde a cerca de 40% das exportações de carne de frango.

Pude acompanhar de perto a primeira exportação de frango Halal do Brasil coordenada por meu pai, Hajj Hussein el Zoghbi – um imigrante libanês que transformou nosso país em sua casa e aqui teve filhos e netos. Foi em 1979, ano que marcou o início das atividades da primeira certificadora Halal do país, a Fambras Halal.

Comerciantes da Arábia Saudita e do Kuwait solicitaram uma grande quantidade de frango Halal: 650 toneladas. O acontecimento, inédito, surpreendeu as empresas do ramo que não possuíam estrutura para atender ao enorme volume da exportação. Foi criado, então, um pool entre Seara, Perdigão, Frangosul e Minuano para atender a demanda.  E com o auxílio de Zoghbi, foi realizada a primeira exportação, transportada no navio finlandês Aconcágua, pelo Porto de Itajaí em Santa Catarina, rumo ao Oriente Médio.

A história que comprova a relação sólida com o mercado muçulmano, os números vultosos que representam estes negócios e a competência do agronegócio brasileiro – que mesmo em meio à pandemia manteve os acordos com mais de 170 países parceiros – permitiu ao Brasil figurar como o terceiro país melhor classificado no Indicador Global de Economia Islâmica (GIEI), do Centro de Desenvolvimento de Economia Islâmica de Dubai. Razões de sobra – e eu poderia citar tantas outras – que reforçam a afirmação que fiz ao intitular este artigo: o agro é sim Halal!

*Jornalista, economista e pedagogo, é vice-presidente da Fambras Halal

**As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, a posição editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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