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(Foto: United Soybean Board/CCommons)

 

Implantar o sistema de duas safras no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina para incentivar o aumento do cultivo de trigo, triticale, cevada, centeio, canola e aveia no inverno como alternativa ao milho na composição da ração para aves e suínos.

É com este objetivo que vem avançando o chamado Plano Duas Safras, que une o ex-presidente e atual conselheiro da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, chefes e técnicos de quatro unidades da Embrapa, o presidente do sistema Farsul, Gedeão Pereira, representantes das indústrias do setor, como JBS e BRF, e diretores de cooperativas da região sul.

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A última reunião ocorreu na quinta-feira (25/3) de forma virtual, com a participação de cerca de 50 pessoas. Turra, intermediador do encontro, disse à Revista Globo Rural que, apesar de produzir 72% do milho nacional, RS e SC precisam importar até 5 milhões de toneladas por ano para alimentar suínos e aves, já que 80% da ração dessas cadeias é composta por milho e farelo de soja.

Como a safra de milho no sul vem de duas quebras consecutivas causadas pelo clima, há um aumento de demanda no mundo e o Brasil se tornou um grande exportador do produto, já não sobram grãos a preços competitivos para compor a ração de frangos e aves que fornecem a proteína animal mais barata.

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Segundo ele, a logística impede que Santa Catarina, maior produtor de suínos do país, e o Rio Grande do Sul tragam o milho do Brasil Central, que também está usando mais grãos para produzir etanol.

Paraguai e Argentina, tradicionais fornecedores do insumo das agroindústrias de transformação de proteína animal, também não têm o volume necessário. A estratégia, então, formulada inicialmente com a Embrapa Trigo, é criar alternativas para substituir o milho.

“Nos dois Estados, são cultivados 8 milhões de hectares no verão e, no inverno, 5,5 milhões ficam ociosos. Antes, não havia muito incentivo porque as agroindústrias não se dispunham a comprar essas culturas, já que tinham excedente de milho. Hoje, busca-se alternativas porque não dá para repassar a alta do milho para o custo da carne de frango ou suína", diz Turra.

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Inverno mais ativo

Gedeão, presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Suul, diz que, devido ao inverno mais rigoroso que o restante do país, o Estado realiza apenas 1,09 safra por ano, quando poderia fazer duas como a maioria das regiões brasileiras.

O RS ocupa 6 a 7 milhões de hectares com soja no verão e apenas 1,1 milhão no inverno com trigo. “Rio Grande do Sul e Santa Catarina são grandes produtores de suínos e aves, mas essas atividades praticamente pararam por aqui devido à atual conjuntura do milho, que deixa o produto muito caro para nós.”

Osvaldo Vasconcelos, chefe-geral da Embrapa Trigo, diz que o inverno é a maior fronteira agrícola do Rio Grande do Sul. Segundo ele, a perda de competitividade da suinocultura e avicultura nos dois Estados do sul se agravou nos últimos anos e por isso a indústria vem reduzindo os abates.

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Nesse cenário, sua unidade com sede em Passo Fundo (RS) se juntou inicialmente à Embrapa Suínos e Aves (Concórdia-SC) e depois à Embrapa Clima Temperado (Pelotas-RS) e Embrapa Pecuária Sul (Bagé-RS) para buscar tecnologias que possam tornar o cultivo dos grãos de inverno mais atrativos para produtores e indústrias.

Um trabalho de pesquisa já mostrou que  é possível reduzir aproximadamente R$ 400 por hectare nos custos de produção do trigo com práticas de manejo eficiente e genética de qualidade. Vasconcelos e Gedeão afirmam que a indústria está muito interessada nas alternativas apresentadas.

“Sei que as indústrias já fecharam contrato com algumas cooperativas para entrega de cargas de triticale”, diz o chefe da Embrapa Trigo. “Falta estabelecer a qualidade dos grãos e sua capacidade energética na substituição do milho para termos uma precificação. Aí vamos levar esse pacote de tecnologias da Embrapa e de precificação para o produtor escolher se vale manter suas terras improdutivas no inverno ou se vai agregar mais a atividade agrícola”, diz Gedeão.

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O dirigente da Farsul afirma que o plano Duas Safras também contempla a metade sul do Estado, focada em pecuária de corte e no plantio de arroz, onde houve um grande avanço da soja nos últimos anos.

Janela de oportunidade

Segundo Vasconcelos, o trigo, a mais plantada das culturas de inverno, terá aumento de 10% a 15% de área nesta safra no Rio Grande do Sul, de 5% a 8% no Paraná e deve manter volume em Santa Catarina (os três Estados produzem 87% do trigo nacional), mas está com alta demanda da indústria de panificação e acaba virando ração só quando perde qualidade.

Por isso, o triticale, uma mistura de trigo e centeio que tem custo de produção menor e maior produtividade que o trigo, seria o mais indicado para compor a ração. “Se a indústria quiser, o triticale substitui 100% o milho na ração de aves e 80% na alimentação de suínos", diz.

Nas contas de Vasconcelos, só para abastecer as unidades industriais da JBS e Alibem no Rio Grande do Sul com os cereais de culturas alternativas seria necessário plantar já mais 500 mil hectares.

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Turra ressalta que a atual conjuntura do milho abre uma janela de oportunidade para os produtores. “Nós temos terra, máquinas ociosas, mão-de-obra, tecnologia da Embrapa, interesse da indústria e sementes para aumentar já em 500 mil o plantio das culturas de inverno", destaca.

Ex-ministro da Agricultura no governo Fernando Henrique Cardoso, Turra afirma que o projeto das duas safras já recebeu o apoio da atual titular da pasta, Tereza Cristina, mas ressalta que o plano é de médio prazo e não depende de incentivos governamental. “O objetivo é zerar nosso déficit de produto para a ração animal. Se conseguirmos isso em cinco anos, será um sucesso", projeta.

Procuradas, JBS e BRF não atenderam ao pedido de entrevista da Revista Globo Rural.
Source: Rural

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