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Fileiras de árvores nativas plantadas em consórcio com pasto na Fazenda Gordura, em Guaranésia (MG) (Foto: Divulgação/Danone)

 

Em meados de 2019, o produtor de gado leiteiro Caio Rivetti separou três hectares da Fazenda Gordura, em Guaranésia (MG), para implementar um projeto piloto ambicioso: integração pecuária-floresta (IPF) com uso exclusivo de biológicos na área.

Natural de São Paulo e neto de italianos que trabalhavam no campo, ele largou uma carreira de investimentos em commodities para se dedicar à pecuária de leite. Mas sabia que, para se diferenciar do mercado, seria necessário priorizar o meio ambiente.

Desde então, mais do que produzir leite, ele entendeu que é preciso produzir floresta. Para ambas as finalidades, o solo é peça chave.

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A iniciativa, que ainda está em processo de formação em parceria com a Danone, conta com o bê-a-bá da agropecuária, que é estudar o solo e entender a vocação para plantio dentro daqueles três hectares.

Para o sistema IPF, o modelo não considera eucalipto, mas prioriza plantas nativas e algumas exóticas. Entre as fileiras de árvores plantadas no sentido leste e oeste, e com intervalos de pastagens, é possível ver um leque de frutas como araçá e uvaia, que ora contribuem para a biodiversidade do solo, ora servem de alimento às vacas.

O segmento apanha muito por causa das emissões, mas com esse modelo pode sair de vilão para mocinho

Henrique Borges, gerente de compra de leite e agronegócios da Danone

Uma coisa é certa: a área não vê defensivos químicos há anos e Rivetti acredita que parte da aptidão do solo para tantas espécies é resultado desta não interferência na microbiota.

“Esse projeto é à beira de uma APP [Área de Preservação Permanente], antiga área de várzea para arroz na década de 1980 e, depois, se transformou em área de pasto. Então, não tem histórico de químicos e queremos seguir assim”, afirma.

Esta busca em tratar bem o solo e dar vida à produção de frutas, pasto e qualidade de vida ao gado é um exemplo de agricultura regenerativa. O conceito mescla a economia circular, por ter mais de uma fonte de renda, com a possibilidade de produzir e recuperar solos simultaneamente.

“Com o defensivo biológico, você não tem tanto risco de contaminação do solo e do funcionário, sendo uma diferença muito perceptível, além da riqueza na biodiversidade”, defende o produtor.

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Todo o processo do projeto piloto é acompanhado de perto pela Danone, que percebeu oportunidade de mercado neste sistema produtivo sustentável. A empresa firmou a meta de redução de 50% de gases de efeito estufa até 2030, sabendo que, de toda a emissão da companhia, 52% é proveniente da produção do leite.

Apesar de ainda não ter números oficiais sobre o projeto recém colocado em prática, produtor e empresa estão vendo ganhos de produtividade. Não por acaso, a Danone já pretende expandir a agricultura regenerativa para 188 hectares, distribuídos em 38 fazendas, mas não especifica em quanto tempo deve fazê-lo.

“Com esse modelo, conseguimos ter produção tão competitiva quanto o modelo convencional e passamos a sofrer menos com as oscilações de mercado, como alta de soja e do milho. Ainda esperamos ser mais rentáveis do que os modelos extensivos, sem contar o ganho de longevidade do gado pela qualidade de vida. Então, no longo prazo, a conta fica boa”, declara Rivetti.

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Acelerar processos produtivos mais sustentáveis também é interessante pela ótica da reputação da pecuária. “O segmento apanha muito por causa das emissões, mas com esse modelo pode sair de vilão para mocinho”, aposta Henrique Borges, gerente de compra de leite e agronegócios da Danone.

Ele também admite que ainda deve levar algum tempo para que o cliente esteja receptivo a arcar com um custo mais alto derivado de um produto com qualidade superior. Para isso, é preciso criar um nicho para depois ganhar escala.

“Não vejo o consumidor tão disposto a pagar mais por esse leite, mas não digo que isso seria culpa do consumidor, mas sim da indústria, que não sabe se comunicar”, reconhece Borges.

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Source: Rural

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