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(Foto: Divulgação/Fazenda Terra Boa)

 

Alvo de controvérsias, a atividade pecuária no Brasil e no mundo não é normalmente relacionada à sustentabilidade. Porém, é possível transformar a cadeia produtiva do gado, com sustentabilidade e dignidade. O projeto Pasto Vivo propõe uma maneira diferente de conduzir a atividade a partir de práticas regenerativas e humanizadas que podem transformar a pecuária em benefício de agricultores, dos animais, dos pecuaristas e, sobretudo, do planeta.

Em termos de uso da terra, a criação tradicional de gado é considerada ineficiente, enquanto a Reserva Legal – uma porcentagem obrigatória de 35% (no estado de Mato Grosso) da propriedade – é pouco reforçada. Além disso, os pecuaristas enfrentam os desafios das mudanças climáticas, com consequências avassaladoras para a criação tradicional como savanização e desertificação; pastagens degradadas e temperaturas cada vez mais altas e severas estações secas. Ainda, segundo modelagens recentes, o aquecimento global pode aumentar o custo de produção da carne bovina brasileira em até 160%.

O tempo para mudar a forma como fazemos agropecuária é agora, não podemos mais esperar. Quem estiver a frente de novas tecnologias regenerativas terão vantanges mercadológicas e garantirão a sustentabilidade da propriedade.

Com intuito de mudar paradigmas e mostrar que pode existir pecuária carbono negativo, a Luxor Group e a Meraki Impact montaram uma equipe encabeçada pela PRETATERRA, para mostrar que é possível ter benefícios ambientais e econômicos coma criação de gado. Este projeto, chamado de Pasto Vivo, reúne uma ampla gama de conhecimentos em pesquisa, avaliação de impacto, investimentos, negócios e sistemas agroflorestais integrados.

Estamos olhando muito além da Pecuária, queremos melhorar a dignidade da criação animal e garantir impacto positivo na produção de serviços ecossistemicos para o planeta.

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O projeto está sendo desenvolvido no interior do Mato Grosso e será referência mundial em pecuária regenerativa, financeiramente viável e com carbono positivo, com prazo de implementação até 2022. O investimento inicial é de 850 mil euros, cerca de 5 milhões de reais e abrange uma área piloto de 100 hectares da fazenda São Benedito, inicialmente, área que poderá ser ampliada para 1.200 ha e, possivelmente, chegue aos 23.000 ha (área total do projeto).

A primeira atividade desenvolvida foi o estudo de viabilidade da paisagem e ocorreu no mês de fevereiro de 2020. Em seguida a PRETATERRA elaborou o design agroflorestal, nos meses de julho e agosto. A partir daí seguiu-se a fase de implantação, que tem prazo para ser finalizado em maio de 2022.

O objetivo é criar o melhor modelo pecuário agroflorestal do mundo, que seja replicável ao contexto regional. A partir dessa demanda, desenhou-se uma estratégia para a conversão agroflorestal da fazenda piloto, desenhando um sistema agroflorestal inovador, integrado em SSPi (Sistemas Silvopastoril Intensivo), agregando árvores e produtos florestais não-madeireiros, com produção de forragem para o gado e produtos de alto valor agregado, visando ainda o mercado de créditos de carbono e futura negociação de outros potenciais serviços ecossistêmicos.

A aplicação dessas práticas regenerativas provê melhora no bem-estar e crescimento dos animais, aumentando o seu valor e qualidade. O rebanho é manejado em uma pastagem mais eficiente e usufrui do sombreamento das árvores, melhorando o bem-estar animal, permitindo ainda um uso mais eficiente da terra e um aumento no número de cabeças de gado por área. Além disso, uma gama diversificada de produtos provenientes das árvores fornecerá fontes adicionais de forragem, renda e alimentos.

Em um horizonte de longo prazo, o objetivo macro desse projeto é inspirar outros pecuaristas que atuam em áreas da Amazonia legal, a migrar dos modelos convencionais em direção a práticas mais sustentáveis e condizentes com as mudanças climáticas e restauração do solo, água e meio ambiente. A ideia é que o Pasto Vivo crie um forte argumento para a pecuária regenerativa.

Arranjos produtivos biodiversos e complexos, incluindo árvores na paisagem, como os sistemas agroflorestais, têm o potencial de transformar os meios produtivos convencionais, incluindo a pecuária, em atividadesque, além de viáveis financeiramente, provejam impactos ambientais positivos para a sociedade e para o planeta. Vivemos um momento de transição mundial e a hora de agir é agora.

*Paula Costa é engenheira florestal com especialização em Gerenciamento Ambiental pela ESALQ – USP e fundadora da PRETATERRA. Valter Ziantoni é engenheiro florestal com especialização em Gerenciamento pela FGV e fundador da PRETATERRA.

**As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade dos seus autores e não refletem, necessariamente, o posicionamento editorial da Globo Rural
Source: Rural

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