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Lígia Carvalho, diretora da Jaguacy que no ano passado exportou 2,5 mil toneladas de abacate (Foto: Luiz Maximiano)

 

*Publicada originalmente na edição 424 de Globo Rural (março/2021)

Em 1970, o produtor rural Paulo Leite de Carvalho colhia a sua primeira safra de abacates do tipo avocado, cultivada em uma propriedade familiar de 800 hectares, localizada nas imediações de Bauru, no interior de São Paulo. A ideia de Carvalho, que também é engenheiro agrônomo, era vender toda a produção para uma fábrica de óleos, no Paraná. Mas, pego de surpresa (e no ritmo em que as novidades chegavam à época, sem internet), recebeu uma notícia desoladora: a tal indústria havia fechado as portas.

Com uma safra cheia nas mãos, sem opções para comercializar a fruta (até então muito pouco conhecida dos brasileiros), Carvalho escreveu uma carta para o governo da França, país que até hoje figura entre os maiores consumidores de avocado do mundo. Como resposta, recebeu uma lista com os principais importadores de frutas tropicais da Europa.

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Assim começou a trajetória da Jaguacy, hoje a maior produtora e exportadora do segmento de avocado do Brasil. O avocado (que significa abacate em inglês) é uma fruta pequena, de casca escura e grossa, e polpa cremosa, rica em gorduras monoinsaturadas. Na última safra, que acontece sempre entre os meses de fevereiro e setembro de cada ano, a Jaguacy produziu 5 mil toneladas, volume menor que nos anos anteriores, em torno de 7, 5 mil toneladas, e exportou 100 contêineres, ou 2,5 miltoneladas.

O destino: países da União Europeia, Escandinávia, Canadá, Emirados Árabes e Marrocos, além de alguns vizinhos do Mercosul, como Uruguai e  Argentina. Não fosse a seca, que reduziu a produtividade de todos os pomares de avocado em São Paulo, que é o maior produtor nacional, responsável  por 84% da produção, os números de colheita e exportação seriam maiores.

Isso porque a demanda pela fruta só aumentou nos últimos anos em todos os mercados, inclusive internamente. “No mercado externo, principalmente na Europa, a demanda sempre foi crescente, algo em torno de 30% ao ano, enquanto que os consumidores brasileiros descobriram o avocado nos últimos anos, devido à tendência de consumo de alimentos mais saudáveis e mais ricos em fitonutrientes”, explica Lígia Falanghe Carvalho, uma das sucessoras da Jaguacy.

Com nome que significa abacate em inglês, a fruta pequena, de casca escura e grossa e polpa cremosa, é rica em gorduras monoinsaturadas A Jaguacy produziu no ano passado 5 mil toneladas de abacate, a maior parte de cultivos próprios (Foto: Luiz Maximiano)

 

"As pessoas conheciam o abacate tropical, aquele que se come com açúcar e limão.” Segundo ela, o consumo interno aumentou algo em torno de 20% no mercado doméstico nos últimos anos e deve aumentar mais. “É notável que os brasileiros começaram a descobrir as qualidades do avocado, formas diferentes de consumir a fruta, incluindo os pratos salgados, e seus benefícios para a saúde e dietas especiais.”

Há uma confusão na cabeça dos consumidores brasileiros. Afinal, qual é a diferença entre abacate e avocado? “Todos são considerados abacates e existem diversas variedades. No caso da nossa produção, que é focada no mercado externo, cultivamos o hass. Esse é o nome da variedade, mas como a pronúncia é difícil, adotamos o avocado, que significa abacate em inglês, para facilitar o conhecimento e aproximação do consumidor brasileiro”, explica Lígia. Além do hass, há as variedades breda, fortuna, geada, margarida, ouroverde e quintal.

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A  produção de abacates no Brasil, segundo a Associação Brasileira dos Exportadores de Frutas (Abrafrutas), beira 196 mil toneladas, incluindo todas as variedades. A área gira em torno de 10 mil hectares, mas o tipo hass ou avocado é o mais cultivado para exportação. São Paulo, Minas Gerais e Paraná são os maiores produtores. Conforme revelam dados  da Ceagesp, é a 16ª fruta preferida dos consumidores, mas o consumo per capita por aqui ainda é de apenas 1 quilo por habitante ao ano. Para se ter uma ideia, o consumo no México é de 8 quilos por pessoa ao ano e, nos Estados Unidos, de 5 quilos por pessoa ao ano.

Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) apontam que, em 2020, o Brasil exportou 4,4 mil toneladas de abacates, principalmente da variedade avocado ou hass, e o destino principal foi a União Europeia. Por lá, segundo a Organização Mundial do Abacate (WAO), a elevação no consumo foi de 12% no ano (em comparação com o ano anterior) e de 7% nos Estados Unidos.

(Arte: Felipe Hideki Yatabe)

O principal motivo da maior demanda foi a pandemia do novo coronavírus. “O consumo disparou porque as pessoas optaram por consumir alimentos mais saudáveis, preparados em casa. O novo luxo pós-pandemia será a alimentação saudável e o bem-estar”, afirma Xavier Equihua, presidente da WAO. “O avocado deixou de ser apenas um componente da guacamole (salada de origem mexicana consumida no mundo inteiro) para ser incluído na alimentação do dia a dia.”

Na safra 2020, a produção agrícola da Jaguacy, que reúne uma fazenda de 800 hectares localizada em Bauru, uma propriedade de 400 hectares na região de Avaré, também no interior de São Paulo, e mais áreas de cultivo de produtores parceiros, somando 1.300 hectares, foi de 5 mil toneladas. Na temporada anterior, o volume chegou a 7,5 mil toneladas. “No ano passado, o clima não ajudou, pois a seca foi muito intensa no período de desenvolvimento da fruta e, ao que tudo indica, em 2021 o cenário poderá se repetir”, avalia Lígia, que estima colher 4 mil toneladas de avocado neste ano. Apesar do volume menor, a empresa vai manter o volume de exportações. “Vamos continuar priorizando o mercado europeu, mas, ainda assim, batalhando para conseguirmos a abertura do mercado norte-americano, que é um grande consumidor de avocado”.

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Mas, com o crescimento do mercado doméstico, a Jaguacy também se prepara para atender aos novos consumidores do seu produto. O packing house (local onde é feito o processamento da produção), que utiliza inteligência artificial no processo, tem capacidade para processar 40 contêneires por semana. A empresa também investiu na área de marketing e na indústria, com extratoras para iniciar o processamento da fruta, elaboração de embalagens especiais e produtos premium prontos para consumo. A polpa congelada da fruta é encaminhada para uma indústria de óleos, localizada em Americana, interior de São Paulo, para a produção do azeite de avocado, um produto que, no varejo, chega a custar 300% mais que o azeite tradicional.

Em 2019, foi a vez de apostar no consumo imediato: a guacamole, fresca e pronta para consumir. Os bowls colecionáveis, as tigelinhas temáticas (de acordo com a época do ano) e as embalagens com diferentes volumes e pontos de maturação da fruta visam fidelizar o público.

Lígia Falanghe Carvalho. Uma das sucessoras do produtor rural Paulo Leite de Carvalho, que, em 1970, fundou a Jaguacy, em Bauru, no interior de São Paulo (Foto: Luiz Maximiano)

 

“As características do avocado vão ao encontro das premissas de uma dieta super saudável. É considerado um super alimento, pois tem grande concentração de gorduras monoinsaturadas, facilmente queimadas para a produção de energia”, explica a produtora. “Apostamos que esse público, interessado na alimentação mais saudável, é o foco do mercado interno.”

Para difundir ainda mais a popularidade entre os consumidores, a Jaguacy tem apostado em estratégias de marketing. “Oferecer informação para o consumidor é essencial, por isso realizamos muitas ações que envolvem a medicina e a culinária para mostrarmos como é saudável e saboroso”, diz a rainha do avocado.
Source: Rural

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