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Estoques mundiais menores, demanda e cenário macroeconômico deve manter em alta os preços de grãos (Foto: Claudio Neves/APPA)

 

 

 

 

Ainda que o plantio atrasado da segunda safra de milho no Brasil não resulte em perdas expressivas para a produção nacional de grãos, as condições macroeconômicas e a diminuição dos estoques mundiais deverão manter os preços da commodity em patamares elevados no país pelo menos até 2022. A avaliação é do banco Itaú que, a partir das projeções oficiais para os principais países produtores (entre eles Brasil, Argentina e EUA), estima que o déficit na oferta mundial deva se alongar até a próxima safra.

“O que a gente vê é que, se o consumo mundial crescer 3% – o que não me parece exagero dado o cenário global e chinês – a gente volta a ter um cenário de déficit global e, consequentemente, corrosão de estoques. E é isso que abre espaço para alta”, comentou o gerente de consultoria agro da instituição financeira, Guilherme Belloti, ao citar números do mercado de soja.

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Para o milho, a projeção é de um crescimento de 2% no consumo global e redução de 0,7% nos estoques finais – o equivalente a dois milhões de toneladas. “É um balanço que anda de lado, não tem folga”.

Belloti destaca que a China deve responder, sozinha, por 60% do aumento no consumo do cereal nesta temporada, alimentando uma demanda que deve se manter aquecida ao longo dos próximos anos devido aos investimentos na produção de suínos e aves realizadas no país após a Peste Suína Africana (PSA).

“Isso tudo contribui para mostrar o aperto que temos de fundamentos e que provavelmente via demorar mais alguns anos para ter uma folga maior na oferta com arrefecimento dos preços”, completa o gerente de consultoria agro do Itaú.

Carnes

Com as perspectivas de manutenção de preços elevados para grãos nos próximos dois anos, a previsão é aperto nas margens do setor de carnes nesse período – sobretudo nas operações de mercado interno, onde a indústria tem encontrado mais dificuldade de repassar preços ao consumidor final.

“A gente nota que a situação está bastante difícil. Ainda com muitos riscos nos próximos meses em relação a safrinha de milho e à safra americana, com potencial de criar uma pressão adicional aos balanços que já estão apertados – o que significa que os custos têm pouca chance de acomodação significativa”, pontua César de Castro Alves, consultor de agronegócios do Itaú para o mercado de proteína animal.

Segundo ele, as margens dos frigoríficos que operam com carne bovina focados no mercado interno estão hoje “muito apertadas”, por causa da alta preços do boi gordo. “Há uma clara dificuldade de repassar preços e o mercado está muito firme, com uma oferta aquém da necessidade dos frigoríficos e do lado da indústria há um dilema enorme entre manter a fábrica fechada e diminuir a compra de gado ou rodar a operação com margens apertadas”, explica Alves ao lembrar que, entre os exportadores, a situação também é de aperto é e piora quando comparado com o ano passado.

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Para avicultura, o cenário é semelhante, com custos de produção acima do preço médio do frango vivo desde outubro do ano passado. “A grande saída provavelmente – e isso está acontecendo – é aumento dos preços em dólares nas exportações. É preciso que essa recuperação continue e todo o racional inflacionário no mundo sugere que isso vai continuar”, pontua o analista.

Assim como no caso da carne bovina, o desafio do setor de aves estará no repasse desses custos ao mercado interno brasileiro, segundo lembrou o diretor de agronegócios do banco, Pedro Barreto. “Ainda existe uma dependência importante de mercado interno, – o que muda de empresa pra empresa – e numa situação de baixa disponibilidade de renda é preocupante a quantidade de meses seguidos onde a gente olha uma margem de frango teoricamente negativa”, completa Barreto ao destacar que, para este ano, a previsão é de aperto de margens. “A gente não vê que a entrada da safrinha vá representar um alívio importante desse desenho que a gente tem do setor”, conclui o diretor de agronegócios do Itaú.
Source: Rural

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