(Foto: Foto: Divulgação/ Cora )
No terceiro dos dez andares do prédio de madeira, uma plantação com pés de berinjela, pimentão, quiabo, tomate e morango. Rúcula, alface, acelga, coentro, manjericão e outras folhagens ideais para saladas são plantadas em uma estufa no quarto pavimento.
Esses alimentos abasteceriam o mercado no primeiro piso, a comida a pronta-entrega e o café, no segundo, além de um restaurante no oitavo. No meio desse caminho, apartamentos residenciais. Abraçando a estrutura, uma agrofloresta.
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Idealizado por uma equipe de alunos e recém-graduados da USP, o Projeto Cora tem o propósito de reduzir a emissão de gás carbônico, encurtando os deslocamentos para alimentação. Segundo estimativas do grupo, a horta do complexo produziria cerca de três toneladas de frutas e legumes por mês.
A proposta foi finalista do Prêmio Brics na categoria Health & Lifestyle. A competição reuniu 230 soluções enviadas por estudantes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Dentre elas, 32 chegaram às finais, onde nove estudantes de arquitetura e engenharia agronômica formavam a única equipe a representar o Brasil.
Time USP, que elaborou o projeto(Foto: Divulgação/Projeto Cora)
O desafio envolveu a elaboração de uma solução sustentável, circular, com modelo de negócios viável e impacto social para uma área de 30 mil m² na cidade chinesa de Dongguan.
A resposta do Time USP foi o complexo que une arquitetura e uma fazenda urbana com produção horizontal e vertical, batizado como Cora em homenagem à deusa grega das ervas, flores, frutos e perfumes, mais conhecida como Perséfone.
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Culturas
A equipe brasileira tentou adotar um sistema bastante diverso em relação às culturas cultivadas, incluindo variados sistemas de produção. “O projeto contempla uma área chamada farmland, onde introduzimos um modelo mais resiliente com alguns princípios de permacultura. Temos algumas culturas frutíferas dentro do prédio, com uso de hidroponia, aeroponia e até um sistema mais inovador que é o dryponics”, conta Gabriel Coneglian Barbosa, estudante de Agronomia na Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP).
Barbosa explica que dryponics é uma técnica de plantação em ambiente controlado, auxiliada por técnicas laboratoriais, como uso de agar como meio de cultivo em membranas secas, permitindo aplicar nutrientes com maior precisão. A tecnologia é ideal para desenvolver microgreens – miniplantas com períodos mais curtos de amadurecimento até o ponto de consumo, mas com maior preço de mercado.
O projeto balanceia alimentos mais caros como as microgreens e baby leaves – folhas colhidas jovens ideias para serem consumidas como salada – com outras mais baratas, como as frutas e leguminosas, plantadas na agrofloresta e na horta do terceiro andar. “A proposta visou ter impacto social sobre todas as pessoas da região, sob a perspectiva da segurança alimentar”, destaca o estudante de agronomia.
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Arquitetura
Fora as áreas dedicadas à produção, isoladas por razões fitossanitárias, e os apartamentos residenciais, todos os aparelhos do complexo Cora estariam abertos ao público. O projeto inclui supermercado, restaurante, café, salas para palestras, pátio, mirante e espaço para coworking. Tudo seria articulado por uma grande rampa externa, acessível a cadeirantes.
De acordo com Natália Jacomino, estudante de arquitetura no Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP e integrante da equipe, as estufas seriam isoladas por paredes de vidro transparente. “Quem estivesse passeando pelo prédio, poderia checar os processos de produção de fora, sem colocar a saúde das plantas em risco”, afirma.
Ana Victória Gonçalves, colega de curso de Jacomino, aponta que o formato circular com um átrio central do edifício, inspirado nas tradicionais vilas Hakka, foi escolhido para otimizar a entrada de luz natural. Há também, um desencontro intencional entre as lajes do prédio para aumentar a entrada de luminosidade. Assim, a demanda por iluminação artificial cai para 53% do total.
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Circularidade
A economia de eletricidade não advém só dos cortes no uso de luz artificial, mas também com o uso de fontes renováveis, a exemplo de energias eólica, solar e geotérmica. O Time USP pensou no prédio visando reduzir desperdícios e resíduos, ao seguir os conceitos da economia circular.
A produção de alimentos em geral foi projetada considerando a produção de biomassa a ser reutilizada nas dependências do Cora. Por exemplo, todo o lixo orgânico do restaurante seria encaminhado para o módulo de criação de moscas soldado-negro, que teria a capacidade para remover cinco quilos de resíduo por metro quadrado todos os dias.
A também estudante de arquitetura Beatriz Alcântara conta que o grupo pesquisou várias referências de métodos naturais biológicos para tratamento de água. “A gente teria ali a zona de raízes, o tratamento de água com as bananeiras”, recorda.
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Observando também a redução de emissões de gás carbônico, a equipe de arquitetos e agrônomos optou pelo uso da madeira como elemento estrutural. A construção civil é responsável por cerca de 30% de todo o dióxido de carbono lançado à atmosfera.
A escolha também levou em consideração a disponibilidade do material no mercado chinês. Afinal, os estudantes tinham como objetivo atender às necessidades da população de Dongguan.
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Dá para tirar do papel?
No Brasil, o Time USP foi questionado pela viabilidade de implementar o projeto. "O prédio só foi projetado porque foi na China. Lá tudo é muito megalomaníaco", disseram ao grupo, segundo Ana Victória Barbosa. A estudante de arquitetura defende que a proposta se adequa a grandes centros urbanos, onde pode ser replicada com as devidas adequações.
“É possível adotar em lugares como São Paulo, Nova York, cidades muito adensadas em que o espaço está muito disputado, onde a questão alimentar está se distanciando e ficando cada vez mais longe das pessoas. O projeto traz esse conceito de forma pujante”, declara Barbosa.
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Ingridth Hopp, membro da equipe dedicada sobretudo ao aspecto de sustentabilidade financeira do projeto, argumenta que o Cora não tem a intenção de disputar espaço com a produção agrícola tradicional. De acordo com ela, o supermercado do complexo revenderia os alimentos de agricultores e pecuaristas locais, com um sistema de rastreamento para frisar a origem de cada produto.
“Informações como o fazendeiro da província chinesa onde foi produzida aquela fruta ou verdura e o que fizeram naquela produção estariam disponíveis. Queríamos aproximá-los da cidade e não competir diretamente com aqueles produtores mais antigos e tradicionais. Nossa ideia foi sempre trazer uma solução colaborativa”, sublinha Hopp.
O Time USP contou com a orientação dos professores Brunno da Silva Cerozi, Jorge Munaiar Neto, Luciana Bongiovanni M. Schenk e agradeceu aos colaboradores que ajudaram com dicas de permacultura até criptomoedas.
Source: Rural