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Arroba do boi chegou a R$ 300 no Estado de São Paulo (Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

 

Não é só no mercado interno que a forte valorização da arroba do boi gordo está pesando. Nas exportações, a alta tem feito os preços do Brasil se descolarem de seus principais competidores na América do Sul, como Argentina, Uruguai e Paraguai, e ficarem próximos dos praticados nos Estados Unidos, onde a carne produzida é conhecida por uma maior qualidade e valor agregado.

“Um boi hoje de R$ 300 reais em São Paulo, (com câmbio em) R$ 5,35 a R$ 5,45, dá uma arroba de US$ 56. A arroba norte-americana vale US$ 55. Então fica difícil. A gente perde um pouco de competitividade", aponta a diretora executiva da Agrifatto, Lygia Pimentel.

Quando comparados com valores de um ano atrás, a arroba brasileira aumentou 25% em dólar enquanto a norte-americana teve desvalorização de 11,5%. “São produtos diferentes, mas chama atenção porque os Estados Unidos são um mercado de qualidade e o Brasil é um mercado de commodity. A gente não vende, por exemplo, para Japão e Coreia do Sul, que são países de alto valor agregado”, observa a analista.

Para ela, essa semelhança de preços é mais simbólica do que de competição entre os dois países. “Nossa competição mesmo estaria com Paraguai, Argentina e Uruguai”, diz. A arroba bovina é cotada entre US$ 45,75 no Paraguai e R$ 52,95 na Argentina. “O Brasil, tradicionalmente, tem um dos bois mais baratos do mundo. Está ali entre os três primeiros, quatro primeiros. Mas hoje a gente é o mais caro do Mercosul”, diz.

Pode subir mais

Apesar do cenário, é baixa a possibilidade dos preços da arroba brasileira em dólar cederem, aponta o consultor de agronegócio do Itaú BBA, César de Castro Alves. “Nenhum desses três têm grandes volumes para atender uma China. Então acho que, do ponto de vista de preços de exportação, tem espaço para subir mais”, avalia, pontuando que a Austrália, principal competidor do Brasil no mercado chinês, sofre consequências dos impactos climáticos dos últimos anos.

Assim, a maior disponibilidade de carne do Brasil em comparação com os vizinhos sul-americanos ainda confere vantagens competitivas. E as perspectivas são de manutenção a leve alta das exportações para a China este ano. A previsão do banco holandês Rabobank é de um crescimento modesto na demanda chinesa em 2021, de 100 mil toneladas, após um aumento expressivo de 4 milhões de toneladas no ano passado.

“Esse incremento de demanda num cenário onde a Austrália via estar fora do mercado pode gerar oportunidades ao Brasil e as nossas apostas são de manutenção das exportações para a China”, explica o analista Wagner Yanaguizawa.

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A diretora executiva da Agrifatto, Lygia Pimentel, pondera, contudo, que a situação é de cautela para os exportadores brasileiros. “Não é preciso ser tão maniqueísta. Ninguém precisa trocar o Brasil 100%, basta trocar 3%, 5% e jogar pro Paraguai, Uruguai e Argentina”, destaca.

Ela lembra que há ainda outros fatores que podem ajudar a manter ou até levar a uma redução das exportações do Brasil este ano, como a menor oferta de animais e os impactos da falta de chuvas no final do ano passado. “Junto com a seca e a falta de confinamento, por conta dos custos muito altos, podemos ter um enxugamento muito forte da oferta de carne e limitar o volume para exportação”, conclui a analista.
Source: Rural

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