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Queimada na Amazônia (Foto: Reprodução/Ed. Globo)

 

A ação humana é a principal causa das queimadas na Amazônia para 77% dos brasileiros. Para 49%, os agricultores estão entre os principais responsáveis e 48% citam os pecuaristas e criadores de animais. A agropecuária fica atrás apenas dos madeireiros, lembrados por 76% dos entrevistados. Mais da metade (54%) acredita que a responsabilidade em resolver o problema é do governo e 84% apontam que as queimadas no bioma prejudicam a imagem do Brasil no exterior e podem afetar as relações comerciais com outros países.

São algumas conclusões da pesquisa pesquisa Mudanças climáticas na percepção dos brasileiros, realizada pelo Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS Rio), Programa da Universidade de Yale sobre comunicação das mudanças climáticas e Ibope Inteligência, divulgada nesta quinta-feira (4/2). Foram ouvidos por telefone 2.600 brasileiros de todas as regiões, classes e níveis de escolaridade, refletindo o perfil da população acima dos 18 anos. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, com um nível de confiança de 95%.

O levantamento também mostrou também que, para 77% dos brasileiros, proteger o meio ambiente é mais importante, mesmo que isso signifique menos crescimento econômico. Outros 14% responderam que é mais importante promover o crescimento econômico e a geração de empregos, mesmo que isso prejudique o meio ambiente. Quase todos os brasileiros (92%) disseram saber que o aquecimento global está acontecendo e pode prejudicar a atual e as futuras gerações. Esse percentual é menor entre os entrevistados que não acessam a internet: 8% dizem não saber sobre o aquecimento global.

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Rosi Rosendo, diretora de contas na área de Opinião Pública, Política e Comunicação do Ibope Inteligência, afirma que os resultados apontam para uma grande preocupação da população brasileira com o meio ambiente, pauta que tem tomado conta dos noticiários nos últimos anos, principalmente em função das queimadas na Amazônia, em 2019, e no Pantanal e no Cerrado, no segundo semestre de 2020. “Ainda que a população considere importante a preservação do meio ambiente, há muito que se avançar em educação e disseminação de conhecimento sobre as mudanças climáticas e o aquecimento global.”

Ela destacou que apenas 25% dos brasileiros declararam saber muito sobre aquecimento global ou mudanças climáticas. Outro dado que chamou sua atenção foi que, na percepção dos entrevistados, quem mais pode contribuir com soluções para as mudanças climáticas são os governos (35%), seguido por empresas e indústrias (32%) e cidadãos (24%).

Opinião global

Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, afirma que a percepção do brasileiro está em consonância com a opinião mundial. “Uma pesquisa da Oxford identificou que ⅔ dos europeus acham as mudanças climáticas preocupantes.” Ele avalia que os resultados da pesquisa do Ibope são contraditórios, diante de cenários de negatividade que vigoram no Brasil que precisam ser combatidos com urgência ou o país ficará isolado no mundo.

"A atual política ambiental do Brasil nos isola no cenário internacional e pode nos custar empregos e atrasar nossa recuperação pós-Covid. O Brasil caminha na direção contrária do que esperam os investidores e líderes internacionais, bem no momento em que o mundo se realinha para combater o problema das mudanças climáticas”, diz.

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Ainda assim, o ambientalista considerou os dados da pesquisa muito positivos, por apontarem a existência de um movimento de conscientização dos brasileiros sobre a crise climática. “A população é fundamental para pressionar políticos e criar um ambiente de barreira a propostas que causam tão mal ao país e aos negócios”, disse, acrescentando estar preocupado com o próximo período no Congresso Nacional. “Podemos ter uma enxurrada muito grande de temas contra o meio ambiente tomando conta do Plenário”.

Marcello Brito, representante da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, disse que é preciso ter uma convergência entre o aculturamento ambiental da sociedade, a educação ambiental nas escolas e empresas e a renda.  "Não adianta ter consciência ambiental sem ter renda para comprar os produtos mais sustentáveis. Uma pesquisa indicou que os alemães diminuíram o consumo de produtos mais sustentáveis quando a renda caiu.”

Ele avalia que o agronegócio brasileiro, para melhorar sua imagem junto ao mercado externo, precisa se adaptar aos padrões chamados pelos líderes globais de ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança).

Indígenas e ONGs

Na questão sobre as queimadas na Amazônia, os entrevistados podiam escolher mais de um responsável. Além dos madeireiros, agricultores e pecuaristas, os entrevistados culparam garimpeiros (41%) e políticos (34%). Os indígenas, citados entre responsáveis pelo fogo no bioma pelo presidente Jair Bolsonaro, no ano passado, foram apontados apenas por 8% e as organizações não-governamentais (ONGs) por 6% dos pesquisados.

Para o norte-americano Anthony Leiserowitz, diretor do Yale Program on Climate Change Communication, os dados da pesquisa mostram que a mensagem de Bolsonaro não funcionou. O diretor afirmou que os resultados mostram um contraste grande entre a opinião pública brasileira e a americana. “Por exemplo, 92% dos brasileiros entendem que o aquecimento global está acontecendo. Nos Estados Unidos, esse percentual é de apenas 73%. Da mesma forma, 78% dos brasileiros dizem que o aquecimento global é uma questão muito importante, em comparação com apenas 37% dos americanos.”

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Leiserowitz também reconheceu similaridades entre os dois países, principalmente no perfil do público mais preocupado com as mudanças climáticas. No Brasil e nos EUA, os jovens, aqueles que se declaram mais à esquerda no espectro político, com ensino superior, e as mulheres são mais preocupados com as mudanças climáticas, o desmatamento e o meio ambiente do que os entrevistados mais velhos, homens, menos escolarizados e que posicionam como mais de direita politicamente.

Ele destacou como preocupante que brasileiros e americanos vejam o aquecimento global como ameaça maior para as futuras gerações e não para si mesmos e suas famílias. A pesquisa do Ibope mostrou que 88% veem ameaça para as futuras gerações e apenas 72% para a atual geração. “Esperamos que esses resultados sejam úteis para muitos atores no Brasil, como funcionários do governo, líderes empresariais e organizações da sociedade civil", completou.

Fabro Steibel, diretor-executivo do ITS Rio, associação civil sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento de pesquisas e projetos sobre o impacto social, jurídico, cultural e político das tecnologias de informação e comunicação, afirmou que será feito novo levantamento neste ano e também pesquisas qualitativas para avaliar a percepção do brasileiro sobre as mudanças climáticas e o aquecimento global. "Existem pesquisas sobre a percepção de clima, mas elas não têm continuidade. Dando continuidade, poderemos acompanhar se haverá evolução da preocupação".

Essa matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Conheça o projeto aqui.
Source: Rural

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