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(Foto: Giuseppe Bizzarri/FIDA)

 

O começo da vacinação no Brasil trouxe esperança e, ao mesmo tempo, incerteza para quem vive e trabalha nas zonas rurais – 32 milhões de pessoas, segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).

Membro do Conselho Nacional de Saúde, a Contag ainda não teve reunião com o órgão em 2021 para saber como fica a situação do trabalhador rural no horizonte do plano de vacinação nacional.

Mas, Edjane Rodrigues, secretária de Políticas Sociais da Contag, afirma que, assim que a primeira reunião tiver data definida, solicitará a inclusão destes moradores de áreas rurais no grupo de risco, devido à diferença de infraestrutura em saúde em comparação aos municípios urbanos.

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Dados do Censo Agropecuário 2017 do IBGE apontam que o Brasil tem 5.073.324 estabelecimentos agropecuários. Ao todo, 46,5% dos produtores rurais brasileiros têm a partir de 55 anos de idade – que estão próximos ou já ultrapassaram os 60 anos, faixa já prevista para ser imunizada no país.

Segundo o IBGE, há 386.138 pessoas, entre homens e mulheres, com 75 anos ou mais. Estão na faixa etária dos 65 aos 74 anos, 785.629 pessoas. Dos 55 aos 64 anos, o IBGE calcula que são 1.186.702 cidadãos.

Número de estabelecimentos agropecuários por sexo e idade do produtor do Censo Agro 2017 (Foto: Reprodução/IBGE)

 

 

Edjane diz também que há 3.900 municípios brasileiros classificados como urbanos pelo IBGE, mas que deveriam ser considerados rurais pela curta extensão territorial e atividades voltadas ao campo.

“Na urgência para a vacina, a área rural fica fragilizada e é preocupante sua chegada. Não temos expectativa que as 32 milhões de pessoas em zonas rurais sejam vacinadas dentro do primeiro plano de vacinação”, lamenta.

Para ela, por mais que municípios rurais também tenham um centro com melhor infraestrutura, a composição rural atualmente deve dificultar a chegada da imunização. 

“O Brasil tem um dos sistemas de saúde mais bem estruturados do mundo com o Sistema Único de Saúde (SUS), além de institutos como a Fiocruz e o Butantã. O que falta é compromisso político e logística para que a vacina chegue aos locais mais afastados”, reitera.

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Procurado, o Ministério da Saúde não retornou aos contatos da Revista Globo Rural. O Ministério da Agricultura informou que não recebeu qualquer solicitação da pasta da Saúde sobre o mapeamento de zonas rurais no país visando a vacinação.

Comunidades indígenas

Apesar de estar contemplada no grupo de risco, a comunidade indígena também não tem boas expectativas sobre a chegada rápida da vacina. É o que diz Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

Segundo ela, ainda que os indígenas estejam nas primeiras fases de imunização, um dos maiores entraves para a vacinação é que “o governo não concebe atendimento aos povos fora das áreas demarcadas”.

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“Nós não fazemos distinção de quem está dentro ou fora das aldeias, então é uma batalha grande conseguir que o governo assuma essa responsabilidade, independente de localização geográfica e de onde estejam”, reivindica Sonia.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) afirma que o responsável pela vacinação dos povos é o Ministério da Saúde. “A Funai não cuida diretamente da matéria, mas sim a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que possui a competência institucional de coordenar e executar a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e todo o processo de gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS) no SUS”, diz, em nota.

Esse subsistema dá conta de fazer chegar a vacina nas aldeias, seja de barco, carro, transporte aéreo, o que precisa hoje é boa vontade política

Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)

Segundo Sonia Guajajara, a Sesai proporciona uma estrutura de saúde que funciona, embora ainda não seja suficiente. Mesmo assim, o trabalho não unificado entre os órgãos públicos voltados às comunidades indígenas cria barreiras para a chegada da vacina.

“A Funai não consegue fazer um trabalho em parceria com a Sesai e a saúde fica cada vez mais fragilizada. Esse subsistema dá conta de fazer chegar a vacina nas aldeias, seja de barco, carro, transporte aéreo, o que precisa hoje é boa vontade política”, diz Sonia ao lembrar que não basta garantir a vacina, mas também seringas, corpo médico e transporte.

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Questionado sobre a infraestrutura para vacinação dos povos indígenas, o Ministério da Saúde também não respondeu à Revista Globo Rural até a publicação desta reportagem.
Source: Rural

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