Skip to main content

Joe Biden (Foto: Adam Schultz)

 

Declarado abertamente a favor de políticas ambientais, o novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, toma posse do cargo oficialmente nesta quarta-feira (20/1).

Retomada ao multilateralismo, volta ao Acordo de Paris, investimento em políticas de biocombustível e fortalecimento do mercado de carbono são algumas ações que despontam no horizonte, e o agronegócio brasileiro precisará ficar atento às movimentações se quiser manter o nível das exportações.

saiba mais

Bolsonaro enfrentará hostilidade do governo Biden sobre clima e direitos humanos

 

Para o consultor de mercado Carlos Cogo, pronunciamentos isolados sobre desmatamento e Amazônia prejudicam a imagem do Brasil, mas não alteram diretamente o comportamento das vendas externas. No entanto, se Biden unir forças com países como França e Alemanha, o agro nacional pode começar a ver efetivas mudanças para pior.

“Quando se fala de União Europeia e Estados Unidos juntos, pressionando, boicotando as compras, não tem como o agronegócio se descolar disso, dessa má reputação, e é preciso ficar atento”, diz Cogo, ao admitir que não se pode menosprezar o comportamento do presidente Jair Bolsonaro desde o começo da campanha de Biden, criando desconforto com o então candidato.

saiba mais

Bancada ruralista rebate declarações do presidente francês sobre soja no Brasil

 

Alexandre Mendonça de Barros, sócio-consultor da MB Agro, classifica como desafiadora a diplomacia brasileira, seja pelo relacionamento com a França, seja pelo comportamento de Bolsonaro quanto à demora ao reconhecimento de Biden como vencedor das eleições norte-americanas.

É uma tradição brasileira ser comprado, não ter uma política ativa de venda, e as coisas podem ficar mais difíceis agora

Alexandre Mendonça de Barros, sócio-consultor da MB Agro

“Por mais pragmático que seja o presidente americano, não são sinais animadores de um relacionamento aberto”, alerta. Ele ainda diz acreditar em um “certo retrocesso para os produtos agrícolas brasileiros” com o possível isolamento do Brasil no mercado, caso o comportamento da diplomacia brasileira não se altere.

saiba mais

Brasil não faz o suficiente para conter desmatamento ilegal, diz executivo da Natura

 

“A ministra [da Agricultura, Tereza Cristina] tem leitura de proatividade, mas não há o mesmo apoio do nosso chanceler [Ernesto Araújo]. É uma tradição brasileira ser comprado, não ter uma política ativa de venda, e as coisas podem ficar mais difíceis agora”, avalia Barros. 

Energia limpa

 

 

Ele [Biden] vai levar a pauta de mudanças climáticas para o centro das políticas agrícolas nos Estados Unidos

Olympio Barbanti, professor de Relações Internacionais da UFABC

O retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris é uma movimentação já anunciada por Biden. Para Olympio Barbanti, professor de Relações Internacionais da UFABC, esta é uma questão a ser tratada como segurança nacional pelo governo norte-americano, à medida que as mudanças climáticas tendem a aumentar conflitos mundiais, custos depois da destruição de territórios e até a interferir na capacidade militar dos países agirem.

“O Brasil pode esperar que essa questão suba de patamar político e econômico nos Estados Unidos e o governo Biden vai colocar uma ligação muito clara com a agricultura. Ele vai levar a pauta de mudanças climáticas para o centro das políticas agrícolas nos Estados Unidos”, projeta Barbanti.

saiba mais

Fim do subsídio eleva demanda por energia elétrica sustentável

 

Também no guarda-chuva do Acordo de Paris, está o reforço para políticas de energia limpa, segundo o professor da UFABC. Para ele, a perspectiva é de que o novo presidente deva se articular para criar vantagem competitiva a partir da junção de tecnologia, novas energias e a própria agricultura.

“Para fazer isso, ele vai ter que utilizar energia limpa na agricultura, o que claramente será solar e eólica, além de talvez reforçar o etanol de celulose, estudado desde a época de Bush”, sugere, ao adicionar a integração lavoura-pecuária-floresta como mecanismo para produção sustentável no mercado doméstico.

Barbanti ainda menciona que a lógica do governo dos Estados Unidos será diminuir os próprios custos e aumentar os da concorrência. Para isso, poderá haver a exposição do conceito de “dumping ambiental", em que os preços brasileiros se tornam atrativos às custas do meio ambiente.

saiba mais

China lançará sistema nacional de comércio de emissões de carbono em Xangai

 

Mercado de carbono

Segundo Barbanti, o plano de governo de Biden menciona o carbon banking [banco de carbono], que pode se tornar uma ameaça ao Brasil, à medida que ainda não tem uma regulamentação bem estipulada apesar de ser um potencial provedor de carbono.

Para Carlos Cogo, a descarbonização da agricultura norte-americana pode ser vista como oportunidade. “De certa forma, para o Brasil, pode ser bom para o mercado de CBios [créditos de descarbonização], para ganhar mais fortalecimento de títulos verdes”, sugere o consultor.

saiba mais

Pesquisadores fazem expedição para medir carbono armazenado na Amazônia

 

Assim como no Brasil, o mercado de carbono nos Estados Unidos pode ser uma opção para pagamento por serviços ambientais, além de também ser uma forma de Biden atrair a confiança de produtores agrícolas que votaram em Trump. “Num primeiro momento, essa fonte de renda pode ser o chamariz para a entrada de Biden nos Estados interioranos”, sugere o professor da UFABC.

China

No mapa das relações exteriores, também entra o componente China, cuja relação deve ficar “menos tempestiva” nas palavras do Alexandre Mendonça de Barros, sócio-consultor da MB Agro. Ainda assim, para ele, os EUA veem a China como inimigo na liderança mundial, e, ao mesmo tempo, o país asiático aprendeu que não vai depender do alimento americano a médio prazo.

Carlos Cogo vai na mesma linha, destacando que o acordo com a China deve se manter, mas num tom de mais diálogo e menos guerra comercial. “O conceito de ‘América em primeiro lugar’ deve ser mantido. Eles vão jogar duro, mas de maneira mais diplomática”, pondera.

saiba mais

Importações de milho e trigo pela China fecharam 2020 em nível recorde

 

O consultor ainda lembra que os Estados Unidos já tiveram participação mais relevante para as exportações do Brasil, mas em 2020 as vendas externas para o país fecharam em 7%, enquanto a China foi responsável por 34% dos negócios.

Por isso, novamente, afirma, é importante o Brasil tomar cuidado com as relações diplomáticas, inclusive para evitar barreiras comerciais.

saiba mais

China bateu recorde de importação de carnes e soja em 2020

 
Source: Rural

Leave a Reply