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(Foto: Agustin Marcarian/Reuters)

 

Os agricultores argentinos foram surpreendidos, nesta quarta-feira (30/12), com a decisão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Pesca de suspender temporariamente o registro de Declaração Juramentada de Venda ao Exterior (DJVE) para o milho e derivados cuja data de início do embarque seja anterior ao dia 1º de março de 2021, quando começa formalmente a nova safra do cereal 2020/2021. O milho pipoca é o único produto que fica fora da resolução.

A suspensão de embarques de produtos agrícolas é a notícia que todos os produtores temem desde o dia 10 de dezembro de 2019, quando assumiu o presidente Alberto Fernández e sua vice, a ex-presidente Cristina Kirchner. O temor é baseado nas práticas intervencionistas implementadas durante os dois mandatos de Kirchner (2007 a 2015) pelo então secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno.

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A decisão de suspender as exportações de milho foi feita na contramão da dinâmica do mercado agrícola. Até o momento, foi autorizada a exportação de 34,23 milhões de toneladas de milho de um total exportável estimado em 38,50 milhões de toneladas, ou seja, 89% dele já foi embarcado.

“O objetivo da medida é que as restantes 4,27 milhões de toneladas fiquem disponíveis para consumo interno, de forma a garantir o abastecimento durante os meses de verão, quando o abastecimento do cereal tende a ser escasso”, disse a nota oficial.

Isso implica que os exportadores seriam obrigados a vender "toneladas de milho velho” no mercado interno, já que não terão autorização para exportá-lo. Durante o governo Kirchner, o argumento para justificar a medida era que, com a venda feita pelos exportadores, os preços internos do milho cairiam e os produtores que ainda têm o cereal em mãos venderiam rapidamente.

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Com a suposta queda do preço do milho, também retrocederiam os preços das rações para os criadores de aves e suínos, produtores de leite e confinadores de bovinos. Esta lógica não funcionou naqueles anos e, segundo afirmam os produtores, não funcionaria agora porque os que ainda têm estoque de milho da safra anterior podem reter sua produção até março.

Fonte da Sociedade Rural Argentina explicou à Revista Globo Rural que, por questões climáticas, a  semeadura precoce do milho deste ano foi muito escassa – a colheita começa em março – e a previsão é de baixa oferta no início do próximo ano.  A maior parte da oferta do cereal em 2021 é produto da semeadura chamada tardia, que é colhida no meio do ano.

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A suspensão das exportações não deve gerar impacto significativo no mercado disponível, mas envia uma mensagem negativa para o produtor, na avaliação do analista Salvador Di Stefano. Segundo ele, a medida aumenta a desconfiança do produtor, que já vinha cabisbaixo com os aumentos de retenções.

“O produtor fará de tudo para não vender”, disse ele. A mensagem também é que, se o governo decidiu pela intervenção do milho “velho”, também estaria disposto a fazer o mesmo com o milho “novo” e com o trigo se considerar que este é o “melhor caminho” para preservar a mesa dos argentinos, como argumentavam Moreno e Cristina.

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Di Stefano disse ainda que a medida confirma os sinais de que os produtores têm de se proteger contra o avanço intervencionista do governo.

Em nota oficial , o governo argumenta que essa decisão se baseia na necessidade de garantir o abastecimento de grãos para os setores que os utilizam como matéria-prima em seus processos de transformação, basicamente a produção de proteína animal como carne suína, de frango, ovos, leite e confinamento, onde o cereal representa um componente significativo de seus custos de produção.

“Eventualmente e a depender da evolução da oferta e da demanda, bem como das perspectivas para a safra de milho 2020/2021, esta carteira avaliará a reabertura do cadastro”, concluiu a nota.
Source: Rural

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