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(Foto: Gettyimages)

 

Desde o século passado, vários biólogos e médicos comentam sobre o baixo valor nutritivo da comida principal da população nordestina e do norte do país. Isto resulta em malformação dos recém-nascidos, de fibras de tecidos vitais como o fígado e pulmões, e até afeta o cérebro. A comida no nordeste é constituída principalmente pela mandioca, que fornece mais de 80% das calorias do indivíduo diariamente.

Em seu livro Geografia da Fome, que teve muito respaldo nos ciclos mundiais, o pernambucano Josué de Castro apontou claramente o problema e atribuiu a deficiência nutritiva à falta de proteína. Ele sugeriu juntar a mandioca e uma comida protêica – como feijão – para compensar a falta da proteína na mandioca. 

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Há ainda mais de 20 milhões de crianças pobres no Nordeste, Norte e Centro-Oeste que têm na merenda escolar um papel essencial na sua alimentação e seu crescimento sadio para serem futuros cidadãos. É dever do Estado não somente fornecer, mas garantir qualidade para esse crescimento saudável. Ao mesmo tempo, a merenda deve ser economicamente disponível no alcance de orçamento dos respectivos governos estaduais.

Em plano da nossa fundação filantrópica, aproveitamos nossos conhecimentos científicos e resultados de pesquisa sobre essa cultura alimentícia para atender necessidades de uma comida barata e balanceada tanto para o cidadão comum como para crianças na fase de iniciação escolar.

Em sua constituição química, a mandioca tem proteína que não ultrapassa 2% comparado ao 7% do trigo, arroz e milho. Nossa pesquisa mostrou que suas folhas possuem até 32% de proteína. As folhas constituem 20% do peso total da planta enquanto as raízes comestíveis somam 30% .

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Se misturamos farinha da folha com farinha de raízes na proporção de 20% das folhas podemos aumentar o conteúdo proteico da mistura em até 8%, isto é, pouco mais de que trigo e arroz e milho. Assim, enriquecemos o valor nutritivo da farinha. 

Isso é o que nossa fundação filantrópica vem realizando no estado amazônico do Mato Grosso, com recursos próprios, e esperamos que o governo federal aprecie a ideia e estenda a todo o Brasil.

Nosso caminho de execução é aproveitar a merenda escolar para garantir às crianças pobres crescimento sadio com uma refeição equilibrada pela proteína. Não há perigo de fibrose de seus tecidos ou defeito nas capacidades mentais.

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A atenção nacional ao assunto não é só importante para cobrir uma área geograficamente maior, mas também para divulgar uma técnica e um método inovador para enriquecer uma comida popular.

Em seu clássico Geografia da Fome, quando o pernambucano Josué de Castro apontou o problema de falta de proteína na comida nordestina baseada principalmente sobre mandioca, ele não imaginou que encontramos nas folhas da planta proteína abundante.

Além de comida balanceada fornecemos ainda à região amazônica e nordestina variedades melhoradas com tripla produtividade. 

O aumento da produtividade de uma cultura alimentícia como a mandioca deve ser prioridade máxima da nosso país em qualquer plano para combate a malnutrição

 

Todas as pesquisas referem a potencialidade genética de aumento da cultura de até sete vezes em relação à média atual (120 toneladas por hectare contra 14 toneladas por hectare, que é média nacional).

Há variedades que podem produzir sob certas condições até 50 toneladas por hectare, mas a produção cai drasticamente com mudança de meio ambiente e condições especificas favoráveis.

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Dentro de uma boa estratégia alimentar, deve ser aproveitada não somente a potencialidade genética da cultura, mas seus recursos genéticos e sua alta biodiversidade. Como foi usada a folha para balanço alimentício, a biodiversidade fornece genotipos capazes de serem plantados em severas condições onde não há outra cultura capaz de crescer, como o plantio em áreas semiáridas no próprio nordeste.

A alta variabilidade genética da cultura no Brasil permitiu desenvolver variedades com raízes de conteúdo até oito vezes de betacaroteno do que comum, e outras com dobro de proteína, e permitiu até modificar seu modo de propagação.

*Nagib Nassar é professor emérito da UnB e emérito do CNPq, bem como presidente da fundação filantrópica Funagib

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam necessariamente o posicionamento editorial da revista Globo Rural.
Source: Rural

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