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Osvalinda Marcelino Alves Pereira, ativista dos direitos humanos, é a primeira brasileira a receber a prestigiosa premiação sueca(Foto: Arquivo Pessoal)

 

Símbolo da luta pelos direitos humanos e pela defesa da Floresta Amazônica no Pará, a trabalhadora rural e líder comunitária Osvalinda Marcelino Alves Pereira tornou-se a primeira brasileira a receber o prestigiado Prêmio Edelstam, na Suécia. A cerimônia de entrega ocorreu nesta terça-feira (24/11), online, com a participação do primeiro-ministro sueco, Stefan Löfven, e da Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet.

"A corajosa atuação da Sra. Osvalinda, denunciando a extração ilegal de madeira na Amazônia apesar das constantes ameaças e defendendo suas convicções em tempos em que se exige justiça, é um exemplo importante da resiliência necessária para proteger e defender o meio ambiente. O Brasil assinou o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas e se comprometeu a eliminar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. Entretanto, as autoridades têm falhado em implementar e fiscalizar suas leis ambientais na Amazônia", diz Caroline Edelstam, presidente do júri do Prêmio Edelstam.

Ao receber o telefonema de Estocolmo com a notícia da premiação, Osvalinda disse, em entrevista por telefone à correspondente da RFI na Suécia, Cláudia Walim, que sentiu o chão sair debaixo de seus pés.

 

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"É a primeira vez que eu ganho um prêmio, e isso para mim caiu do céu. Eu, meu marido e minha família sentimos que nós não estamos sozinhos no meio da floresta amazônica. Tem pessoas olhando pela gente. Nós somos os guardiões da floresta aqui, mas temos guardiões que olham por nós lá fora. E isso é muito gratificante", disse Osvalinda.

A trabalhadora rural disse ainda que precisou que “explicassem direito” pra ela do que se tratava o prêmio, porque não acreditava na notícia que acabara de receber.

Osvalinda aproveitou para enviar uma mensagem ao presidente Jair Bolsonaro sobre a problemática que envolve a floresta Amazônia. "Meu recado para o governo Bolsonaro, nesse momento, é que mesmo que ele não nos enxergue aqui, e que ache que defensores da floresta são bandidos que têm que morrer, há pessoas lá fora que olham por nós. E que ele reflita um pouco, pois nós não queremos destruir o mundo, queremos construir um mundo melhor. Só queremos respirar melhor, e que a floresta permaneça de pé. E não queimar tudo, desmatar tudo e virar pasto", declarou.

Sob constante ameaça de morte há quase uma década, Osvalinda Marcelino Alves Pereira integra a liderança do Projeto de Assentamento Areia, em Trairão, a cerca de 900 quilômetros de Belém do Pará – uma área destinada à reforma agrária e disputada por madeireiros e fazendeiros. Osvalinda é também a presidente da Associação de Mulheres do assentamento Areia, fundada por ela para desenvolver agricultura orgânica sustentável e o reflorestamento de áreas devastadas pela extração de madeira.

Premiação e coragem

Concedido a personalidades e instituições por contribuições excepcionais e de grande coragem na defesa dos direitos humanos, o prêmio foi instituído em memória do diplomata e embaixador sueco Harald Edelstam (1913-1989). A coragem civil é um critério central na escolha de um candidato vencedor.

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E coragem não falta na vencedora do premio deste ano. Desde 2012, Osvalinda Alves Pereira e seu marido, Daniel Alves Pereira, têm recebido inúmeras ameaças de mineradores ilegais e fazendeiros. Por mais de 18 meses, eles estiveram escondidos com o apoio do Programa Federal de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, Jornalistas e Ambientalistas. No entanto, de volta ao Pará, a família sente que, mesmo que a segurança não seja forte o suficiente, precisam con tinuar seu trabalho.

"Defender a Floresta Amazônica tornou-se muito perigoso, pois redes criminosas de extração de madeira empregam homens armados para proteger suas atividades ilegais, além de intimidar e matar aqueles que obstruem suas atividades", destacou o júri do Prêmio Edelstam.

O júri ainda ressaltou: "Osvalinda Marcelino Alves Pereira tem se posicionado destemidamente contra as redes criminosas no seu trabalho de defender a Floresta Amazônica, aderindo assim ao compromisso da sociedade civil brasileira de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e de contribuir na mitigação do aquecimento global”.
Source: Rural

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