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(Foto: Rogério Albuquerque/Ed. Globo)

 

A Ernest Young (EY) acaba de ganhar um reforço de peso para os setores agro e florestal. A administradora paulista Daniela Sampaio, 47 anos, é a nova sócia da consultoria, que já faz auditoria, mapeamento de riscos, serviços financeiros e de transformação de negócios. Para os próximos anos, a EY planeja aumentar o time e criar soluções específicas para essas indústrias a céu aberto.

“O agronegócio está passando por uma transformação digital. Talvez uma das mudanças digitais das mais rápidas que estamos vendo”, diz Daniela. “O número de startups, de tecnologias agregadas, serviços de inteligência e sensoriamento é enorme. E a EY é muito boa nisso, o que me fez aceitar o convite para participar da implementação desta transformação”, acrescenta.

Com 25 anos de experiência profissional, Daniela acompanhou boa parte da evolução que tornou o agro brasileiro um negócio global. “Os produtores brasileiros fornecem alimentos para o mundo inteiro e são produtores globais”, diz. E a digitalização no campo tem atraído os jovens, que são cada vez mais gabaritados. “É o momento adequado para o agronegócio falar de sucessão, trabalhar a governança, a gestão, aceitar a nova geração, conviver melhor entre os sócios e capturar os benefícios da transformação digital”, explica.

Embora tenha nascido em Jaú, no interior paulista, Daniela foi ter seu primeiro contato com o agronegócio na vida profissional. Ela ingressou no mercado de trabalho em 1995 como trainee da consultoria Pricewaterhouse Coopers (PwC) na capital paulista. Nesta primeira casa, permaneceu por nove anos e participou de projetos de longa duração no agronegócio, setor que a partir de 2000 ganhou relevância na economia nacional, impulsionado pelo boom das commodities, puxado pela demanda de países emergentes como a China. “Na época, as usinas começaram seu processo de profissionalização e troca de sistemas integrados, um dos projetos foi na usina São Martinho”, diz a consultora.

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Mas o segmento sucroenergético não foi o único. Ela também atuou na cadeia leiteira e no setor florestal. Em 2001, a Suzano comprou a Bahia Sul, empresa de papel e celulose que pertencia à Vale, e Daniela fez o projeto para a integração das duas companhias.

Ano após ano, a administradora ia galgando degraus na sua carreira profissional, assumindo gerência de trabalhos cada vez mais complexos e sendo convidada para projetos em outros estados e até fora do país. Mas a agenda frenética de viagens de uma consultoria não estava em harmonia com sua fase de vida: casada e mãe de dois filhos pequenos. “Eu estava preocupada, porque queria manter uma proximidade com meus filhos”, diz ela.

Bem naquele momento, surgiu uma oportunidade na Suzano e ela foi integrar a área de planejamento estratégico corporativo da empresa. Após a fusão com a Bahia Sul, a companhia passou a ter uma competitividade diferenciada e começou a buscar projetos para ganhar mais musculatura.

“Comecei a trabalhar estruturando como as análises de crescimento deveriam ser feitas. Priorização de projetos, alinhamento de projetos florestais com industriais”, diz a administradora. O foco no trabalho deu a Daniela a liderança da área de estratégia corporativa da Suzano. “Minha função era trabalhar junto com as áreas para saber os possíveis projetos de crescimento e escolher quais eram os mais atrativos, quais deveríamos abrir mão e indicar para a gestão tomar decisão”, explica.

Profissionalização do agro

Após uma passagem rápida pela petroquímica Braskem, Daniela foi para o Rabobank, banco holandês referência em agro, que tem em sua estrutura uma consultoria para ajudar sua clientela, tanto produtores como empresas e cooperativas do setor. Administradora com MBA em gestão financeira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Daniela foi convidada, em 2014, para liderar esta área.

Trabalhou com grandes agricultores e pecuaristas do Brasil, atuantes em regiões já consolidadas do agro e em novas fronteiras agrícolas. Eles estavam investindo em expansão de áreas, em maquinários, tecnologias e inovação para aumentar a produtividade, mas não tinham dedicado tempo para adequar o setor administrativo financeiro.

“Minha área no Rabobank ajudava estes produtores a equilibrar a profissionalização e o tamanho da área administrativa com a complexidade do negócio, além de trabalhar com os sócios para que regras de governança fossem implementadas na empresa, desde sucessão [familiar], quem pode ou não trabalhar na família, como tomar decisões, que nível de responsabilidades estes sócios deveriam ter”, explica.

Naquele momento, o processo de profissionalização foi muito célere. “Eu me lembrei do início da minha carreira, quando isso aconteceu com empresas de papel e celulose e usinas de cana-de-açúcar. O agro, falando do segmento de grãos, começou mais tarde, mas está passando por este processo rapidamente”, diz.

“A vantagem é que as metodologias já estão confirmadas, existem formas de acelerar a adoção desta governança e gestão no agro”, complementa. Nas cooperativas não foi muito diferente. “Temos mais de dez cooperativas no Brasil que faturam acima de R$ 3 bilhões ano. São organizações que estão passando por uma reestruturação tanto de governança, quanto de planejamento estratégico”, diz.

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Pedras no caminho

Atuando em um setor dominado pela presença masculina, Daniela enfrentou discriminações ora escancaradas, ora veladas. Em uma das ocasiões, ela estava na PwC e foi alocada num projeto agro. O pessoal da empresa contratante disse que não queria consultoras mulheres. “Era uma questão de preconceito, de achar que mulheres não exerceriam bem aquela função. Mas a PwC deu todo apoio, disse a eles que escolheria os consultores mais qualificados para desenvolver o projeto e que, se tivessem algum problema com o trabalho, era para procurar a diretoria da consultoria”, explica.

No final daquela empreitada, sentiu-se orgulhosa. “Fiz um excelente trabalho e tenho certeza que a minha atuação ajudou a mudar a visão da empresa de que uma mulher não teria uma performance igual ou melhor que a de consultor homem”, diz. No período de Rabobank, a função de Daniela era orientar o crescimento e, às vezes, dar notícias ruins dependendo da situação econômica do país. “Lembro de dois produtores que tinham restrição em ouvir conselhos pelo fato de eu ser mulher e estar dando orientações sobre o negócio”, recorda.

Mas a boa notícia, acredita Daniela, é que os homens mais jovens do agro são abertos. E as mulheres estão tomando as rédeas de suas carreiras. “Hoje, têm muitas mulheres agrônomas, muitas na área financeira tomando decisões de comercialização, muitas em cargo de liderança”, diz Daniela. “Muitas, mas nem todas. Algumas estão ligadas ao modelo que foram criadas para não assumir o protagonismo. Mas vejo ações no agro, grupo de mulheres e associações, que têm ajudado estas mulheres a agarrarem o que é delas”, finaliza.
Source: Rural

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