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(Foto: Thinkstock)

 

Com o avanço da colheita de trigo no Paraná e Rio Grande do Sul, muitos produtores têm contabilizado prejuízo por conta das geadas em agosto, início do plantio, e a seca nos meses seguintes.

Por isso, analistas já revisam para baixo a expectativa da safra brasileira do cereal de inverno e acreditam em preços firmes, mesmo com a entrada do produto no mercado prevista para os próximos meses.

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“No Paraná, houve uma seca prolongada, o que atrapalhou muito. Já na parte mais sul do país, foram as chuvas e as geadas durante o desenvolvimento vegetativo. Todos os fatores contribuíram e o trigo é muito sensível a variações climáticas”, explica o analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, Lucilio Alves.

Devido ao tempo seco nas últimas semanas, a colheita atingiu 84% nas lavouras do Paraná, o que ajuda a garantir a qualidade dos grãos em fase de maturação, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do Estado.

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“O volume já colhido (84% da produção) tem apresentado aptidão para panificação, salvo algumas áreas pontuais danificadas pelas geadas. Os relatos de campo projetam que as últimas áreas a serem colhidas devem ser as melhores do Estado, tanto em qualidade quanto em produtividade”, afirmou o Deral, em boletim divulgado na última sexta-feira (23/10).

No entanto, a falta de chuvas prejudicou o enchimento dos grãos em diversas propriedades nos meses anteriores. Por isso, a expectativa é para uma safra acima de 3 milhões de toneladas, redução de 660 mil (18%) ante a projeção inicial, de 3,66 milhões de toneladas. Uma atualização da estimativa para o Paraná, responsável pela produção de 48% do trigo brasileiro, está prevista para ser divulgadas na próxima quinta-feira (29/10).

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No Rio Grande do Sul, a Emater-RS afirmou que a colheita evoluiu de 18% para 31% na semana passada. Mas Rogério Mazzardo, extensionista e diretor técnico interino do órgão, acredita que a colheita está próxima de 35%, com a produtividade em queda. “São lavouras que têm uma variação muito grande de produtividade e podem chegar a uma redução de, na média, entre 40% a 45%”, diz.

Entretanto, ele acrescenta que o impacto com as intempéries não foi uniforme: os municípios mais à oeste, como Santa Rosa, Bagé e Frederico Westphalen, foram afetados de forma mais severa pelos efeitos da geada, pois estão em lugares de baixo relevo. Por outro lado, os prejuízos foram mais brandos em regiões de topografia mais alta.

“Essas regiões (da fronteira oeste) estão com a maior intensidade na colheita, e aí é possível mensurar as perdas. Outras ainda estão em processo de maturação, que deve ser acelerada pela falta de precipitação no Estado”, afirmou Mazzardo.

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Mercado em alerta

No mercado interno, o auxílio emergencial concedido pelo governo federal para amenizar os impactos econômicos da pandemia influenciou para o maior consumo de farinhas, pães, massas e bolos ao longo do ano, que têm o trigo como matéria-prima. Esse movimento levou os produtores gaúchos a aumentarem em 20% a área plantada, para 915,7 mil hectares.

No início da safra, a Emater-RS estimava a produção do cereal no Rio Grande do Sul, Estado responsável por 40% do volume produzido no Brasil, em 2,18 milhões de toneladas, recuo de 4,2% em relação ao ano anterior. O órgão não fará uma nova projeção até que toda a produção seja colhida, em dezembro. Mas o mercado entende que haverá uma retração.

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“No Rio Grande do Sul, teve chuva em excesso, geada e seca. Os trigos plantados primeiro foram os que mais sofreram. Realmente, podemos perceber a seca e um período de chuvas. Aquele rendimento melhor está abaixo do esperado. A qualidade é boa, mas houve redução na produtividade”, afirma Walter Von Muhlen Filho, analista da Serra Morena, corretora especializada em commodities agrícolas.

Na Serra Morena, a projeção inicial para o Rio Grande do Sul, de 2,7 milhões de toneladas passou para 2 milhões. No Paraná, a avaliação ao final da colheita era de 3,7 milhões de toneladas, e, agora, deve ficar próximo a 3 milhões – perda de 1,4 milhão de toneladas (21,8%) nos dois Estados que, juntos, concentram quase 90% da produção.

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Quebra na Argentina

 

Responsável pelo fornecimento de 60% do trigo brasileiro, os produtores argentinos vêm sendo igualmente afetados pelas geadas. Por isso, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires revisou para baixo a previsão para a produção em 700 mil toneladas, para o total de 16,8 milhões. Em 2019/2020, o país produziu 18,8 milhões de toneladas.

“Esta nova projeção é suportada em grande parte devido ao cenário favorável ao sul da área agrícola. Enquanto isso, na faixa central, as chuvas registradas nos dias anteriores não geraram mudanças importantes nas expectativas de colheita devido ao desenvolvimento avançado da cultura”, aponta o relatório da bolsa argentina, divulgado na última semana.

Para Walter Von Muhlen Filho, da Serra Morena, “a Argentina plantou para colher acima de 21 milhões de toneladas, mas, com o clima, deve colher abaixo de 17 milhões de toneladas”. “O Paraguai, que está ao lado do RS e da Argentina, tinha expectativa de produzir 1,4 milhão de toneladas. Agora, fala em 1 milhão. Vai ser um período complicado em termos de originação.”

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Segundo indicador do Cepea para a região do Paraná, o preço pago pelos moinhos junto às cooperativas pela tonelada do trigo pão saltou de R$ 909,98 em janeiro para R$ 1.158 em setembro, acréscimo de 27,3%. Em dólar, houve queda nos preços, de US$ 218,98 para US$ 214,59 pela tonelada.

No entanto, com o avanço da cotação para US$ 235,90 pela tonelada na parcial de outubro, até a última sexta-feira (23/10), o preço no mercado doméstico passou para R$ 1.327,66, aumento de 45,8% em relação à média registrada no primeiro mês do ano.

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Para Lucilio Alves, do Cepea, a forte desvalorização do real – que estava em torno de R$ 4,30 em janeiro e agora gira por volta de R$ 5,50 – e a quebra da produção argentina são preponderantes para a manutenção da cotação elevada do cereal.

“A Argentina também sofreu com as condições climáticas no país e está reduzindo a oferta e o excedente para a exportação. Então, o preço certamente sobe. E, além disso, a taxa de câmbio está muito alta no Brasil, sendo que o real foi a moeda que mais desvalorizou entre as grandes economias mundiais”, afirma.
Source: Rural

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