(Foto: Ernesto de Souza/ Editora Globo)
A isenção de tarifa de importação de soja, milho e derivados de países de fora do Mercosul deve ajudar a conter a alta dos preços desses produtos pelo menos até a entrada da próxima safra no mercado, avalia a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que representa as processadors de grãos. O Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão do governo federal, anunciou a retirada da cobrança de 8% sobre os grãos na última sexta-feira (16/10).
"Os elevados preços da soja aumentaram os preços dos seus processados, pressionando os custos da indústria de proteína animal, do óleo comestível e do biodiesel. Cerca de 35% da soja brasileira é industrializada no Brasil, produzindo farelo proteico e óleo vegetal", afirmou, por meio de nota, a Abiove.
Segundo a entidade, por conta da pandemia mundial do coronavírus, "o comportamento do mercado foi atípico" em 2020, o que levou importadores da soja brasileira a se anteciparem e comprarem volume acima do esperado. “Além disso, variáveis macroeconômicas, tais como taxa de câmbio desvalorizada e elevação do preço em dólar da soja no mercado internacional, também estimularam exportações antecipadas, reduzindo a disponibilidade de soja no período de entressafra", pontuou.
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Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP mostram que a média da cotação do cereal, com base em Campinas (SP), saiu de R$ 51,07 pela saca de 60 quilos em janeiro para R$ 60,06 em setembro, valorização de 17,6%. Nesta segunda-feira (19/10), porém, a saca estava avaliada em R$ 71,49, avanço de 12,35% na parcial de outubro e de 40% em relação à média de janeiro.
No caso da soja, a saca de 60 quilos em Paranaguá (PR) passou de uma média de R$ 82,60 no primeiro mês do ano para R$ 136,72 no último mês, aumento de 65,5%. Mas, ao final desta segunda-feira, a oleaginosa não dava sinais de recuo e encerrou o dia cotada a R$ 157,91, alta de 6,61% na parcial de outubro e de 91,7% sobre a média de janeiro.
"Faltam informações"
Entidade que representa a cadeia produtiva de aves e suínos, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) foi quem pediu ao governo federal a revogação temporária dos impostos, no final de agosto. Para o presidente da ABPA, Ricardo Santin, a medida, que vale até 15 de janeiro de 2021 para a soja e 31 de março para o milho, tem o objetivo de dar uma alternativa para o fornecimento de insumos na produção de carnes.
“A gente sabe que não falta milho no mercado, mas falta disponibilidade e o milho é um cereal estratégico. Em alguns casos, os movimentos (de elevação nos preços) estão fora da realidade dos custos de produção e, inevitavelmente, isso acaba repassado para o consumidor”, disse Santin.
De acordo a ABPA, o milho responde por cerca de 70% dos custos de produção da ração animal de aves e suínos, que utilizam também o farelo de soja. Por isso, empresas do Espírito Santo, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Sul já fazem estudos para avaliar a compra do grão de fora do bloco sul-americano.
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"Em 2016, foi retirada a tarifa, mas acabou vindo grãos do Paraguai e da Argentina. Agora tem a grande possibilidade de milho dos Estados Unidos", frisou Santin. "Você vai buscar milho na Ucrânia? Não sei, vamos fazer a conta, que não é só financeira, mas também de oportunidade."
O presidente da ABPA reconhece que é preciso antecipar as compras, mas diz que faltam informações de mercado. “As nossas empresas estão buscando antecipar. Mas a gente precisa de informação transparente. As pessoas querem uma antecipação nas compras sem informação do tamanho do mercado. Se eu tivesse conhecimento da quantidade da exportação de soja para a safra 2021/2022, poderia tomar uma decisão”, frisou.
Para Santin, um banco de dados do governo federal sobre a compra e venda das commodities agrícolas pode contribuir para evitar especulações. “Nós compramos dois insumos que são importantes para a produção de carne no Brasil e, o que a gente não quer, é se adiantar na compra com base em boato. Para isso, precisamos de informação, como nos Estados Unidos, onde as tradings informam uma grande compra”, finalizou.
Source: Rural