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Oferta mundial de arroz deve ser maior, mas Brasil ainda vê riscos para aumento expressivo de área plantada com o grão na safra 2020/2021 (Foto: Paulo Rossi/Ed. Globo)

 

Embora os preços elevados do arroz no mercado interno incentivem o aumento da área plantada na temporada 2020/2021, a indisponibilidade hídrica no Rio Grande do Sul, principal produtor nacional, e a necessidade de manutenção do equilíbrio entre oferta e demanda são fatores a serem considerados pelos produtores. Isso porque, em caso da expansão da área, os agricultores podem conviver com o risco de quebra de safra em meio à falta de chuvas e cotações inferiores às registradas em 2020, mesmo com custos elevados de produção.

“Nós trabalhamos com aumento pequeno de área plantada, em torno de 6%, seja pelos aprendizados do passado, seja por conta do preço da soja. Em algumas regiões, os produtores plantam as duas culturas, e esse preço elevado, no caso da soja, também incentiva a sua produção”, explica Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).

A média de preços para a saca de 50 quilos do grão em casca no Rio Grande do Sul saiu de R$ 49,60 no mês de janeiro para R$ 104,39 em setembro, acréscimo de 110,4%, de acordo com dados do Cepea, da Esalq/USP. Na quarta-feira (14/10), o indicador da instituição chegou a R$ 106,04, acumulando uma alta no mês de 1,68%.

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Ao mencionar temporadas anteriores, o economista da Farsul lembra que, após preços atrativos em 2010, as cotações despencaram em 2011. Situação semelhante ocorreu entre 2016 e 2017, justamente por conta da elevação abrupta da oferta de arroz no mercado de um ano para o outro. Desta vez, o clima pode ser um entrave para o aumento da produção.

“Pela escassez de chuvas, nós estamos abaixo do mínimo necessário para aumentar a área. O risco é o produtor plantar mais do que ele tem d’água na expectativa de que vá chover. A gente já viu isso acontecer, mas nós não trabalhamos com essa possibilidade”, disse.

No primeiro levantamento para a safra de grãos em 2020/2021, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou uma queda de 2,7% da produção nacional, para 10,9 milhões de toneladas, mesmo com a projeção de aumento de 1,6% na área plantada, para 1,6 mil hectares. "O plantio de arroz no país ainda se encontra em fase inicial. Agora, é preciso avaliar a evolução da semeadura para a concretização do número de área plantada", pontuou a estatal, que prevê 100% da área semeada em dezembro.

Preço maior

Com o consumo interno avaliado em 10,8 milhões de toneladas para 2020/2021 – mesmo patamar de 2019/2020 -, a Conab entende que “não haverá uma forte reversão de preços e, com isso, dificilmente o Brasil manterá sua posição superavitária na balança comercial do arroz.”

De acordo com dados da Companhia, a safra plantada no segundo semestre de 2019 e colhida a partir de fevereiro deste ano registrou aumento do consumo interno em 522 mil toneladas do grão, enquanto exportações subiram 140 mil toneladas.

O resultado da menor oferta em meio à alta demanda dos consumidores durante a pandemia do coronavírus é a maior pressão inflacionária. Na última semana, o IBGE informou que o preço do arroz medido pelo IPCA registrou alta de 17,98% em setembro, atrás apenas do óleo de soja, que teve avanço de 27,54%. Em 2020, o grão já soma um aumento acumulado de 40,96%.

Atento ao movimento de alta nas cotações nos últimos meses, o governo brasileiro anunciou em setembro a suspensão da Tarifa Externa Comum (TEC) de 400 mil toneladas para fora dos países do Mercosul.

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Estimativas de mercado, no entanto, apontam não apenas para aumento da área plantada superior ao previsto pela Conab, como também para produção maior. A Cogo Inteligência em Agronegócio avalia que a semeadura crescerá 6%, para 1,77 milhão de hectares, enquanto a expansão da produção é projetada em 5,7%, para 11,8 milhões de toneladas – o que, ainda assim, mantém a oferta apertada.

“O Rio Grande do Sul apresenta melhores condições de umidade do solo, o que favorece o plantio das lavouras da safra de verão 2020/2021”, diz a consultoria. “Porém, permanece a dificuldade para recuperação plena dos reservatórios (rios, açudes e barragens) para as lavouras de arroz das regiões da Campanha e Fronteira Oeste do estado”, informa.

De acordo com boletim do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA) divulgado na última semana, o Estado atingiu 25,12% da área semeadura prevista para a produção de arroz, 243,4 mil de 969 mil hectares. “Das seis regionais arrozeiras, a Fronteira Oeste é a mais adiantada até o momento, com 41,84% (121,2 mil de 289 mil hectares)”, afirmou.

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Apesar do preço pago pela indústria se encontrar em patamar elevado, Antonio da Luz, da Farsul, alerta para o fato de que como 55% da produção já havia sido vendida até maio, a média de preços para a saca de arroz em 2020 variou entre R$ 48 a R$ 55. Segundo o economista, dependendo da conjuntura no próximo ano, essa média pode passar para R$ 70. "Esse é um cenário em que os produtores mantêm ou aumentam levemente a área plantada, de manutenção da taxa de câmbio elevada e recuperação da economia brasileira”, avaliou.

“Taxa de câmbio elevada não significa que ela vai subir, mas se manter em alto patamar. Não precisa ser igual a 2020 para ser bom, mas ser elevado o suficiente para garantir um saldo robusto da balança comercial do arroz. Algo entre R$ 4,80 a R$ 5,20”, concluiu o economista da Farsul. Nesta quarta-feira (14/10), o dólar comercial encerrou o dia cotado a R$ 5,59.

Oferta maior no mundo

Um fator que pode contribuir para a redução de preços do grão no mercado interno brasileiro é a maior disponibilidade no mundo. Na última semana, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) revisou para baixo o fornecimento mundial de arroz em relação ao divulgado em setembro. Mesmo assim, o número representa um crescimento de 9,2 milhões de toneladas, o que pode contribuir positivamente para a necessidade de compra do Brasil no mercado externo.

"A perspectiva global em 2020/2021 é de uma oferta mais baixa, consumo maior, comércio inferior e estoques reduzidos. O fornecimento de arroz foi reduzido em 4,02 milhões de toneladas (na comparação com a estimada em setembro), para 1,01 bilhão de toneladas, primariamente puxado pela redução nos estoques iniciais da Índia, enquanto, combinados, o consumo e as exportações cresceram 7,46 milhões de toneladas", diz o relatório.

Para o Brasil, o órgão americano avaliou que a produção deve ser de 11,16 milhões de toneladas na safra 2020/2021, volume ligeiramente menor que as 11,34 milhões de toneladas do último período. A China é o principal produtor de arroz do mundo, mas quase tudo é destinado ao abastecimento de sua própria população.

Segundo maior produtor mundial, a Índia deve colher 179,1 milhões de toneladas do grão nesta safra, quantidade pouco maior do que as 176,7 milhões registradas em 2019/2020. Por sua vez, as exportações indianas devem ficar em 17,9 milhões de toneladas, volume próximo do ano anterior.

Já a Tailândia deve produzir 27,7 milhões de toneladas, com exportações estimadas em 10,4 milhões. Para o Vietnã, o Departamento de Agricultura dos EUA estimou produção de 40,2 milhões de toneladas, e embarques externos em 9,40 milhões – números também próximos aos registrados na safra 2019/2020.
Source: Rural

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