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Malu Nachreiner, líder da divisão agrícola da Bayer no Brasil (Foto: Divulgação)

 

*Publicado originalmente na edição 420 (Outubro/2020) de Globo Rural

A multinacional Bayer, companhia farmacêutica de origem alemã que, em 2016, anunciou uma fusão com a norte-americana Monsanto, até então líder mundial na área de sementes, tem no Brasil o seu segundo principal mercado.

Isso porque, assim como a vocação agropecuária do país cresceu fortemente nas últimas décadas, tornando-se um pilar da economia nacional, aumentaram também os negócios da empresa, levando a divisão agrícola a responder por mais de 80% do seu faturamento no Brasil e 15% de seus negócios globais em 2019.

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No comando desse gigante agora está uma mulher, Malu Nachreiner, a primeira gestora de uma multi do setor. Engenheira agrônoma e técnica em nutrição, ela tem 41 anos e uma história forte, recente com o agronegócio.

“Não vim do campo, minha família não tem raízes no meio rural, não tínhamos propriedade agrícola. Eu escolhi o campo para a minha vida”, contou à Revista Globo Rural. “Talvez os meus antepassados que vieram ao Brasil tenham tido essa ligação com o meio rural, mas sou uma mulher nascida e criada na cidade.”

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A cidade é Mauá, localizada na região do ABC Paulista. Foi lá que Malu cresceu, em uma família repleta de mulheres. “Era uma família essencialmente matriarcal, com quatro gerações de mulheres na mesma casa: eu, minha mãe, que foi mãe solteira, minha avó e minha bisavó”, lembra. “Por isso, ser uma mulher e atuar numa área em que há uma predominância de homens nunca foi um obstáculo.”

Sua história com o agro começou quando ela ingressou na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em Piracicaba, no interior de São Paulo. “Eu já era técnica em nutrição e pensava em cursar engenharia de alimentos, mas, na época, ainda não tinha o curso em uma universidade pública, que era a minha única possibilidade (Malu sempre estudou em escolas públicas). Tinha aquela vontade de morar em outra cidade, conhecer gente nova, e passei em agronomia, o que me abriu logo uma oportunidade de estágio na área.”

Malu conta que, desde então, passou por quase todas as áreas da agronomia. Durante a safra 2003/2004, ainda recém-formada, foi trabalhar no Rio Grande do Sul. Cargo: representante técnica de vendas (RTV) da Monsanto, uma carreira majoritariamente seguida por homens. “Eu tinha 23 anos e uma vontade imensa de criar uma nova vida, novas amizades, aprender coisas novas”, lembra.

“Disseram que os gaúchos eram machistas, mas a verdade é que o povo gaúcho me recebeu de coração aberto. O contato próximo com a comunidade nos proporcionou uma relação de troca: eles me ensinavam e eu mostrava que estava ali com um propósito. Isso gerou credibilidade para ambos.”

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O período no sul do país (três anos no Rio Grande do Sul e um ano em Santa Catarina) despertou na jovem moça da cidade o desejo de atuar em outras áreas do agronegócio. “Achei que era o momento de ter outras experiências na minha carreira e planejei voltar a São Paulo para ingressar na área corporativa.”

Na Monsanto, ela trilhou uma carreira promissora: trabalhou em operações, marketing, produtos e vendas. Ampliou a sua atuação e chegou a ser responsável por operações da extinta companhia em outros países. Antes de ser promovida a líder da divisão agrícola da Bayer, que englobou a Monsanto, era diretora de marketing da empresa para toda a América do Sul.

Em muitos momentos dessa trajetória, Malu Nachreiner era a única mulher nas salas de reuniões. “Isso nunca foi um problema”, afirmou. “Cresci nesse ambiente e sempre tive uma rede de apoio forte, principalmente por parte dos meus gestores. Sei que essa não é a realidade de muitas mulheres no mercado de trabalho, mas não posso dizer que eu precisei 'gritar' para conquistar meu espaço.”

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Criada numa família de mulheres, com a qual ela aprendeu, no dia a dia, que o protagonismo feminino é intrínseco, Malu acredita que é um erro, por parte de algumas mulheres, querer forçar a personalidade para ganhar credibilidade.

“A mulher tem de tomar cuidado para não forçar uma personalidade que não é dela apenas para gerar credibilidade no ambiente de trabalho. Tem gente que é mais séria, tem gente que é mais brincalhona, que é o meu caso, tem gente que é mais fechada. O importante é ser firme na hora certa, mas ser você mesma sempre”, aconselha.

Malu assume a Bayer no Brasil em um momento desafiador: o início do plantio da maior safra de grãos da história do país, que deve ser superior a 250 milhões de toneladas. Entre os meses de setembro e dezembro de todos os anos, a companhia chega ao seu maior pico de negócios.

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“É um timing perfeito”, disse a executiva, que tem nas mãos alguns desafios pela frente: colocar em prática novos modelos de negócios que incluam a digitalização do agro em um cenário pós-pandemia. “Há projetos pilotos na manga e vamos passar por um período de experimentação, uma espécie de incubadora”, contou. “Internamente, estudamos novos modelos de trabalho para a segurança dos nossos colaboradores.”

Os projetos pilotos, segundo ela, são parte dos planos de negócios da companhia em médio e longo prazos e focam, também, o perfil do novo produtor rural brasileiro: jovem, tecnificado, preocupado com o meio ambiente, sedento por inovações. E será que o agricultor brasileiro está preparado para esse novo mundo? “Sim, com certeza ele está preparado e acredito que logo o Brasil ultrapassará os Estados Unidos.”
Source: Rural

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