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(Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

 

Assim como ocorreu em Mato Grosso, onde o alto preço da arroba bovina, em meio a um mercado interno ainda fraco após os impactos da Covid-19 sobre a economia, levou um frigorífico a conceder férias coletivas nas últimas semanas, a Marfrig, segunda maior processadora de carne bovina do mundo, também parou parte das suas operações no país.

As unidades da empresa em Ji-Paraná e Chupinguai, em Rondônia, ambas com capacidade de abate de até 20 animais por hora cada um, também concederam férias coletivas a seus funcionários e só devem retomar a compra de gado na semana que vem, segundo apurou a Globo Rural.

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Em nota, a empresa afirma que a suspensão da atividade “faz parte de um planejamento estratégico, que visa a otimização de recursos e manutenção dos equipamentos”. Segundo analistas, contudo, a medida tem sido uma das estratégias usadas pelas empresas brasileiras para contornar a forte alta da arroba bovina num mercado interno ainda em recuperação.

Enquanto o indicador Cepea/B3 do boi gordo acumula alta de mais de 24% este ano, de janeiro a setembro o preço médio do traseiro bovino com osso, que concentra os principais cortes consumidos pelos brasileiros, subiu 3,7% no atacado paulista, segundo cálculo do Instituto de Economia Agrícola do Estado (IEA).

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“A gente está passando por um momento muito difícil na oferta de boi vivo. Há uma dificuldade muito grande por conta do ciclo pecuário que está se revertendo e estamos entrando num momento de retenção de fêmeas”, explica o analista da Agrifatto Consultoria, Yago Travagini Ferreira.

Paralelamente ao ciclo de alta da pecuária, que confere um bom cenário de preços ao produtor, o mercado consumidor encontra-se em um momento de perda de renda após a pandemia – cenário que só não foi pior por conta do auxílio emergencial oferecido pelo governo. 

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“O auxílio emergencial ajudou muito a manter a carne no consumo da população, mas o que a gente tem agora é um auxílio saindo de cenário, diminuindo-se o volume do dinheiro ao mesmo tempo que a carne e vários alimentos subiram muito”, destaca o analista.

Com o menor poder de compra da população, as empresas têm enfrentado dificuldades para repassar a valorização da arroba bovina para o consumidor final, que tem migrado para proteínas mais baratas. “O mercado interno melhorou do ponto de vista de preço, só que ainda tem um consumo bem combalido. As pessoas estão migrando cada vez mais para proteínas mais baratas. Não à toa vimos uma forte valorização do frango congelado”, completa Ferreira.

Além das duas unidades da Marfrig, pelo menos outras duas empresas decretaram férias coletivas no país nos últimos dias. Também em Ji-Paraná (RO), a Distriboi, paralisou as atividades no último mês, tendo retomado as atividades em outubro.

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No Mato Grosso, o anúncio de férias coletivas em uma unidade do norte do Estado foi destaque no boletim semanal do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), que destacou o momento “desconfortável” para os frigoríficos.

Após a repercussão, a entidade emitiu novo boletim, explicando que “a conjuntura não é válida para todos e depende  da estratégia da planta em abastecer o mercado interno e/ou externo”.

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“É difícil afirmar 100% o que aconteceu, mas os comentários de mercado são de que realmente foi por conta da dificuldade de fechar as escalas de abates semanais”, explica Cleiton Gauer, gerente de inteligência de mercado do Instituto.

Segundo ele, caso as condições da economia não avancem, há risco de que outras empresas paralisem as atividades no Estado, que é o maior produtor de carne bovina do país. “É difícil falar que há falta de animais. Boi tem, mas qual preço as pessoas estão dispostas a pagar?”, ressalta Gauer.
Source: Rural

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