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(Foto: José Medeiros/Ed. Globo)

 

Analistas de mercado consultador por Globo Rural receberam de forma positiva os números divulgados nesta quinta-feira (8/10) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que fez o primeiro levantamento para a safra de grãos em 2020/2021.

Segundo eles, a perspectiva de aumento da produção brasileira em 10,9 milhões de toneladas, para um total de 268,7 milhões de toneladas, é considerada “factível” e influenciada, principalmente, pelo avanço na área cultivada com soja e milho.

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“Há muito tempo as consultorias não levavam em consideração as projeções da Conab para soja e milho porque os números estavam fora da realidade, abaixo das estimativas”, afirma o analista da consultoria Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez Roque.

No caso da soja, a estatal prevê um acréscimo de 4% em produtividade, para 3,5 toneladas por hectare, e aumento de 7,1% na produção, com 8,6 milhões de toneladas a mais, para 133,6 milhões, o que mantém o Brasil como maior produtor do mundo. Esse cenário resulta em aumento de 932 mil hectares na área plantada (2,5%), para 37,8 milhões de hectares.

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Para o milho, a previsão é um salto de 2,6 milhões de toneladas (2,6%) na produção, para 105 milhões de toneladas, puxada pelo ganho de 2,8% em termos de produtividade, para 5,5 toneladas por hectare, e ligeiro recuo de 44,9 mil hectares (0,2%) para a área plantada, totalizando 18,4 milhões de hectares.

O diretor-presidente da Conab, Guilherme Bastos Filho, destacou a demanda externa elevada em 2019/2020 para a oleaginosa, com exportações em torno de 82 milhões de toneladas. "Os levantamentos mostram que as cotações seguem em alta em diversas regiões do Brasil, alcançando R$123 (pela saca de 60 kg), o maior valor em termos reais, e a nossa expectativa é de expansão da área de soja para 2020/2021”, disse.

Vamos ter muita muita abertura de novas áreas, com pastos virando produção de soja. Atualmente, os preços para a soja e milho são muito atrativos. Mesmo em lavouras de tecnologia um pouco mais baixa, ainda compensa

Fernando Pimentel, da consultoria Agrosecurity

 

O preço da soja em Paranaguá (PR) tem girado em torno de R$ 163 pela saca de 60 kg, 84% maior do que no mesmo período do ano passado, enquanto em Campinas (SP), região de referência para a formação de preços, a saca de 60 kg de milho chega a R$ 70, elevação de 42,9% sobre 2019.

Entretanto, o atraso no plantio de soja no começo da atual temporada é uma questão de alerta para os analistas. “A gente tem um cenário de falta de chuvas e atraso no plantio da soja, o que preocupa para a safra de verão. Isso pode encurtar a janela do milho na segunda safra", diz Rafael Ribeiro de Lima Filho, da Scot Consultoria.

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Segundo ele, os números estão otimistas em relação ao clima, já que setembro é um mês que normalmente chove, mas as precipitações foram escassas em 2020. "Por isso, o incremento médio pode ser revisado nos próximos relatórios com o andamento da safra”, complementa Lima Filho.

O Centro-Oeste foi muito bem na última safra, período em que os problemas climáticos ficaram concentrados mais no sul. Nesta safra, já temos problemas maiores no Centro-Oeste, o que vem adiando o início do plantio. O clima deve pesar mais negativamente na produtividade

Rafael Ribeiro de Lima Filho, analista da Scot Consultoria

 

De acordo com Fernando Pimentel, da consultoria Agrosecurity, a inflação no setor de alimentos e bebidas, que foi de 0,34% em agosto e 1,48% em setembro, segundo o IPCA-15, é, em parte, efeito das exportações e deve ter uma atenção especial. Além do consumo no mercado interno, soja e milho são usados como ração animal na produção de carnes, que, por sua vez, também tem os chineses como principais compradores.

"O impacto inflacionário preocupa. No momento em que a China muda o seu regime de compras, ela gera uma distorção. Ela focou muito no Brasil, o que é muito bom para o produtor brasileiro, mas acaba competindo com o consumo interno de alimentos no país", pontua Pimentel.

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O algodão, segundo Luiz Fernando, da Safras & Mercado, é uma commodity que pode ser substituída por milho em algumas regiões produtoras, dado o preço elevado do cereal com o dólar a R$ 5,60.

Com a leve redução de 0,7% de área plantada, para 159,3 mil hectares, a Conab estima que a produção sofra uma retração de 6,2% para a pluma, para 2,8 milhões de toneladas, e de recuo de 6,3% para o algodão em caroço, para 4,09 milhões de toneladas.

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A troca também pode ocorrer entre o algodão e a soja. "O algodão não teve uma alta proporcional a soja e ao milho, e é o mesmo produtor que planta soja e milho. Então, o que está ocorrendo é um deslocamento do algodão para os grãos dentro das propriedades. É algo normal em função da remuneração para os grãos", diz Pimentel, da Agrosecurity.

O produtor talvez não reduza tanto a área porque os equipamentos para o algodão têm preços caros e é necessário mantê-los em atividade. Mas, se ele pudesse, plantaria bem mais soja do que algodão

Fernando Pimentel, da consultoria Agrosecurity

 

"Apesar do alto nível dos estoques é importante frisar que cerca de 80% da safra estimada para 2019/20 já está negociada para entrega futura”, diz a Conab, que projeta exportações de 1,9 milhão de toneladas, volume 18% maior do que o embarcado no último ano.

“Daqui até o final deste ano, o principal desafio do setor é manter os contratos já firmados e concretizar as entregas, dado o enfraquecimento da demanda global causado pela pandemia”, pondera a estatal, por meio de nota.
Source: Rural

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