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frigoríficos carne (Foto: Getty Images)

 

O surgimento dos primeiros casos de Covid-19 entre trabalhadores de frigoríficos, ainda em março deste ano, seguido de cobranças cada vez maiores em relação à sanidade e rastreabilidade dos produtos, reacendeu um antigo projeto das empresas do setor: a automação do processo de produção. “O planejamento que a gente tinha, realmente a gente adiantou e já estamos com todo o sistema de pesagem automatizado”, revela Carlos Alberto Schneidewind, gerente industrial do frigorífico Better Beef, no interior de São Paulo.

Schneidewind conta que a Covid-19 e as medidas de distanciamento dentro da unidade, assim como a maior cobrança de clientes internacionais, pesaram na decisão. “Com essa pandemia, a gente sabia, obviamente, que, em algum momento, teríamos algum caso positivo ou precisaríamos afastar os funcionários”, relata o empresário, que concluiu há dois meses um projeto programado para o final deste ano. “Faríamos por etapas mas, como vimos que a automação neste momento se tornou de suma importância, a gente executou da forma mais rápida possível”.

Movimento em massa

A decisão da empresa não foi isolada. Globo Rural conversou com quatro empresas que oferecem soluções de automação para a indústria frigorífica e todas elas relataram aumento de demanda. “Isso vem realmente se intensificando cada vez mais com a pandemia porque já se percebe que a automação vai acabar sendo a solução para o próximo problema que houver parecido com esse”, conta João Paulo Kronhardt, diretor da Mesal Máquinas e Tecnologia, ao apontar uma “mudança comportamental” entre os empresários do setor.

“Quando os frigoríficos se viram obrigados a criar um distanciamento entre operadores e colaboradores, a primeira coisa que eles perceberam é que com menos gente eles teriam uma perda de rendimento”, reforça Júlio Alves, Gerente de Equipamentos da Sealed Air no Brasil.

Alves explica que a empresa, especializada em embalagens a vácuo para proteínas, já vinha se preparando para um aumento na procura por sistemas de automação. “Sabíamos que em algum momento isso iria ocorrer e seria mais forte. A pandemia só potencializou alguns tópicos, inclusive a parte de processamento”, destaca. Segundo ele, as soluções no portfólio da empresa permitem reduzir em até 75% a mão de obra nas fases finais da produção, de empacotamento e separação, com rendimento até 35% superior.

“Hoje conseguimos diminuir, dentro do setor de embalagem secundária, praticamente 20% dos funcionários só com o sistema de automação de pesagem, balança e máquina de vácuo rotativo. Tudo isso com um resultado quase três vezes maior”, conta Schneidewind, proprietário de frigorífico, ao explicar um aumento de mais de 57% na produtividade da empresa este ano.

Projetos milionários

Nascida no setor automotivo, a Accede Automação afirma negociar um projeto de 10 milhões de euros com uma empresa de proteína animal por meio da sua divisão voltada ao mercado de bebidas e alimentos, a UpPack. “Parece que todos os projetos que nós tínhamos no passado estão sendo retomados de forma muito agressiva, inclusive alguns que haviam sido cancelados”, conta o diretor de desenvolvimento da empresa, Jonas Pereira Rusig.

Diante da crescente demanda do setor nos últimos quinze anos, ele avalia que o segmento de alimentação e bebidas alcance 70% do seu faturamento nos próximos três anos. Ele associa a retomada dos projetos, cujos custos são da ordem de milhões de reais, ao crescimento das exportações brasileiras.

“Quanto mais automatizada a fábrica é, maior a confiabilidade da carne por ter pouca manipulação e poucas pessoas com risco de infecção”, explica Rusig ao destacar que a manipulação nunca foi vista com bons olhos dentro da indústria de alimentos. “A JBS não tem nenhum valor agregado na qualidade do produto dela por um humano ter pegado de uma esteira e colado em outro lugar”, provoca o empresário.

Fenômeno global

Segundo Marcelo Suzuki, responsável global pelo centro de competência para a cadeia da proteína animal da Siemens, a corrida dos frigoríficos por soluções de automação após a pandemia de Covid-19 é um fenômeno mundial. “Há uma demanda global para reduzir o número de intervenções humanas dentro das linhas de processamento”, afirma o executivo, que associa o movimento também às cobranças internacionais por sustentabilidade. “Quando falamos em automação estamos falando muito de rastreabilidade, de como garantir a segurança alimentar do produto que estamos oferecendo”, explica Suzuki ao ressaltar o papel da sustentabilidade e da eficiência na análise de projeto dessas empresas.

“Mantendo o distanciamento social, hoje conseguimos simular qual o número ideal de funcionários que precisariam estar em determinado setor para atender a sua produção. Será que 200 pessoas é necessário? Será que com 110 você não consegue manter a mesma operação?”, explica o executivo da Siemens ao ressaltar que “sem dúvidas, é possível aumentar mais o distanciamento nas plantas brasileiras”. “Até pelos estudos que fazemos. A disposição das linhas de corte também influencia. Então, o Brasil tem muito chão pra caminhar, muita oportunidade para fazer uma indústria eficiente, mas precisa investir um pouco”, conclui Suzuki.
Source: Rural

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