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(Foto: Reprodução)

 

O Ministério da Agricultura admitiu que está "debatendo internamente, em Câmaras Setoriais", mudanças no Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado em 2014. O assunto repercutiu nesta quinta-feira (17/9) após vir à tona uma nota técnica da pasta sugerindo pontos a serem revisados no documento.

Segundo o ministério, "os textos que circularam nas redes sociais são minutas de documentos internos" e "sugerem a revisão do Guia Alimentar, incorporando entre outros temas a participação de engenheiros de alimentos na atualização".

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Nesta quinta-feira (17/9), o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, divulgou uma nota oficial contra o que chamou de “ataques descabidos” do Ministério da Agricultura ao guia alimentar.

Segundo o Nupens, a manifestação foi feita após o núcleo tomar conhecimento, extraoficialmente, de que um ofício havia sido encaminhado pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, solicitando a revisão do guia.

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O coordenador do Nupens, Carlos Monteiro, disse que recebeu cópia da nota técnica por intermediários, mas admitiu que, até o fim da tarde desta quinta (17/9), não sabia se o ofício havia sido de fato entregue a Pazuello. Em nota, o Ministério da Agricultura negou a existência do ofício, mas não contestou veracidade de nota técnica com sugestões de alterações.

Mesmo assim, Monteiro fez críticas às ponderações da nota técnica assinada pelo coordenador-geral do Ministério da Agricultura, Eduardo Mello Mazzoleni, e pelo diretor Luís Eduardo Pacifici Rangel. Ele classificou o texto como “agressivo, pessimamente formulado, de qualidade lamentável”.

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Conforme o coordenador do Nupens, o Guia Alimentar do Brasil vêm sendo alvo de críticas veladas por parte da indústria de alimentos no mundo todo desde que foi publicado. O motivo é ter uma posição "radical" na restrição do consumo de alimentos ultraprocessados. 

Um trecho da nota técnica cita que "o Guia induz a população brasileira a uma limitação da autonomia das escolhas alimentares" e "não alerta que uma alimentação que utiliza 'sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias' é perigosa". 

O texto ainda recomenda "a imediata retirada das menções a classificação NOVA no atual guia alimentar e das menções equivocadas, preconceituosas e pseudocientíficas sobre os produtos de origem animal".

Carlos Monteiro, coordenador do Nupens (Foto: Divulgação)

 

Tenho a impressão que esse grupo (indústria de alimentos) tenha convencido a ministra (da Agricultura, Tereza Cristina) que era hora de ela fazer alguma coisa. É a única explicação que a gente tem para o fato de sair um documento que é agressivo, pessimamente formulado, de qualidade lamentável e que diz coisas como que o Guia do Brasil é um dos piores do mundo, quando é o contrário

Carlos Monteiro, coordenador do Nupens

 

Monteiro também disse que há "uma questão meio corporativa por trás disso" e afirmou que "a única categoria no Brasil de técnicos que se opõe ao Guia Alimentar é a dos engenheiros de alimentos, porque o mercado de trabalho deles é essa indústria de alimentos ultraprocessados". "Essas empresas financiam toda a pesquisa que eles fazem. Então, eles têm uma dependência umbilical dessa indústria”, disse o coordenador do Nupens.

Na avaliação de Monteiro, a indústria de alimentos “sempre trabalhou por baixo do pano”, sem “dar a cara pra bater”. Ele ainda criticou o que classificou como “lobby discreto” do setor. “O Conselho Nacional de Saúde (CNS), que é a instância máxima da saúde no Brasil, se manifestou de que o ministro (da Saúde) tem que ficar firme, tem que resistir e que isso é algo absurdo”, ressaltou.

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Segundo o coordenador do Nupens, não há motivo suficiente para uma intervenção do Ministério da Agricultura no conteúdo do guia, pois as informações que ali constam têm respaldo em pesquisas, inclusive da Agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), que no ano passado divulgou estudo sobre o tema.

“O Guia Alimentar, como qualquer guia do mundo hoje, no século XXI, quer que as pessoas consumam menos carne, por motivos óbvios. Não só pela saúde, eu diria, até mais pelo meio ambiente. Em relação à questão da carne, é extremamente moderado. Comparado com outros guias, é até condescendente”, diz Monteiro.

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De acordo com o coordenador do Nupens, nas últimas décadas, os alimentos passaram a ser processados de uma maneira muito diferente daqueles que são aceitos como parte de uma alimentação diversificada, como pão, queijo, azeite de oliva, óleo de soja e conserva de legumes.

“Os alimentos ultraprocessados parecem alimentos de verdade, mas não são. O Guia Alimentar traz orientações de que alimentos processados devem ser moderados, mas que os ultraprocessados devem ser evitados ao máximo, pois não agregam em nada na saúde da população”, destaca o coordenador do Nupens.
Source: Rural

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