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A veterinária voluntária Karen Ramos analisa pegadas de animais na Transpantaneira. (Foto: José Medeiros/Ed.Globo)

 

Na entrada da Transpantaneira, todos chamam por um mesmo nome. “Karen, estão ligando de lá do Pixaim, pegaram um veado machucado perto do corixo”, disse uma veterinária voluntária ao assomar à porta ao lado do posto fiscal da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), onde um grupo atua dia e noite para recuperar animais queimados pelo fogo no Pantanal.

O grupo é liderado pela veterinária mineira Karen Ramos, de 26 anos, que atendeu o telefone naquela tarde de quinta-feira (10/09) ciente de que teria mais um problema para resolver. Como a maioria dos que resgatam animais debilitados pelo fogo no Pantanal, Karen é voluntária, responsável por realizar um trabalho sem estrutura, com pouco apoio e com diversas dificuldades logísticas e de comunicação.

A médica veterinária trabalha no Posto de Atendimento Emergencial para Animais Silvestres (PAEAS), que é composto de três veterinários voluntários e cerca de outros cinco profissionais de diversas áreas que percorrem toda a estrada que atravessa o Pantanal mato-grossense

“Não tem carro? Eu sabia que isso ia acontecer”, lamentou Karen ao ouvir, do outro lado da ligação, que parte de sua equipe que estava a cerca de 20 km dali não tinha locomoção para voltar ao posto. Por conta do esquema de revezamento, a volta do grupo seria essencial para que ela conseguisse ir com outra equipe até a região do rio Pixaim, onde um veado fora visto ferido pelo fogo, mas ainda vivo.

“A minha ideia era ter um veterinário, dois estagiários e mais um bombeiro, porque entrar no fogo para pegar os bichos é complicado”, afirma. Nem sempre porém, é possível  que isso ocorra, justamente por conta da ausência de veículos e de estrutura básica, como colchões para os voluntários dormirem.

“Nós só podemos receber gente se tiver estrutura"

Cel. João Márcio Barroso, Corpo de Bombeiros

Um dos líderes da operação de resgate dos animais e de combate ao fogo, o Coronel João Márcio Barroso, do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso, admite a falta de estrutura. Ele diz que há uma lista enorme de voluntários, mas faltam equipamentos, além de recursos para receber mais gente.

Coronel José Márcio Barroso, do Corpo de Bombeiros. (Foto: José Medeiros/Ed.Globo)

 

“Nós só podemos receber gente se tiver estrutura, eu estou conseguindo mais dez colchões, eu tenho três barracas ali, uma é para almoxarifado e outras duas são para acampar, quando eu conseguir mais dez colchões eu posso trazer mais dez pessoas”, afirma.

Há cerca de um ano Barroso tenta, com outros agentes do Corpo de Bombeiros, destravar R$ 35 milhões de um projeto aprovado junto ao Fundo Amazônia para o Batalhão de Emergências Ambientais (BEA). O recurso seria utilizado justamente em trabalhos como estes. Segundo Barroso, se a verba tivesse sido destravada pelo Governo Federal, a estrutura de combate ao maior incêndio florestal da história do Pantanal seria muito diferente.

O coronel cita que, em uma das regiões de fazenda com grande quantidade de animais e que foi devastada pelo fogo, seria necessário estrutura para trazer pelo menos mais três ou quatro equipes de trabalho.

Voluntários muitas vezes passam noites em claro buscando sobreviventes do fogo no Pantanal. (Foto: José Medeiros/Ed.Globo)

 

“Não encontramos uma grande quantidade de animais porque a gente ainda está tentando descobrir como podemos encontrá-los”, afirma Barroso. “O que nós já sabemos, por exemplo, é que perto do fogo a gente encontra muitos animais, alguns bastante sequelados”, explica.

“As condições climáticas aqui na região são extremamente favoráveis para incêndios florestais, estamos o tempo todo tentando segurar. Praticamente tudo que tentamos nós perdemos, mas não é porque a gente perde que a gente desiste”, conta Barrosa ainda com esperanças.

“Parece que só estamos perdendo”"

Karen Ramos, veterinária voluntária

Há duas semanas no Pantanal, Karen contabiliza mais mortes do que vidas. Isto porque a maioria dos animais resgatados estão tão debilitados que não é possível salvá-los. Além do resgate, o PAEAS distribui bandejas com alimentos e água nas áreas queimadas do Pantanal, na tentativa de manter vivos aqueles animais que conseguiram sobreviver.

Este trabalho é feito em conjunto com uma série de grupos que doam e distribuem vegetais e legumes. Um deles é o grupo É o Bicho MT, que já entregou mais de 15 toneladas de alimentos nas planícies queimadas. A preocupação dos integrantes do grupo formado por biólogos, turismólogos e outros profissionais é conseguir chegar ainda mais longe, não apenas nas margens da Transpantaneira.

Para eles, como para os integrantes do PAEAS, o principal problema é a dificuldade de locomoção e os óbices que o fogo impõe. Muitas vezes arcos de fogo formam-se na rodovia, dificultando a passagem dos voluntários. “É frustrante, nós estamos aqui para resgatar, mas muitos animais nós só visualizamos o sofrimento deles”, diz Karen. “Parece que o fogo não vai acabar, parece que nós só estamos perdendo”, lamenta a veterinária.
Source: Rural

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