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(Foto: Divulgação)

 

O favoritismo de Joe Biden em relação a Donald Trump, indicado pelas pesquisas dos EUA a menos de dois meses das eleições, é um desafio a mais para o agronegócio brasileiro no médio e longo prazo.

Fortemente beneficiado pela guerra comercial deflagrada por Trump contra a China, o setor pode enfrentar uma mudança radical nas relações diplomáticas entre seu maior parceiro comercial e seu maior concorrente no mercado externo, além do aumento da pressão internacional em temas socioambientais.

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“Essa é uma disputa bem emblemática porque são dois candidatos com perfis muito distintos, não só pela diferença entre partidos, mas também na forma como esses candidatos exerceriam a presidência”, observa o analista de mercado da StoneX, Vitor Andrioli.

Ele ressalta que o desconforto americano com o aumento do protagonismo chinês no cenário mundial é um incômodo “apartidário” nos EUA, mas reconhece que as relações com o país tenderiam a ser facilitadas em uma possível gestão Biden.

“Acho que deve ter uma mudança na forma de negociação e na forma das duas potências se relacionarem, mas não enxergo uma possibilidade muito grande de reversão dessa posição um pouco mais dura dos EUA em relação à China. Mesmo em um governo Biden, as relações entrre os países não devem se tornar um alinhamento incondicional, mas provavelmente melhorarão”, explica Andrioli.

Bolsonaro já declarou várias vezes apoio à gestão de Donald Trump, presidente dos EUA (Foto: Alan Santos/ PR)

 

No Brasil, por outro lado, o alinhamento do governo Jair Bolsonaro com o governo Trump, com manifestações de apoio a sua reeleição, pode levar a um isolamento do país caso o candidato republicano seja derrotado em novembro.

“Se Biden assumir a presidência, os que amam mais os EUA do que o Brasil vão ficar órfãos de pai e mãe, pois atacam a China enquanto os americanos não vão querer mais suas declarações de amor”, avalia Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, ao comentar a campanha pró-Trump protagonizada por pessoas próximas ao presidente.

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A pesquisadora do Cepea, Andrea Adami, observa que a participação da China nas exportações totais do agronegócio brasileiro passou de 2,7% para 40% nos últimos 20 anos, enquanto a dos EUA caiu de 18% para 6% no mesmo período.

“Embora o país asiático seja o grande parceiro do Brasil na atualidade, suas compras têm se concentrado nos produtos do complexo da soja, especialmente a soja em grão, e, mais recentemente, as carnes. Dois produtos em que os americanos têm forte presença no comércio internacional”, destaca a pesquisadora.

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Acordo comercial e políticas ambientais

Desde o início da guerra comercial, em 2018, China e EUA negociam um acordo que prevê um aumento de US$ 32 bilhões no valor das importações agrícolas chinesas, mas que ainda não gerou os resultados esperados.

“Acho que o acordo será favorecido caso o Biden ganhe e isso incentiva a ampliação das compras de soja dos EUA pela China em detrimento do produto brasileiro. Se o acordo de fato for cumprido, a gente terá uma participação menor naquele mercado, muito provavelmente”, lembra Lygia Pimentel, diretora executiva da Agrifatto Consultoria.

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Além do aspecto comercial, a questão ambiental é outro tema no qual a posição internacional dos EUA deve mudar caso Joe Biden vença as eleições presidenciais neste ano – aumentando ainda mais a pressão internacional sobre a questão ambiental no Brasil.

“Eu vejo essa questão ambiental um pouco mais forte após a escolha da Kamala Harris como candidata à vice-presidência”, observa Andrioli, da StoneX, ao destacar também mudanças relacionadas a direitos humanos, igualdade de gênero e racial.

“Nas relações internacionais, seria muito provavelmente um alinhamento novo com a União Europeia que, em geral, tem uma postura mais progressista em relação aos direitos humanos e mais ambientalista – que é um tema que tem colocado o agronegócio brasileiro em uma posição um pouco mais frágil”, aponta o analista.
Source: Rural

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