Skip to main content

(Foto: Divulgação/New Holland)

 

Impulsionados pela melhora da produtividade no campo e o aumento da produção agrícola brasileira nos últimos anos, produtores buscam novas formas de otimizar investimentos. E o mercado de máquinas usadas tem despertado como alternativa para evitar grandes aportes de recursos e, ainda assim, manter a competitividade da lavoura. Parte do montante que iria para uma máquina nova, que, muitas vezes, varia entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões, pode ser redirecionado, por exemplo, para melhoria do solo ou outras tecnologias.

O produtor rural Bruno Laurini tem prestado atenção nas ofertas e feito aquisições. Ele possui propriedades em São Paulo e no Mato Grosso que somam 8 mil hectares de cana, soja, milho e, em menor escala, frutas. Por safra, ele colhe cerca de 60 mil toneladas de cana e 500 mil sacas de 60 quilos de grãos.

saiba mais

Produção de máquinas agrícolas cai 22,1% em agosto

 

Segundo Laurini, é possível economizar até 80% do valor na comparação com um maquinário novo. Isso porque a depreciação pode chegar a até 30% no primeiro ano de utilização. "Uma máquina nova na faixa de R$ 1 milhão. Na usada, eu pago cerca de R$ 50 mil. Aqui na fazenda nós desmontamos e remontamos o equipamento para fazer uma revisão. No final, ela acaba saindo por R$ 200 mil", conta.

Em média, Laurini fica com as máquinas cerca de cinco anos, para vendê-las posteriormente e fazer novas aquisições. "A gente procura o leilão porque o custo de aquisição de máquina nova é muito alto. Nós temos aqui na fazenda uma revisão própria. Depois de feita a revisão e verificado todas as peças, colocamos para trabalhar", explica. 

saiba mais

Demanda por alimentos ajuda na recuperação do setor de máquinas agrícolas

 

Mais adeptos

A demanda maior por maquinário usado é anterior à pandemia do coronavírus, mas tem acentuado durante o período de isolamento social, ganhando corpo, especialmente, com a presença de plataformas online. Os negócios são feitos em espaços virtuais como a Superbid Marketplace – que, além do setor agrícola, atua ainda nos segmentos industrial, imobiliário e automotivo.

Desde 1999 no Brasil, a Mais Ativo, empresa do Grupo Superbid, vem se expandindo pela América Latina. Em 2006, iniciou suas operações na Argentina. Em 2007, passou a atuar no Chile, e, em 2010, na Colômbia. Em 2012, foi a vez do Peru receber os serviços da empresa.

saiba mais

Case lança máquinas e se diz otimista sobre o mercado brasileiro

 

Em 2016, a Mais Ativo passou por um redirecionamento dos seus negócios, onde as vendas online ganharam mais importância. E o agro tem ganhado espaço. Das cerca de 8 mil empresas que utilizam o espaço digital Superbid, 40% (3,2 mil) pertencem ao segmento agrícola, com destaque para os setores sucroenergético, florestal, grãos e café.

“Nós temos todo um potencial de compradores que querem essas máquinas para a revenda, em um mercado menor, até pequenos e médios agricultores de diversos segmentos que enxergam a oportunidade de comprar um grande equipamento com boa vida útil, mas sem os custos de um novo maquinário”, afirma Marcelo Pinheiro, diretor-técnico da Mais Ativo.

saiba mais

Locação de máquinas agrícolas vem crescendo no Brasil

 

Nos últimos dois anos, a empresa ofertou mais de 20 mil máquinas e equipamentos para o agronegócio. Em 2020, a previsão é crescer em torno de 20%, com 25 mil ofertas, entre tratores, colhedoras e irrigadores. Até esta quarta-feira (9/9), 19,1 mil máquinas haviam sido ofertadas, quase o mesmo montante do biênio 2018-2019.

“Algumas empresas, no sentido de movimentar o caixa e reduzir custos durante a pandemia com a armazenagem e gestão desses ativos, acabaram aumentando as vendas. O mercado do agro foi muito bem, mas o de biocombustíveis, por exemplo, não teve o mesmo desempenho”, diz Pinheiro. “O que nos surpreendeu positivamente é que o excesso de ofertas dentro do mercado provoca uma redução de preços dos ativos. No entanto, também houve um crescimento de compradores", completa.

saiba mais

Busca por customização de máquinas agrícolas tem crescido entre as mulheres

 

Oportunidade para empresas

Se para os agricultores com menos caixa para investir, o leilão de máquinas de segunda mão é uma oportunidade de negócio, para grandes empresa é uma saída para renovação da frota. A SLC Agrícola, uma das maiores produtoras de commodities agrícolas do país, possui 16 fazenda em seis estados, que totalizam pouco mais de 449 mil hectares de área plantada.

Marcelo Pinheiro, da Mais Ativo: "Temos um potencial de compradores que querem essas máqiuinas para revenda" (Foto: Divulgação)

Em pouco mais de três anos, a gigante agrícola já utilizou a Superbid para se desfazer de mais de 200 máquinas. Em 2020, a companhia pretende se desfazer de outros cem veículos e terceirizar o serviço. Para Paulo Carpenedo Júnior, coordenador de Suprimentos Agrícolas da SLC, o leilão em plataformas digitais oferece mais agilidade ao processo de venda. 

saiba mais

Setor de máquinas fortalece relacionamento digital para fechar negócios na pandemia

 

"A plataforma tem nos ajudado muito nas negociações de ativos inutilizados. Colheitadeiras que antes ficavam 8 meses à venda, conseguimos vender num prazo bem mais curto. Dentro de um contexto de renovação de frota de máquinas que não tinham mais uso ou passaram do ponto de equilíbrio, esses ativos ficam menos tempo parado em depreciação", explica.

O executivo acredita que há, cada vez mais, uma preocupação do lado do produtor sobre como os recursos são usados nas propriedades. “Existe um movimento de desativar o parque de máquinas. As empresas buscando a redução de custo com a terceirização de algumas atividades dentro da estratégia de cada companhia, com as vendas de ativos próprios e o aluguel de equipamentos, ao invés de aquisições que vão precisar de apoio operacional”, avalia.

saiba mais

Robôs do agro: máquinas até percorrem lavouras para fazer raio-X de soja e milho

 

Isso porque, segundo Carpenedo Júnior, no caso de um trator ou pulverizador, a depreciação é de, em média, 10% ao ano. “O produtor pode focar o investimento na operação mais estratégica, e aqueles ativos que são de apoio logístico e operacional, ele pode 'desativar', passar para um fornecedor parceiro, que sempre esteja com ele”.

"Uberização"

Carlos Cogo, diretor da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, acredita que a tendência é crescente desse tipo de negócio no mercado brasileiro. A exemplo de outros países. No Estados Unidos, por exemplo, os negócios com usados são bastante comuns.

Já na Argentina, o aluguel de máquinário agrícola é uma alternativa bem procurada. Lá, cerca de 65% das áreas produtivas são arrendadas, ressalta o consultor, enquanto no Brasil, essa proporção é de apenas 14%.

saiba mais

Empregos no agro se estabilizam após forte queda no começo da pandemia

 

"O produtor argentino não vai comprar uma máquina para colocar em uma área arrendada. O que a gente vê nesse setor é que ainda há uma certa barreira cultural. Alguns produtores preferem ser donos das máquinas. Mas aí, com as contas que nós fazemos, de usar a máquina uma ou duas vezes para o ano ou em uma janela curta, acaba compensando não ter o maquinário", diz.

De acordo com o analista, essa tendência deve mudar gradativamente nos próximos anos. A questão é mais cultural do que propriamente financeira. “Nós estamos falando de médio e longo prazo porque tudo que é cultural, é uma barreira que cai aos poucos. A tal uberização das máquinas vai acontecer assim como acontece no setor de caminhões”, completa Cogo.
Source: Rural

Leave a Reply