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A plant influencer Stéphanie Salateo dobrou o número de seguidores no Instagram de março a junho com seu estilo de vida (Foto: Arquivo Pessoal/Stéphanie Salateo)

 

*Publicada originalmente na edição 418 de Globo Rural (Agosto/2020)

Mais de três meses trabalhando de casa por conta da pandemia do novo coronavírus, a publicitária Aline Prates decidiu levar mais vida e cor para dentro de casa. Distante da vida ao ar livre, ela concretizou uma vontade que já existia desde o ano passado e, em plena pandemia, se rendeu às plantas ornamentais. O apartamento em que vive, na capital paulista, agora está cheio de verde. Uma parede pálida virou um jardim suspenso com dez tipos diferentes de plantas, entre hera, peperômia, dinheiro-em-penca – sem contar outros vasos espalhados pela residência.

“O dia a dia e outras prioridades deixaram essa vontade em segundo plano. Com a quarentena, temos ficado muito em casa e o desejo de completar esse pedaço da casa só aumentou”, conta ela, ressaltando que o marido, Wanderson de Abreu, também colocou as mãos na terra e entrou na onda da jardinagem.

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O casal faz parte de um grande grupo de pessoas com um comportamento semelhante neste período de isolamento: construir pequenas hortas ou jardins em algum espaço dentro do lar. A onda está tão forte que as buscas na internet pelo termo "kit de jardinagem" aumentaram 180% entre 17 de março, data do início do isolamento social, e 17 de junho.

Já a busca por "curso on-line de jardinagem" aumentou mais de 200% no mesmo período, segundo o Google Trends, ferramenta que analisa o comportamento de pesquisas no site de busca.

Acho que, no futuro, esse vai ser um mercado muito bom a ser explorado. Pragmaticamente, a gente tem de facilitar a vida do consumidor, adaptando-se à horta em casa”

Marcelo Queiroz, secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do RJ

Lúcia Borges é professora de paisagismo e viu o interesse pelos cursos na internet se tornar realidade na sala de aula virtual. Proprietária do site e canal Vida no Jardim, ela possui mais de 461 mil inscritos no YouTube e 81 mil seguidores no Instagram, transformando o que antes era aula presencial com até 30 alunos num ambiente de ensino pela internet com mais de 700 estudantes.

O curso Jardim em Vasos é ministrado à distância e vendido por R$ 697 – e os vídeos ficam disponíveis até dois anos depois de contratados. “A gente vai não somente de norte a sul do Brasil, coisa que não faríamos presencialmente, mas tem Japão, Estados Unidos e Europa assistindo às aulas comigo também’’, revela.

Lúcia Borges, mentora do curso Vida no Jardim: alunos até de fora do país se inscrevem para as aulas remotas (Foto: Reprodução/Lúcia Borges/Instagram )

 

O interesse em construir hortas urbanas também tem crescido na capital do turismo no Brasil, conforme levantamento divulgado pela Secretaria de Agricultura do Rio de Janeiro. A pasta disponibiliza um curso, de forma gratuita, para ensinar a montagem de pequenas hortas em residências. Marcelo Queiroz, secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado, conta que o objetivo é oferecer informações para que o público possa cultivar seus próprios alimentos dentro de casa, seja em pequenos espaços ou não e a um custo baixo.

“O crescimento do interesse pelos cultivos é notável. O acesso ao curso no site cresceu cerca de 80%”, diz Queiroz, ao considerar que o universo on-line também pode ser uma saída para que mercados passem a atender a essa demanda por meio do delivery. O secretário explica que produtores de plantas, flores, mudas e sementes costumam focar na jardinagem profissional e, por isso, eles precisam ser orientados de que há uma crescente demanda pelo público urbano, que deseja praticar a jardinagem como hobby.

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“É um mercado em adaptação, que vai necessitar orientar cada vez mais os produtores. Acho que, no futuro, esse vai ser um mercado muito bom a ser explorado. Pragmaticamente, a gente tem de facilitar a vida do consumidor, adaptando-se à horta em casa”, defende.

As pessoas estão procurando mais contato com a natureza, optando por plantas que não exigem tanta manutenção, que não causem tanta sujeira, que tenham mais resistência

Lucio Vicente, head de sustentabilidade do grupo Carrefour Brasil

O aumento na demanda por canais on-line já é realidade na Isla Sementes. A empresa, que vende majoritariamente para lojistas, registrou aumento de 80% nas vendas on-line desde abril de 2020, reflexo da alta procura do consumidor final em supermercados e nos chamados garden centers. “A resposta que a gente tem desse lojista é que a demanda por sementes está crescente e é impressionante”, destaca Diana Werner, presidente da Isla. A companhia espera fechar 2020 com 20% de crescimento, graças ao “boom do plantio em casa”.

Este movimento impulsionou um negócio até mesmo no Grupo Carrefour Brasil. Antes da pandemia, a empresa supermercadista já havia planejado lançar uma terra vegetal, resultado da compostagem de alimentos de suas 48 lojas no país. Agora, com a jardinagem no gosto da população urbana, a comercialização tem se mostrado satisfatória, segundo Lucio Vicente, head de sustentabilidade do grupo.

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Ele admite que o momento pode elevar as vendas de terra e também de itens de floricultura. “As pessoas estão procurando mais contato com a natureza, optando por plantas que não exigem tanta manutenção, que não causem tanta sujeira, que tenham mais resistência”, conta. Este é o perfil do casal paulistano Aline e Wanderson, que vem intercalando o trabalho em home office com as podas e regas das plantas. “De fato, (o jardim) trouxe mais vida para o apartamento e alegrou bastante o ambiente.”

Plantas como lifestyle

As redes sociais têm sido um importante canal para quem quer aprender sobre jardinagem e horta urbana. Por isso, os chamados plant influencers, ou, influenciadores de planta, em tradução livre, estão em alta no Instagram.

Esses perfis, que postam dicas e fotos de suas plantas e acessórios, vivem um verdadeiro boom de engajamento. Daniel Virginio (@cafofododani) passou de 50 mil para 120 mil se- guidores durante os dois primeiros meses de isolamento social. 

Daniel Virgnio, considerado um plant influencer, ganhou de mais de 70 mil seguidores no Instagram nos dois primeiros meses de pandemia (Foto: Reprodução/Cafofo do Dani/ Instagram)

 

Já Stephanie Salateo (@salateando) contava com 15 mil seguidores no fim de março e dobrou de seguidores até o início de junho. E o doutor em botânica Samuel Gonçalves, de codinome Um Botânico no Apartamento, dissemina conteúdos científicos atrelados ao cultivo das plantas ornamentais e chegou a acumular até 1.000 novos inscritos por dia no YouTube durante a quarentena.
Source: Rural

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