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Lobo-guará ganha visibilidade após estampar cédula de R$200 (Foto: Marcella Lasneaux/Zoo de Brasília)

 

Em alta por estampar a nova nota de R$ 200, o lobo-guará, segundo os biólogos, precisa ser reconhecido, também, pelos benefícios que pode trazer para o setor produtivo rural. Uma das maiores preocupações é com a degradação do Cerrado, habitat primordial do animal, que está na categoria vulnerável em relação à elevada ameaça de extinção.

Estudiosos argumentam que não pode haver um embate entre meio ambiente e economia. Projetos colocados em prática com o lobo-guará mostram que é possível a convivência adequada entre preservação e agroindústria. 

"O que a gente precisa e está buscando nos projetos é construir as pontes entre os diversos interesses, o econômico e o de conservação. Se eles trabalharem de forma sustentável na produção, vão ganhar e a fauna também", explica o biólogo Rogério Cunha de Paula, pesquisador  do lobo-guará há quase 25 anos e analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

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O lobo e as galinhas

 

Um dos principais problemas é que a velocidade da degradação do habitat é bem mais rápida do que a de recomposição da espécie. "Com o tempo, ele vai desaparecer de vários lugares. Quando a gente fala da descaracterização do Cerrado, ambiente principal do animal, temos que é uma realidade muito preocupante'', destaca Rogério Cunha de Paula. 

Entre os projetos de conservação para evitar isso, está o Lobos da Canastra, que existe desde 2004 no Parque Nacional da Serra na Canastra, em Minas Gerais. Segundo Rogério, trata-se do espaço de Cerrado com a maior concentração de animais na América Latina (aproximadamente 200).

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Ele explica que o local é apropriado para a conservação em vista das características nativas e por ser ocupada por pequenos produtores rurais, em diferentes atividades. "Quanto mais diversificado, melhor para o animal". destaca. O desafio, segundo Rogério, é conscientizar de que o lobo poderia comer animais como ratos e cobras, que causam doenças em outros animais das propriedades.

"Fazer parcerias é fundamental. Na Serra da Canastra, uma das maiores ameaças ao lobo era a caça. Isso porque os animais comiam as aves dos produtores e isso levava a serem caçados. A gente conseguiu acabar com essa prática mostrando para as pessoas que as galinhas poderiam ser presas no galinheiro. Eles viram que isso poderia dar lucro", afirma.

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Rogério defende ainda a "conservação pelo encantamento", ao associar os produtores aos animais. "É necessário olhar a vida que há em volta. Seja na Canastra ou em São Paulo, na região de São José do Rio Pardo, em área de plantação de cana, ou na Bahia, em região de soja e turística. Os produtores rurais têm grande responsabilidade porque sabem o que pode ser feito na terra", observa.

Para ele, o cidadão comum deve ser informado e, com o tempo, a percepção sobre a presença do animal mudará. "Há algum tempo, aparecia o lobo e os donos da terra davam tiro. Isso reitera a importância da visibilidade da nota de R$ 200", ressalta.

Potencial semeador

 

(Foto: Adriano Gambarini)

 

O presidente da Instituição Pró-Carnívoros, o biólogo Ricardo Pires Boulhosa, concorda que é necessário, sobretudo, estabelecer conexões com os produtores rurais para informar adequadamente sobre a importância do lobo-guará.

A organização não governamental atua no campo da pesquisa para conhecer mais sobre o animal desde 1996. Um dos argumentos é que o bicho, considerado resiliente, resistente e não agressivo, demonstra ser aliado para a produção pelo seu potencial de semeador.

"Como é onívoro, come de tudo, incluindo frutas, e anda grande distâncias, acaba defecando e contribuindo com a natureza ao espalhar as sementes por quilômetros. Dentro da sua dieta, a lobeira – fruta semelhante a um tomate –  está entre as preferidas do lobo", diz.

Ao todo, calcula-se que 73% dos lobos estejam no Brasil, principalmente no Cerrado. Pampas e Pantanal são outros biomas onde a espécie está mais ameaçada. "Já tivemos registros também na Mata Atlântica e até Amazônia descaracterizadas”, pontua Boulhosa.

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O especialista explica que um dos projetos em andamento no interior de São Paulo, nas proximidades da Bacia do Rio Pardo (SP), é o Lobos do Pardo. "Estamos vendo como o animal utiliza o canavial para caçar e se proteger. É o primeiro trabalho realizado em uma região assim, totalmente transformada, e podemos comparar com os lobos em unidades de conservação", explica.

O trabalho tem a parceria da AES Tietê, empresa geradora de energia elétrica, interessada em conhecer o comportamento do lobo na região de quatro reservatórios. "Ao conhecer, podemos trabalhar com o produtor rural para uma ação mais sustentável", afirma Ricardo Boulhosa, acrescentando que há, também, uma atenção internacional sobre como os países cuidam do meio ambiente, e essa imagem é um ativo nas exportações.

O projeto mantém lobos monitorados por um colar que captura informações 24 horas. Elas chegam via GPS ao instituto, onde todas as movimentações são observadas para entender o uso do ambiente e se há intereferência na saúde do animal. A ideia é que, com isso, os proprietários sejam sensibilizados para que a colheita, por exemplo, seja mais gradual.
Source: Rural

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