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Plataforma de geomonitoramento da Agrotools (Foto: Divulgação/Agrotools)

 

Responsável pelo monitoramento do campo ao varejo de clientes como McDonald’s, Carrefour, Cargill, Rabobank e Itaú, a agtech brasileira Agrotools cresceu mais de 60% em 2019, em relação a 2018. Por meio da geotecnologia e apostando na rastreabilidade da cadeia de suprimentos, Sérgio Rocha, CEO da Agrotools, tem visto a receita da empresa crescer quase 600% de 2018 para cá. De acordo com ele, muito deste resultado se deve à percepção do mercado sobre como tecnologia e sustentabilidade têm um futuro promissor juntos.

Globo Rural – De que forma a tecnologia pode auxiliar a sustentabilidade no campo?
Sérgio Rocha – Hoje a gente exporta commodities com tecnologia, o que dá tranquilidade desde a origem ao produto. Em 2008, a tecnologia começou a ter uma importância e começou a se usar a geotecnologia para acompanhar em grande escala esse processo de supply chain. A gente percebe que a sustentabilidade é uma oportunidade e quando se consegue mostrar de forma cabal a cadeia de suprimentos, abrem-se mercados que nem todos conseguem. A junção de tecnologia e sustentabilidade forma uma conexão clara que não deixa dúvidas, por exemplo, de que a matéria-prima venha de maneira adequada, conforme protocolos esperados pelo consumidor formal.

GR – Ainda assim, o Brasil tem enfrentado muitos questionamentos sobre originação e controle de qualidade.
Rocha – Um dos principais motivos é que a gente se comunica mal e aí cria uma insegurança, mas, novamente, a tecnologia está dando resposta a altura. Está todo mundo com os nervos à flor da pele no atual momento, deixando evidente que há uma conexão muito forte entre sustentabilidade, sanidade e saúde humana. Sem a tecnologia a gente não conseguiria mostrar em escala tudo que vem sendo feito, e qualificar de uma forma tão clara e tão contundente.

Sérgio Rocha, CEO da Agrotools (Foto: Divulgação/Agrotools)

GR – A tecnologia também já faz parte da economia verde? Como você enxerga a relação com o mercado de carbono, por exemplo?
Rocha – Usar tecnologia para diferenciar nosso produto dos outros e conseguir essa qualificação vai fazer a diferença, inclusive na hora de geração de papéis verde, chamados green bonds, o que passa pelo mercado de carbono. Vale dizer que nos últimos meses isso tem crescido brutalmente, eventualmente recuperando investidores em mercados de capitais que estão ligados a esse movimento de sustentabilidade. Hoje não só conseguimos ter um aumento de percepção da importância do carbono, mas também como isso poderá ser remunerado. Isso vem crescendo, mas deve crescer muito mais no pós-coronavírus. Ficou muito claro as vantagens de tratar bem o planeta e essa agenda cresce numa velocidade maior que os outros anos.

GR – Vocês lidam com grandes clientes, como o McDonald’s. Há algo de novo sendo discutido, a exemplo da pecuária sustentável?
Rocha – Com o McDonald’s, nosso atendimento é feito em diversos lugares do mundo, como Austrália, Paraguai, Argentina e percebemos que a preocupação não é só a pecuária, e com isso eles estão usando a tecnologia Agrotools em outras commodities, como soja e milho, componentes principais do frango, que, por sua vez, está em compliance com toda a política do McDonald’s. Nós criamos uma calculadora de percentual de soja em todo o frango consumido hoje na rede de fast food, para entender melhor essa cadeia de suprimento e ter mais acesso a origem dessa soja. Isso está fazendo bem para o planeta, porque acaba sendo um influenciador para atender a melhores critérios.

A junção de tecnologia e sustentabilidade forma uma conexão clara que não deixa dúvidas, por exemplo, de que a matéria-prima venha de maneira adequada

Sérgio Rocha, CEO da Agrotools

GR – Mas como esse conhecimento da cadeia de suprimentos funciona?
Rocha – A gente agrega aos bancos de dados um endereço geográfico e isso dá a capacidade de acessar a transformação digital, que conecta o território aos negócios. Esse banco faz a identificação se determinada propriedade não está em linha com protocolos, valores e aspectos operacionais, como não querer financiar área de desmatamento. Com esse rastreamento, se você excluir aquele cliente que faz errado já ajuda muito, ou pelo menos ajudá-lo a regularizar [a produção]. No caso dos bancos, como o Itaú recentemente, que anunciou não querer financiar clientes ligados ao desmatamento, é possível verificar se o banco está financiando um frigorífico, que, por sua vez, tem um fornecedor no campo, que pode estar ou não dentro das conformidades.

GR – E quando falamos dos pequenos e médios produtores, esse universo de tecnologia com sustentabilidade se aplica?
Rocha – Os grandes produtores rurais já perceberam que compensa financeiramente estar correto, bem consciente da sustentabilidade. Eu acho que, como falta a sustentabilidade econômica aos pequenos e médios, com custo de capital brutal no país, mais vulneráveis ao clima, ao câmbio, ao custo de produção e ao preço final da commodity, eles têm uma insegurança econômica muito grande e com isso escorrega nas práticas que ele está consciente que deveria estar seguindo. A partir do momento que a gente leva tecnologia para pequeno e médio e eles ganham a sustentabilidade econômica, eles se educam melhor e aderem. Esse ‘fantasma’ da sustentabilidade, a gente enxerga ele maior do que é, e a tecnologia tem essa mágica de facilitar os processos sustentáveis. Sustentabilidade vai ser estratégia comercial e não um problema.

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Source: Rural

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