Skip to main content

 (Foto: Sérgio Ranalli)

 

 

*Publicada originalmente na edição 418 de Globo Rural (Agosto/2020)

O agricultor Sergio Luis Viudes, de 56 anos, mantém fechada a porteira do Sítio Barra Grande, no município de Rolândia, no norte do Paraná, desde março, quando o novo coronavírus se tornou ameaça no Brasil. As visitas, antes constantes, agora estão proibidas.

Ele só libera a entrada para receber a assistência técnica do engenheiro agrônomo da Cocamar, cooperativa à qual é associado. O trabalho do profissional é feito respeitando as normas de isolamento social, sem contato físico com ninguém. Ele vai até o campo, vistoria a lavoura, analisa tudo e depois manda um relatório por WhatsApp, com todas as recomendações necessárias, sem se encontrar como produtor ou os funcionários.

saiba mais

Pandemia aumenta uso de internet no campo, mas falta de conexão e alto custo são barreiras

 

As limitações impostas pela pandemia fizeram Viudes recorrer ainda mais às soluções digitais, que já usava antes, tendo na rotina a consulta a aplicativos de monitoramento de clima e outras ferramentas de agricultura de precisão, para elaborar mapa de colheita, via georreferenciamento, e eliminar sobreposição e falhas na pulverização. Quando necessário, recorre aos drones para vistoriar a saúde das lavouras.

Viudes planta atualmente 150 hectares. No verão, opta pela soja. No inverno, vai de trigo, milho e aveia. Depois que começou a pandemia, para retirar insumos na cooperativa, ele agenda um horário e evita contato com outras pessoas. E os aplicativos de bancos e da própria Cocamar são utilizados nas transações online– e até na comercialização da safra.

saiba mais

Podcast debate pesquisa inédita sobre comportamento do agricultor na pandemia

 

 

Também tornou-se um habitual espectador das lives para produtores rurais. Engenheiro mecânico de formação e agricultor desde 2006, casado e sem filhos, Viudes acredita que a Covid-19 antecipou em alguns anos a digitalização que seria inevitável também para a agricultura.

“Muita coisa veio para ficar. Encurta distâncias, agiliza processos. Mas também é verdade que às vezes a gente sente falta da proximidade com os funcionários, com os parceiros, amigos e vizinhos de propriedade. Eram pessoas que a gente via quase diariamente", conta.

saiba mais

ConectarAgro pretende levar internet 4G a 13 milhões de hectares na zona rural do Brasil

 

 

Na avaliação de Viudes, a adoção de tecnologias digitais é inevitável. “Não tem como retroceder. O grande problema atual é o custo. Os equipamentos ainda são caros. Mas vamos evoluindo e implementando gradativamente, avaliando investimento versus incremento na produção. Outro gargalo é a conectividade, que ainda não é boa, mesmo estando perto de grandes centros urbanos, como é o meu caso. Isso tem de melhorar. Na sede, tive de recorrer à internet via satélite", diz o produtor.

As soluções digitais também entraram de vez na vida do administrador Marcos Henrique  Sereniski, que desde março mantém fechada a porteira da Fazenda Brangus Brawir, que pertence ao Grupo Inquima, no distrito de Guaravera, em Londrina, norte do Paraná.

Marcos Henrique Sereninski administra Fazenda Brangus Brawir em Londrina (PR) (Foto: Sérgio Ranalli)

 

Antes, ele já utilizava ferramentas digitais importantes, como medições por GPS e imagens via satélite, para calcular tamanhos de áreas em projetos de reforma de pastagens ou medição de talhões para plantios. Com drones, avaliava a necessidade de aumentar a adubação ou corrigir o solo de forma localizada e com precisão.

Agora, Sereniski usa a conexão via satélite, instalada na sede da fazenda,para conversar, em tempo real, com o médico-veterinário Gustavo Gomes dos Santos, que fica a 100 quilômetros, numa fazenda em Assaí, também no norte paranaense.

Especialista em reprodução animal, Santos cuida das fertilizações in vitro das vacas e presta consultoria na criação do gado brangus. Usando a tecnologia, os dois conversam sobre estratégias de negócios e detalhes técnicos, como vete-rinário podendo visualizar alguns animais mesmo estando distante. Antes da pandemia, Santos iria até a fazenda.

saiba mais

Produtor mais conectado e agro digital são destaques na Globo Rural de agosto

 

Sereniski é categórico sobre o coronavírus. “Não queremos o vírus aqui. Além dos funcionários, outras pessoas só entram em casos de última necessidade. É uma forma de proteger os colaboradores e evitar a interrupção de nossa operação. Se alguém for contaminado, teremos de isolar todos os contatos, o que inviabiliza o trabalho.”

Nos 600 hectares da propriedade, são criados 2.100 animais em sistema de recria e engorda. Parte da área é ocupada com soja no verão e milho no inverno, consorciado com braquiária. Com os veterinários distantes, os peões e os encarregados foram treinados para fotografar os animais, fazer vídeos e interagir comos especialistas, tudo por meio das redes sociais.

saiba mais

Drone acelera pulverização de microbiológicos e reduz uso de água para hortaliças em SP

 

Sereniski reconhece que são novos tempos. “E muita coisa veio para ficar. Mesmo quando a pandemia passar, deslocamentos desnecessários, que antes aconteciam, serão evitados. Isso vai gerar mais rapidez e economia.” Ele próprio agora faz todo o serviço de administração de forma online: compra, vende e paga contas. Nem ao escritório do Grupo Inquima, que fica a 50 quilômetros, ele vai. “Todo cuidado é pouco,” resume.

Sobre as dificuldades que ainda devem ser vencidas para que a fazenda seja cada vez mais hi-tech, ele cita os custos e a conectividade. “O custo ainda é alto para o pequeno e o médio produtor e inviabiliza alguns investimentos. Nós somos  médios e,  em alguns casos, o retorno é a muito longo prazo, pelo volume que trabalhamos. Além disso, no nosso caso, o principal desafio é o acesso à internet. A que temos, via satélite, tem velocidade baixa e nos deixa travados aos limites da sede. Queremos acesso em toda a fazenda”, diz o administrador.

A adesão constatada é em todo o sistema de produção. O uso já vinha crescendo antes, mas toda essa situação de distanciamento acelerou – e muito – o processo"

Edson Bolfe, pesquisador da Embrapa Informática e coordenador do pesquisa sobre digitalização do agro

Com sede em Maringá(PR), a cooperativa Cocamar também está se adaptando aos tempos de pandemia. Leandro Cézar Teixeira, superintendente de relação como cooperado, conta que as tradicionais reuniões de prestação de contas da Cocamar, que aconteciam em 70 unidades, sempre no meio do ano, reunindo de 30 a 200 pessoas em cada uma, em 2020 foram substituídas por conferências virtuais.

Teixeira observa que a média de idade dos cooperados é de 58 anos. “Não podemos colocá-los em risco. Além disso, temos de proteger nossos funcionários. Há municípios em que só a Cocamar recebe a produção do homem do campo. Se há uma contaminação e temos de fechar por lá, prejudica muita gente”, diz ele.

saiba mais

Uso de estratégias para vendas digitais cresce no agronegócio em tempos de pandemia

 

Os produtores rurais brasileiros estão se reinventando para manter o agro em plena atividade, sem poder receber as visitas de fornecedores, compradores e dos técnicos que prestam assistência.

O isolamento social abriu de vez o caminho para a “agricultura digital”, conceito amplo que abrange desde ferramentas simples, como uso de internet ou de agricultura de precisão, até tecnologias avançadas no campo, como a inteligência artificial ou os superdrones. É o agro sendo controlado cada vez mais na ponta dos dedos, de forma remota e em tempo real.
Source: Rural

Leave a Reply