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Thomas Timm, Câmara de Comércio Brasil-Alemanha (Foto: Felipe Mairowski/Divulgação)

 

O Brasil tem boas práticas de sustentabilidade, mas precisa propagá-las melhor ao mesmo tempo que deve intensificar a rastreabilidade para desvincular o desmatamento do processo produtivo. É que defende Thomas Timm, vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo).

Em entrevista exclusiva a Globo Rural, ele explica que o Brasil é o principal parceiro da Alemanha na América Latina e, para se manter como grande fornecedor de alimentos para a Europa, é preciso melhorar a reputação pensando em manter, no futuro, os investidores que já estão em solo nacional.

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A seguir, confira os principais trechos da entrevista:

Globo Rural – Como a Alemanha tem avaliado a condução das pautas de meio ambiente no Brasil?
Thomas Timm – O desmatamento é anual, frequente, mas para a minha satisfação está sendo feito o que não foi feito no passado, que é perceber as consequências que isso traz e tentar trabalhar para diminuí-las. Por exemplo, na Alemanha está sendo divulgado o intervalo de 120 dias do desmatamento, não apenas o ilegal, mas como um todo. Isso é o que o Brasil precisa, divulgar o que tem sido feito de positivo.

GR – De que forma vocês enxergam a reputação do Brasil em relação à sustentabilidade?
Timm – A parte da agricultura eu considero como um grande potencial brasileiro, pela forma como o Brasil aproveita esses recursos e de que forma alinha a exploração sustentável. Isso vai definir a forma que compradores e investidores vão avaliar o país. Estamos engajados em alinhar a imagem do Brasil dentro da nossa realidade alemã. Isso faz com que o Brasil eleve o nível para outro patamar, que é a sustentabilidade. Existe o reconhecimento do governo brasileiro de tomar ações para melhorar o papel da reputação e, a partir do momento que você toma conhecimento, é possível sentar e conversar. Como se diz no Brasil, “santo de casa não faz milagre”. É bom falar de si, mas mais importante ainda é que outros que tenham o aval da opinião pública digam de que forma eles avaliam.

GR – E como alinhar essa imagem, então?
Timm – O Brasil deveria estabelecer um fact sheet, alguma coisa que menciona as boas práticas, e isso passa pelo Código Florestal. No Brasil, isso é muito mais rigoroso que na Alemanha, mas não se sabe. E com trabalho de divulgação do que é bom, isso vai repercutir em uma melhor imagem em relação ao que está sendo feito.

Se você quer, cada vez mais, fornecer para a comunidade europeia, você precisa atender esse tipo de exigência de sustentabilidade

 

GR – Se fôssemos colocar na balança o que o Brasil já faz em relação ao meio ambiente e o que se espera que ele faça, existe um equilíbrio?
Timm – Uma reputação não é um processo matemático. Tudo na vida depende do objetivo que você estabelece. Então, é precicso melhorar as estatísticas para fornecer à Alemanha e à Europa. Agora, a discussão do desmatamento é polêmica. Os números de estatísticas de desmatamento são cruciais para parcerias.

GR – O comércio entre países sofreu alguma alteração a partir dos dados de desmatamento divulgados neste ano?
Timm – Se você quer, cada vez mais, fornecer para a comunidade europeia, você precisa atender esse tipo de exigência de sustentabilidade, e isso vai aumentar o sucesso econômico do setor brasileiro. Porque uma hora vai acontecer que algumas cadeias do varejo da Alemanha não vão comprar produto brasileiro por causa desse viés de desmatamento na Amazônia, não só alimentos, mas todas as cadeias de consumo. É preciso intensificar a rastreabilidade desde a origem até a prateleira do supermercado. [O desmatamento] é um assunto que tem repercussões indiretas, não apenas à opinião pública, mas reflete nas decisões de investidores que têm aportes no Brasil e estão preparando o futuro. Uma empresa que está aqui não vai sair do dia para o outro, mas novos empreendimentos estão tendo mais ou menos cautela. O Brasil, com essa classificação em relação a problemas ambientais, está sendo classificado como um destino mais polêmico.

Seria uma pena se [o acordo com o Mercosul] não for ratificado. A Europa quer ser o primeiro parceiro do bloco, que é o maior produtor de alimentos no mundo

 

GR – Parcerias como Mercosul estão incluídas neste horizonte?
Timm – O Brasil é o maior parceiro na América Latina da Alemanha. O acordo com o Mercosul é altamente apoiado pelas empresas europeias que estão no Brasil. Há uma aprovação unânime dos benefícios, muito maiores do que os problemas do acordo, e ele está parado por interesses de alguns países. A Alemanha está na presidência do Conselho e quer manter isso na agenda para não cair no esquecimento. É uma chance de o Brasil e países vizinhos convencerem o outro bloco sobre questões ambientais, como parceiros de exploração sustentável. Seria uma pena se não for ratificado. A Europa quer ser o primeiro parceiro do bloco, que é o maior produtor de alimentos no mundo. Essa parceria é 10 vezes maior do que qualquer acordo que a Europa já fechou como Canadá ou Japão e tudo passa pelo cumprimento da seriedade do tema ambiental. No mundo atual, isso não pode ser restrito à comunidade europeia. A China não vai demorar para ter esses critérios, porque, em função da rastreabilidade dos produtos, você vai cumprir a legislação e, se a China quer continuar vendendo, também precisa atender esse tipo de requisito. Uma hora a sustentabilidade vai mandar.

GR – Qual a opinião da Câmara como o pronunciamento do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre "passar a boiada" e a tentativa de diminuir as metas de desmatamento ilegal na Amazônia, anunciada nesta semana?
Timm – Eu não posso dar opiniões públicas do que acho ou não acho da condução do Meio Ambiente. Não vou julgar se o ministro é bom ou ruim, isso cabe ao público brasileiro. Agora, eu meço muito os resultados. Então, se você tem objetivo de melhorar a  imagem no exterior e tem os recursos para aplicar, vamos ver se isso vai dar resultado.

GR – A Câmara acompanha as discussões sobre o Fundo Amazônia? Sabe se os recursos estão prestes a ser usados?
Timm – O Fundo Amazônia não é responsabilidade da Câmara. O que posso dizer é que foi um sinal muito positivo que o vice-presidente [Hamilton] Mourão chamou a responsabilidade para ele de conduzir as negociações. Mostra que, sem desmerecer ninguém, isso está sendo discutido em alto escalão.
Source: Rural

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