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Fachada dos remanescentes do Engenho Central em Piracicaba (SP) (Foto: Comunicação SemacTur/Divulgação)

 

Construído por decreto imperial a partir de 1881, o Engenho Central de Piracicaba, no interior de São Paulo, viu parte de sua estrutura histórica ficar em chamas em setembro do ano passado. O incêndio no dia 22 do mês atingiu aquilo que sobrou da grande propriedade produtora de açúcar, tipo de edificação agroindustrial que passou a ser utilizada no Brasil no final do século XIX. A causa foi um curto-circuito no cabeamento elétrico do Barracão 09.

No começo de julho de 2020, entretanto, as obras de restauração dos barracões atingidos – de números 09 e 10 – foram finalizadas. Iniciada em maio, a reforma parcial de adequação da estrutura e da rede elétrica não comprometeu as características arquitetônicas originais do Parque do Engenho Central, de acordo com as autoridades municipais. A infraestrutura atingida foi revitalizada pela recuperação e troca de janelas, telhado, forro, banheiro, portas, rede elétrica e pintura.

Em nota divulgada pela Secretaria Municipal de Ação Cultural e Turismo de Piracicaba (SemacTur), a secretária da pasta, Rosângela Camolese, afirmou que os serviços foram levaram funcionalidade e beleza ao espaço. Agora, o local atingido pelo incêndio acomoda uma sala da administração do Parque, além da coordenadoria do Programa Movimentação Cultural e o Centro de Documentação, Cultura e Política Negra (CDCPN).

Sala utilizada pela administração do Parque dentro do Barracão 09 do Engenho Central (Foto: Divulgação/Comunicação SemacTur.)

 

Apesar da finalização da reforma na estrutura histórica em razão do fogo, o Parque do Engenho Central segue fechado e sem data certa para voltar às atividades culturais e sociais que promove. De acordo com a secretária da SemacTur de Piracibaca, a reabertura aos visitantes depende da liberação do governo estadual em razão da pandemia de coronavírus.

Importância atual

A finalização da restauração em decorrência do incêndio traz à tona novamente a importância da preservação de prédios históricos no Brasil, principalmente em se tratando de edificação voltada ao processo agroindustrial do país.

Tombado nos âmbitos municipal e estadual como patrimônio industrial e fabril, o Engenho Central teve tombamento nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Rosângela Camolese afirma que as instalações servem de inspiração para artistas, arquitetos, pesquisadores científicos, turistas e amantes da história. "Ele é, também, um significativo sítio histórico da evolução urbana de Piracicaba", completa a secretária. 

Segundo o administrador atual do engenho, Dermival da Silva Pinto, o local é como uma história viva que deve ser preservada. “Para mim, além de ser um ponto turístico, é uma história dentro da cidade. É bem marcante, é uma história viva. É difícil hoje a gente encontrar um local desses’’, avalia.

História

A fala do admistrador do Parque corrobora com posição do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico do Estado de São Paulo (Condephaat), que designa o local como “principal remanescente paulista do projeto de implantação do sistema de engenhos centrais no Brasil”.

Engenho Central às margens do Rio Piracicaba em foto tirada no século XX, sem data precisa (Foto: Acervo Biblioteca IBGE)

 

Erguido no local de fundação da Freguesia de Santo Antônio de Piracicaba, o engenho original foi construído com materiais importados da França, como a estrutura de ferro pré-fabricada. O local ''não seguia o padrão tipológico e construtivo tradicional dos engenhos centrais pioneiros no Brasil, do final do século XIX e início do XX", como relatam os autores Marcelo Cachioni e Beatriz Mugayar Kühl no artigo "Engenho central de Piracicaba: recuperação da memória arquitetônica a partir da arqueologia industrial". 

Assim, teve suas atividades iniciadas em 1882 com a finalidade de processar toneladas de cana-de-açúcar com mais rapidez que aqueles movidos à força de mula. A unidade poderia então transformar a cana em açúcar, melaço e aguardente de cana.

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Estar situado logo à margem do Rio Piracicaba também era estratégico, uma vez que o curso da água foi utilizado como rota de navegação de pequenos vapores e como fonte de abastecimento para engenhos e fazendas de cana e café, de acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A concorrência do açúcar de outros países latino-americanos e a dificuldade de mão-obra-especializada fizeram com que, a partir da década de 1950, a produção dos engenhos centrais espalhados pelo Brasil decaísse. Em 1970, a usina foi vendida para a Usinas Brasileiras de Açúcar, que operou até 1974, ano de sua desativação.

Atualmente, o espaço não abriga mais os edifícios industriais em si nem fragamentos do que foi fabricado e dos métodos de produção.

Turismo

Hoje, o Engenho Central reúne edificações dos séculos XIX e XX que já abrigaram moendas, caldeiras e armazéns para a produção e estocagem de açúcar e álcool. O local configura também um importante elemento turístico de Piracicaba, cidade de 404.142 habitantes, de acordo com estimativa de 2019 do IBGE.

Localizado à margem direita do Rio Piracicaba, o engenho viu em tempos mais recentes a formação de um conjunto de restaurantes do outro lado das águas, na Rua do Porto, como lembra Dermival da Silva Pinto, o administrador do Parque. “Temos duas pontes – uma passarela pênsil e uma estaiada – que atravessam de um local para o outro’’, diz.

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Ali, com uma série de restaurantes à escolha do freguês, é possível experimentar a gastronomia local, baseada em peixes e frutos do mar, com destaque para o tradicional pintado. Além disso, o parque tem cerca de 85 mil m², com um teatro capaz de receber 400 pessoas e o Salão Internacional do Humor abrigados nas imediações.

“Fora isso, temos uma feira de artesanato fixa que funciona de sábado e domingo e, durante o ano, festas fixas ao ar livre com tendas, como Festa do Sorvete, das Nações e a Paixão de Cristo. Fazemos locação para eventos, como shows, palestras, casamentos’’, comenta Dermival, descrevendo a rotina no local antes do avanço da pandemia de Covid-19.

O incêndio

Na noite de 22 de setembro de 2019, chamas vindas do mezanino do Barracão 09 acometeram parte do local, as quais foram rapidamente apagadas com uso da água do caminhão e também do reservatório do engenho pelo Corpo de Bombeiros.

De acordo com laudo pericial do Instituto de Criminalística da Superintendência da Polícia Técnico-Científica, da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo, o fogo foi causado por curto circuito no cabeamento elétrico do barracão.

Na época do incêndio, uma exposição paralela do Salão Internacional de Humor era abrigada no Barracão 09. As obras não foram atingidas pelo fogo, ficando preservadas, mas foram queimados materiais de uso cultural e de escritório, assim como alguns documentos e figurinos do Centro de Documentação, Cultura e Política Negra. O local exato destruído ficou isolado, mas os visitantes ainda podiam desfrutar das dependências do parque normalmente.

Destruição causada pelo fogo no interior de parte do Engenho (Foto: Divulgação/Comunicação SemacTur)

 

Com o término da restauração neste ano, mas ainda sem reabertura total para o público, Dermival ressalta que o período de isolamento por conta da pandemia tem sido utilizado para restauro geral do local, como pintura, sinalizações de emergência e ajustes hidráulicos. 

Rosângela Camolese, secretária de cultura e turismo da cidade, garante que o engenho vem sendo gradativamente recuperado e revitalizado. ''Sua preservação, em todas as instâncias, traduz respeito incondicional às gerações passadas e mantém viva boa parte da história de Piracicaba, do açúcar e do álcool em São Paulo e no Brasil'', conclui.
Source: Rural

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