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(Foto: Reprodução)

 

Por conta da pandemia do coronavírus, as maiores das feiras agrícolas foram canceladas em 2020. Isso levou a uma mudança na forma de fazer negócios para o setor de máquinas.

Sem os eventos em todo o país para a apresentação dos enormes tratores, colheitadeiras, plantadeiras e pulverizadores, as empresas precisaram encontrar outra maneira de chegar aos produtores, até para um melhor atendimento no pós-venda. 

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Esses desafios foram tema de debate com executivos do setor em live transmitida pela Globo Rural nesta sexta-feira (26/6). Participaram da discussão o presidente da Jacto, Fernando Gonçalves, o vice-presidente da New Holland América do Sul, Rafael Miotto, e o presidente da AGCO na América do Sul, Luis Felli. A mediação foi do editor-chefe da Globo Rural, Cassiano Ribeiro.

Assista ao debate, na integra

Confira os principais pontos discutidos

 

Cancelamento de feiras

“Não vejo uma mudança na demanda. A demanda está colocada, as necessidades do agricultor estão aí. Mas, com certeza, tem uma mudança na rotina de venda em termos de como a gente apresentava um lançamento e as promoções e condições especiais ao redor das feiras. Agora, está mais distribuído em um calendário diferente”, afirmou o vice-presidente da New Holland América do Sul, Rafael Miotto, sobre o cancelamento da Agrishow, maior feira de tecnologia da América Latina, que no ano passado teve faturamento de R$ 2,9 bilhões.

Para o presidente do Grupo AGCO na América do Sul, Luis Felli, apesar da pandemia, o momento trouxe oportunidades. “Você está criando um contexto para acessar o seu cliente de uma forma diferente. Temos salas de negócios entre a concessionária e o agricultor. Não podemos esquecer que 60% dos agricultores estão nas mídias sociais com o WhatsApp e 30% deles disseram estar dispostos a comprar insumos pela internet. Acho que esse momento é de oportunidades”, avaliou o executivo.

Na opinião do presidente da Jacto, Fernando Gonçalves, os canais digitais devem funcionar como um complemento da venda física no futuro. “As mudanças que vieram com a Covid-19 tendem a ficar como uma camada a mais. Nós não vamos deixar de ter uma feira presencial. Agora, a camada digital veio e mudou bastante. A gente tem feito feiras digitais e tem dado muito resultado. Mas a dinâmica com esses é diferente”, disse.

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Marketplaces

Apesar dos bons resultados obtidos em diversas etapas do setor de máquinas, como o atendimento no pós-vendas, a avaliação dos executivos é de que, por conta dos altos investimentos necessários para a compra de um novo trator, o agricultor ainda prefere fechar o negócio presencialmente.

"O agricultor quer o tête-à-tête no final. No final do dia, para comprar uma máquina de R$ 1 milhão a R$ 1,5 milhão, ele quer esse contato. Até por conta da assitência técnica. Mas, o detalhamento, um tour virtual, são oportunidades de avançar o processo. Você pode até fechar (a venda). Mas é até compreensível que ele queira fechar o negócio de forma presencial", disse Luis Felli, da AGCO.

"Do ponto de vista da comercialização, está muito tranquilo de chegar até os trâmites finais. Mas, no momento de fechar, ainda tem a vontade de acertar a compra presencialmente. Quando o produto não é conhecido do produtor ou é um produto novo, ainda tem uma vontade do produtor de ver a máquina", explicou Rafael Miotto, da New Holland.

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Impacto da pandemia

Segundo Fernando Gonçalves, um dos maiores gargalos enfrentados durante a Covid-19 é a dificuldade dos fornecedores em entregar componentes para as máquinas. "Isso causa um ruído na cadeia. Mas nós conseguimos entregar. Em abril, tivemos um problema maior porque ficamos três semanas parados e agora que estamos conseguindo tirar o atraso", disse.

De acordo com Luis Felli, da AGCO, houve o contato com outras empresas do setor para o apoio aos fornecedores. "Muitos tiveram problemas financeiros e de funcionamento, mas várias empresas participaram desse esforço", afirmou. "O principal desafio foi na cadeia de suprimentos. No início de abril, mais de 2 mil decretos municipais e estaduais foram estabelecidos. Isso criou uma dificuldade operacional, completou.

Plano Safra

Apesar da queda de juros anunciada pelo Ministério da Agricultura no Plano Safra 2020/2021 ser menor do que a desejada pelo setor, o entendimento é de que foi feito o possível, considerando o momento de calamidade pública.

"O que eu achei muito positivo no foi que o custeio baixou muito, de 8% para 6%, é uma mudança importante. No Moderfrota (linha para o financiamento de máquinas), caiu de 8,5% para 7,5%. E os recursos aumentaram no todo em 6%. A gente sabe que é uma batalha, porque as outras áreas também precisam. É um grande desafio dentro da situação que se encontra o país", disse Luis Felli, da AGCO.

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"Temos que celebrar o anúncio do Plano Safra extremamente significativo, um pouco maior do que no ano passado, no momento em que as instituições públicas estão enfrentando a maior crise da história. Se reconhece que a agricultura é uma prioridade e vai ajudar com que o Brasil saia um pouco mais rápido dessa crise", pontuou Rafael Miotto, da New Holland.

"O plano veio bom, com taxas razoáveis. Se você ver a Selic daqui a 5 anos, esse valor é muito mais alto. Diante da situação, o valor que veio e a redução de juros são uma vitória da ministra (da Agricultura, Tereza Cristina)", disse Fernando Gonçalves, da Jacto. "A gente precisa, no longo prazo, ir tratando com as ferramentas financeiras do mercado. Precisamos ter regulamentação e estrutura financeira para não dependermos, no longo prazo, de um dinheiro do Moderfrota", completou.

Argentina e América do Sul

As empresas também estão de olho nos países vizinhos, que podem ajudar na recuperação das receitas ao nível pré-pandemia com a exportação de máquinas na América do Sul.

"Há muita variação entre os países. É algo complexo. Na Argentina, tem uma safra excelente. O produtor local também se beneficia, assim como o brasileiro, da desvalorização da moeda local. Você compra a máquina em dólar. como ele gosta de se refugiar em dólar quando ele acha que vai ter uma desvalorização do peso, ele está comprando máquinas", diz Rafael Miotto, da New Holland.

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Para Fernando Gonçalves, da Jacto, a dificuldade da Argentina em negociar a sua dívida externa pode gerar dificuldades na retomada das atividades e impactar no câmbio local "Para cada coisa que você vai fazer lá, você tem um tipo de dólar. Existe um risco de uma desvalorização. Se acontecer, os juros vão ter que subir e aí a comercialização de investimentos fica muito complexa de ser feita", diz.

A avaliação sobre demais países da região é de maior dificuldade. "Quando você vai para Uruguai, Bolívia, Chile, as commodities exportação estão com dólar na veia no preço final. Ele acaba ficando refém do preço final e aí a coisa não tá legal", afirmou Miotto, da New Holland.

Impacto em investimentos e novas tecnologias

Os executivos admitem que houve uma paralisação momentânea em investimentos por conta da instabilidade na economia gerada pela pandemia. No entanto, o nível dos aportes devem ser mantidos no longo prazo.

"Os atrasos em investimentos foram muito pequenos em comparação ao efeito de atrapalhar os nossos processos para o desenvolvimento de produtos. Os times de engenharia e desenvolvimento são apenas uma parte da cadeia. Você tem um exército no campo fazendo testes de validação. Mas acredito que nós vamos recuperar rapidamente, disse  Rafael Miotto, da New Holland.

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“Quando você fala da pandemia, sempre traz atrasos. Só que quando a gente fala de uma nova tecnologia, a gente fala de investimentos de anos. Nós, da Jacto, investimos perto de 4,5% a 5% do nosso faturamento (anual) em pesquisa e desenvolvimento. São coisas de longo prazo”, declarou Fernando Gonçalves, da Jacto.

Luis Felli, da AGCO, reitera que a companhia deve manter o nível de aporte dos últimos anos. “Nós estamos em ciclo muito alto de investimentos. Nos últimos quatro anos, investimos mais de US$ 300 milhões entre inovação, modernização de plantas, manufatura 4.0 e, principalmente, em novos produtos”, pontuou.
Source: Rural

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