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(Foto: Cristiano Martins / Arquivo / Ag. Pará )

 

Parlamentares e entidades do agronegócio e do setor ambiental têm demonstrado receio de que o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia seja desfeito, em uma iniciativa dos europeus, por conta do avanço do desmatamento na Amazônia.

Uma postura que exemplifica a preocupação foi a fala do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na reunião ministerial do dia 22 de abril. Na ocasião, ele sugeriu aproveitar que o foco da imprensa está na cobertura da pandemia de Covid-19 para "ir passando a boiada", o que incluiria mudanças em regras e normas.

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Segundo o senador Fabiano Contarato (Rede-ES), que visitou países da comunidade europeia no último ano acompanhado de parlamentares e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o acordo não será sacramentado caso o Brasil não mude o seu posicionamento em relação ao meio ambiente.

“Nós ouvimos (críticas) de vários países. Um pouco antes da quarentena, tínhamos uma outra visita técnica agendada do parlamento europeu, e o que a gente vem ouvindo de vários embaixadores é que, se o Brasil não adotar uma política de sustentabilidade, esquece o acordo com a União Europeia”, afirmou o senador.

 

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Para o parlamentar, o país está cometendo erros de maneira “estratégica” no aspecto ambiental. “O Brasil está na contramão da história. Não existe hoje desenvolvimento que não passe pela gestão da sustentabilidade. Aceitar o que está acontecendo hoje é imperdoável”, disse Contarato.

Em entrevista à Globo Rural, a ex-ministra da área, Marina Silva, afirmou que o país já sofre prejuízos econômicos por conta do desgaste na imagem mundo afora. “Nós já estamos prejudicando o acordo do Mercosul com a União Europeia, nós ficamos de fora dessa rodada de mais de 50 países, liderados pelas Nações Unidas, que estão fazendo os esforços para investimentos para o pós coronavírus”, ressaltou.

Resistência internacional

Estimativas do Ministério da Economia indicam que o acordo representará um aumento de US$ 87,5 bilhões no PIB brasileiro em 15 anos, podendo alcançar até US$ 125 bilhões, considerando a redução das barreiras não tarifárias e o incremento esperado na produtividade.

Entretanto, na última quarta-feira (3/6), parlamentares holandeses aprovaram moção contra a ratificação do acordo de livre comércio anunciado no fim de junho de 2019 após mais de 20 anos de discussão. A principal preocupação é em relação à Amazônia – uma posição final do país ainda depende da resposta do governo holandês no parlamento europeu.

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Por outro lado, o parlamento da Áustria já havia aprovado moção contrária, o que, neste caso, obriga o governo a se posicionar contra o acordo comercial. Da mesma maneira, a ministra do Meio Ambiente da França, Elisabeth Borne, recusou a ratificação da parceria em outubro do ano passado por conta das condições de sustentabilidade na Amazônia.

Por conta do dano à imagem do Brasil e dos produtores de alimentos brasileiros, mesmo entidades do agronegócio têm se posicionado de forma contrária à postura do governo. “Nós mudamos a Previdência de forma transparente. Não precisa passar as coisas de baciada. Então, pegou mal. Pega mal para o agro”, afirmou na última semana o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, Marcello Brito.

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Uma mudança de atitude do governo foi vista na fala do vice-presidente, Hamilton Mourão. Em entrevista na última quinta-feira (4/6), ele destacou a importância de recursos para a Amazônia, visando auxiliar as equipes que fiscalizam o desmatamento na região. Também sinalizou que o país precisa da ajuda da comunidade internacional.

“As medidas [de combate] têm que ser contínuas. E, para isso, precisamos de recursos. Vamos enfrentar desde já com o que temos, como as Forças Armadas, buscarmos recursos internacionais, daí a revitalização do Fundo Amazônia, que hoje tem R$ 2,8 bilhões parados no BNDES", disse Mourão.

Procurado, o Ministério do Meio Ambiente não respondeu aos questionamentos de Globo Rural até a publicação desta reportagem.
Source: Rural

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