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Pesuisa feita por empresa britância foi analisada por dois anos antes de ter sua aprovação no Brasil (Foto: Divulgação/Oxitec)

 

Uma novidade na tecnologia para o controle biológico seguro do Aedes aegypti, mosquito transmissor dos vírus da dengue, zica e chikungunha, foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio) e, no futuro, poderá ser usada contra pragas em lavouras. Desenvolvida pela Oxitec, empresa com sede na Inglaterra de soluções biológicas direcionadas para o controle de insetos, a nova linhagem do "Aedes do Bem" usa mini-cápsulas que, em contato com a água, liberam ovos de insetos geneticamente modificados.

Inicialmente, a tecnologia do Bem foi desenvolvida na Universidade de Oxford, na Inglaterra, com o objetivo de modificar geneticamente insetos para que pudessem controlar a disseminação da população da própria espécie. O Aedes aegypti foi o primeiro que o grupo liderado pelo pesquisador do Departamento de Zootecnia da Universidade, Luke Alphey. No entanto, a tecnologia pode ser usada em qualquer inseto causador de doenças ou pragas na agricultura.

A Oxitec já está com pesquisas em desenvolvimento para aplicar a tecnologia de segunda geração (autolimitante) para controle da lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens), uma das principais da cultura da soja, e para a lagarta-do-cartuxo do milho (Spodoptera frugiperda).

A diretora geral da Oxitec no Brasil e doutora em Genética e Biologia molecular, Natália Ferreira, explica que a tecnologia envolve a modificação de apenas dois genes do DNA da espécie. Um gene é inserido para ser marcador, para o inseto modificado ficar flourescente sob determinado tipo de luz e te sua presença monitorada. O segundo gene é o de controle da população, que já está presente no DNA de muitas espécies.

Esse gene é usado para produzir proteínas como parte do metabolismo normal das células. Os cientistas colocaram uma sequência de DNA que regula a produção dessa proteína. “Ao invés de produzir uma quantidade normal dessa proteína, o inseto produz muito dessa proteína nas suas células, o que provoca um desbalanço, a célula não consegue regular esse problema e acaba morrendo, provocando a morte do inseto”, explica a cientista.

Dentro do laboratório, esse mecanismo é barrado com a adição de um antídoto – que não está presente no ambiente – com o objetivo de preservar os insetos para serem soltos, cruzem e produzam uma superpopulação dos espécimes modificados. “Então, quando eu solto esse inseto na natureza, que são todos machos, ele vai acasalar com uma fêmea, ela coloca ovos, desses ovos, todas as larvas que nascerem e que forem fêmeas irão morrer devido a esse desbalanço de proteína nas células, e que não está presente nos machos. Esses machos irão sobreviver e podem cruzar novamente com uma nova fêmea. E o ciclo se repete”, ressalta a pesquisadora.

A cada nova geração, aproximadamente 50% da descendência morre, considerando um macho para cada fêmea. Isso faz com que, no caso do A. aegypti, sem a presença de fêmeas no ambiente – e são elas que picam e transmitem as doenças – seja possível controlar a disseminação do vírus. “Além disso, com cada vez menos fêmeas, eu tenho cada vez menos ovos, a população diminui e, como não tem o inseto vetor, consequentemente a transmissão da doença também diminui”, completa Natália.

No caso das lagartas agrícolas, ocorre o mesmo: a cada geração, há metade da população que havia e isso vai diminuindo até que a praga desapareça no campo.

oxitec-capsula (Foto: Divulgação/Oxitec)

Mini-cápsulas

As mini-cápsulas são o método que a Oxitec desenvolveu para fazer a disseminação da tecnologia do A. aegypti no ambiente urbano. Até hoje, os projetos que tinham sido feitos eram na liberação de insetos adultos.

“Agora, temos o que chamamos de segunda geração, em que incorporamos esse mecanismo – autolimitante – ao sexo, de maneira que isso só aconteça nas fêmeas. Por conta disso, eu não preciso mais liberar só machos adultos, posso liberar ovos no ambiente. Porque não tem nenhum risco de nascer nenhuma fêmea daqueles ovos”, diz Natália.

Na primeira geração, essas fêmeas eram separadas manualmente, uma a uma, nas biofábricas. De acordo com a empresa, nessa nova geração, basta serem produzidos os ovos, mais estáveis que os insetos machos adultos e que podem ser encapsulados, estocados e enviados para qualquer lugar do Brasil.

“Basta colocar as cápsulas em contato com a água, os ovos irão eclodir, apenas os machos sobrevivem porque as fêmeas morrem na fase inicial de larva, e os machos vão se desenvolver naturalmente no ambiente, irão encontrar fêmeas adultas, vão acasalar e ocorrer todo o processo descrito”, explica ela.

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Ao longo do último dois anos, o CTNBio, ligado ao Ministério da Ciencia e Tecnologia produziu um dossiê a partir de estudos. Na semana passada, a conclusão positiva à biossegurança do produto foi publicada no Diário Oficial. Com a aprovação, a tecnologia vai a campo para um último ensaio para demonstrar a eficácia do produto em escala maior. Segundo Natália, a partir de outubro, temporada de altas temperaturas e chuvas, e quando ocorre uma maior infestação do mosquito no ambiente, as mini-cápsulas serão testadas.

“Feito isso, estaremos prontos para conseguir o registro desse produto pra venda. Esperamos que, daqui a aproximadamente um ano, já tenhamos esse produto pronto para o mercado, que são prefeituras – responsáveis hoje pelo controle de vetores – mas também estará disponível para a sociedade organizada – condomínios, clubes, hotéis, empresas – e até mesmo o consumidor final, adquirindo no supermercado como faz com o repelente”, explica Natália. 

“Essa é a beleza da tecnologia: ela é acessível, não requer nenhum equipamento especial ou treinamento e, ao contrário dos inseticidas, não tem nenhuma ação tóxica que possa causar alguma reação ao meio ambiente ou animais”
Source: Rural

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