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(Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

 

O avanço da Covid-19 em frigoríficos brasileiros, com a consequente suspensão de operações, tem tirado o sono dos criadores de aves e suínos que fornecem animais para serem abatidos nessas indústrias.

Na região Sul, onde esses produtores operam em sistema de integração e chegam a oferecer toda a produção para uma única empresa, perda de renda e medidas de controle de oferta, como redução da alimentação e do alojamento de animais, já são uma realidade.

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“O que se está fazendo, na medida do possível, é reduzir a alimentação para atrasar o abate, mas vai chegar uma hora que vai sobrecarregar a indústria porque dependendo do tempo que ficar parado, teremos um grande número de animais disponíveis”, explica Losivanio Luiz de Lorenzi, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS).

O Estado teve uma unidade de abate de aves da JBS fechada em Ipumirim (SC) e redução da força de trabalho na BRF em Concórdia (SC), onde são abatidos 4 mil suínos diariamente.

Pequenos produtores

 

De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o setor conta com 170 mil famílias de criadores de aves e suínos integradas às empresas do setor, em sua ampla maioria pequenos e médios produtores.

“O produtor tem sua renda baseada na entrega dos lotes e isso acaba atrapalhando a renda, além de gerar impacto emocional, pois todo dia ele vê aqueles animais ocupando o espaço que não deveriam mais estar ocupando”, conta Valdecir Luis Folador, presidente da Associação de Criadores de Suínos do RS (ACSURS).

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Em seu último relatório de atividades, o serviço de inspeção federal do Ministério da Agricultura apontou que  42 frigoríficos suspenderam operações em algum momento em abril para controle e prevenção da Covid-19. 

Lorenzi avalia que a redução de 50% na mão de obra dos frigoríficos, como vem determinando o Ministério Público do Trabalho, comprometa em cerca de 35% a produção da indústria, o que seria mais administrável no campo do que a interdição completa.

Nossa preocupação é sempre com a parada total, porque, aí sim, a gente fica muito preocupado com a forma como vai acontecer o negócio

Losivanio Luiz de Lorenzi, presidente da ACCS

 

No caso de aves, gerente executivo do Sindicarne e da Associação Catarinense de Avicultura (ACAV), Jorge de Lima, avalia que os impactos da redução da produção são equivalentes ao fechamento total, embora em proporções menores. “Em uma semana você chega no ponto crítico”, ressalta. 

Segundo ele ele, Santa Catarina abate mais de 3 milhões de aves por dia, além de 30 mil suínos. “O fechamento de um frigorífico tem consequências muito graves, é diferente de fechar uma indústria plástica. Nossa matéria-prima é um animal vivo, não tem como deixar parado num canto sem engordar”, lembra o avicultor.

Perda de renda

 

O efeito mais imediato da perda desses animais está na renda dos produtores integrados em um ano de custos mais altos e oportunidades no mercado internacional. “Quando não há abate, o produtor tem que devolver esse animal a um valor estabelecido em cláusulas contratuais e deixar de ganhar o que obteria ao vendê-lo a valor de mercado”, explica o presidente do Sindicarne/ACAV.

Segundo ele, o pagamento dos produtores segue uma trabalha com bônus por produtividade e condições de mercado. “Se não tem mercado, ele vai receber um valor abaixo do que teria potencial de ganhar”, destaca Lima.

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Segundo a ABPA, o setor precisou realizar abate emergencial em apenas um caso, em Lajeado, onde a BRF anunciou o descarte de 100 mil aves após uma semana fechada. Junto com a JBS, em Passo Fundo, a empresa havia pedido autorização para realizar o abate emergencial de 4 mil suínos por dia e 940 mil aves.

“Eles conseguiram evitar isso porque o fechamento foi temporário mas, no caso da JBS, se não houvesse a reabertura de Passo Fundo teriam de ser abatidas 320 mil aves por dia”, explica Francisco Turra, vice-presidente da associação.

Transferência da produção

Para contornar a suspensão dos abates, a indústria tem transferido parte da sua produção para unidades ociosas. A estratégia, contudo, possui um limite, como explica o diretor executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (ASGAV), José Eduardo dos Santos.

“O que tinha sido escoado para outras unidades já estava comprometendo a capacidade dessas unidades, que estavam no limite”, observa o produtor, ao comentar o fechamento da JBS em Passo Fundo e da BRF em Lajeado, ambas no Rio Grande do Sul.

Com isso, a situação no campo é de apreensão, conforme os lotes de animais vão se acumulando. Ele não descarta, entretanto, o risco de novos abates emergenciais no Estado.

Não tem mais onde botar os animais. Se passar do ponto, eles vão ser descartados e não será por falta de qualidade, mas por falta de espaço

Valdecir Luis Folador, presidente da ACSURS

“Por enquanto, dá pra se dizer que a situação está dentro de certa normalidade. Apertou um pouco, atrasar algumas entregas, mas nada fora do controle. Agora, se continuar fechando frigorífico, a coisa complica”, relata o presidente da ACSURS.
Source: Rural

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