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Demanda firma dos países árabes tem levado empresas a pedirem até dois meses para atender pedidos de importadores (Foto: Fabiano Accorsi/Ed. Globo)

 

Em meio a um crescimento de mais de 9% nas exportações brasileiras, com mais de um milhão de toneladas embarcadas no primeiro trimestre deste ano, importadores árabes têm relatado dificuldades de encontrar carne de frango no Brasil. Destino de 36% das exportações brasileiras, esses mercados têm apresentado demanda acima do planejado pela indústria após o início da pandemia de Covid-19.

“Normalmente, a demanda entre os países árabes diminui após a realização do Ramadã, mas como existe essa insegurança sobre como vai ficar o mundo, esses países estão estocando muito alimento”, explica Tamer Mansour, secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB). 

Ele explica que nos mercados com maior renda per capta, como os do Golfo Pérsico, as tradicionais viagens de férias estão suspensas. “Isso significou um aumento na demanda que não foi levado em consideração pelos exportadores na hora de fazer o alojamento de pintinhos no início do ano”, ressalta.

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O secretário-geral da CCAB lembra que não houve nenhum impacto sobre os contratos de exportação já firmados, mas que tem havido dificuldade no fechamento de novas compras por parte dos clientes árabes. “Temos, sim, uma certa dificuldade, neste momento, de cobrir
as demandas que estão surgindo”, reconhece. Segundo a CCAB, o Brasil responde por 80% das importações de frango do Oriente Médio. “Eu não acredito em concorrência, mas em preocupação de o Brasil não atender a demanda”, avalia Mansour.

Nos abates, o ritmo das certificações halal, que garantem o respeito aos preceitos islâmicos, confirma o aumento da demanda mesmo após o período do Ramadã, que este ano vai do dia 23 de abril a 23 de maio. “Existe uma expectativa de que após o coronavírus haverá
um boom no mercado, com um crescimento muito forte”, aponta Ali Saifi, diretor executivo da certificadora Cdial Halal.

Covid-19 no Brasil

Os importadores árabes têm observado com apreensão o aumento de casos de Covid-19 em frigoríficos brasileiros, sobretudo de aves. Segundo a Globo Rural apurou, pelo menos cinco unidades com casos confirmados no Rio Grande do Sul são habilitadas a exportar para o mercado árabe, entre elas a JBS de Passo Fundo, interditada por 14 dias pela Justiça do Trabalho.

“A situação é preocupante porque, se esses frigoríficos forem suspensos por muito tempo, isso significará que vamos diminuir a oferta para os países árabes, criando um intervalo maior de falta do produto”, avalia Mansour, da CCAB. A região Sul do Brasil respondeu por 81,3% das exportações de carne de frango do país no primeiro trimestre deste ano, sendo o Rio Grande do Sul o terceiro maior exportador, com 166,2 mil toneladas embarcadas.

China

Mansour ressalta ainda que o aumento da demanda chinesa eleva a concorrência na hora de adquirir a carne de frango brasileira. “A China voltou a comprar agressivamente e isso também diminui um pouco a oferta para outros países, tendo em vista que os árabes, na maioria das vezes, compram o frango inteiro e não são todos os frigoríficos que fazem isso no Brasil”, explica.

O padrão de frango exportado para os países árabes é chamado de griller e, além de ser vendido inteiro, possui um peso menor em relação ao destinado para outros mercados. Com isso, nem mesmo a habilitação de novas unidades, como feito pelo Egito, tem sido suficiente
para atender a demanda por esse tipo de produto. O país só importa o animal inteiro e habilitou 27 unidades de aves no Brasil em abril deste ano atento a possíveis impactos do novo coronavírus no mercado mundial.

“Isso não muda tanto a situação da oferta, visto que que pequenos e médios frigoríficos de Rio Grande do Sul e Santa Catarina preferem produzir frangos maiores para corte do que o griller inteiro para os árabes”, avalia o secretário geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB).

Dois meses

 

Tamer Mansour relata que a indústria tem dado um prazo de até dois meses para atender aos pedidos dos importadores árabes. “Esse é o tempo que eles precisam para acrescentar mais pintinhos em campo do que estava sendo planejado para essa época”, explica o secretário-geral da CCAB ao classificar a posição da indústria brasileira como correta. “Foi feito um planejamento em cima do que acontece normalmente. Mas não é normal o que vai ocorrer este ano”, reconhece.

Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) reconhece o “momento atípico global com a epidemia de Covid-19” e ressalta que o setor “tem capacidade e conseguirá atender a demanda de importação de carne de frango pelos países islâmicos”. “O Brasil
é o maior exportador de carne de frango halal do mundo. Quase metade de nossas exportações totais são destinadas aos mercados importadores destes produtos específicos.  Apesar das variações registradas nos diversos mercados, o fluxo total de exportações não apresenta forte alteração na comparação com anos anteriores”, explica a entidade.
Source: Rural

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