Exportações de carne de frango cresceram, 8% no primeiro trimestre e mantiveram tendência em abril (Foto: Globo Rural)
Em meio à crise trazida pelo coronavírus, as exportações brasileiras de carne de frango sustentaram resultados positivos, compensando a queda de consumo no mercado interno e ajudando a indústria a manter seus níveis de produção. Foi o que afirmou o diretor-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, em entrevista transmitida ao vivo pelo perfil da Globo Rural no Instagram, na terça-feira (5/5).
Segundo ele, no acumulado dos primeiros três meses do ano, os embarques de carne de frango do Brasil para outros países cresceram 8% em comparação com o mesmo período no ano passado. Os dados relativos a abril ainda estão sendo fechados, mas a expectativa é de um aumento entre 5% e 6% na comparação com o mesmo mês de 2019.
“Isso está em boa hora, porque tivemos uma diminuição do consumo no mercado interno e isso equilibrou e fez com que a indústria mantivesse sua produção. Estamos produzindo bem para o Brasil, porque o brasileiro é nosso maior cliente, mas temos também que cuidar das nossas exportações, que trazem divisas”, comentou.
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No mercado externo, a China, é o maior comprador individual da carne de frango brasileira. Segundo Ricardo Santin, as exportações para o país asiático seguem tendência de crescimento, o que deve se acentuar ainda mais no segundo semestre. O diretor da ABPA lembra que o mercado chinês ainda sente os efeitos da peste suína africana, que desequilibrou o quadro de oferta e demanda de proteína animal.
Em paralelo, a indústria tem trabalhado na diversificação de mercados. “Estamos tentando abrir mercados: Bangladesh, Índia, que já está aberto, mas precisamos efetivar. Temos painel na Indonésia. Todos os mercados são importantes, mas o Brasil também consolida suas posições”, disse ele, destacando ainda que a indústria espera o retorno de cotas de exportação para o México e a reabilitação de plantas exportadoras para a Europa.
Vendas no Oriente Médio
Outro mercado importante, como bloco de países, é o Oriente Médio. Santin destacou que o Brasil é o maior exportador mundial de frango halal (preparado de acordo com os preceitos da religião islâmica). Executivos que têm negócios ligados aos países árabes relataram uma dificuldade de adquirir o produto brasileiro, por conta dos efeitos do coronavírus sobre o mercado e a necessidade de adaptação da indústria.
O executivo da ABPA acredita na possibilidade de ser uma situação pontual. “Somos grandes vendedores de produção halal e pode ser que tenha sido uma coisa pontual. O coronavírus tem feito algumas produções mundiais diminuir. É assim no Oriente Médio. E o Brasil conseguiu manter”, explicou.
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O diretor-executivo da ABPA acrescentou ainda que as unidades industriais do Brasil vêm mantendo os padrões de qualidade e sanidade dos produtos. Mas as linhas de produção passaram por adaptações por conta da pandemia de coronavírus, levando, por exemplo, ao afastamento de trabalhadores que fazem parte dos grupos de maior risco de contágio.
Do ponto de vista do consumidor, Ricardo Santin disse acreditar que a mudança de hábito induzida pela pandemia, com a alimentação mais dentro de casa, e o aumento da procura por proteínas como a carne de frango devem deixar um efeito positivo para a indústria, já que as pessoas tendem a incluir mais esses produtos no seu cardápio.
“Essa mudança pode vir, sim, em benefício da indústria. As pessoas que antes comiam menos carne de frango, que consumiam menos ovos, passaram a consumir mais. Vão parar de comprar o que estavam acostumadas e verão alternativas para a nossa indústria e o nosso produtor”, afirmou.
Cenário nada confortável
Também em entrevista transmitida pelo Instagram da Globo Rural, a CEO da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, avaliou que, neste momento, a situação da avicultura não está confortável, mesmo com a maior demanda por frango e ovos. Segundo ela, a queda no food service e sua substituição pela alimentação em casa trouxe uma perda de eficiência de consumo, já que, muitas vezes, os cortes consumidos nos restaurantes não são os mesmos que as pessoas preparam em casa.
Em meio a esta situação, explicou Lygia, o preço do frango já caiu 20% desde o início da pandemia no mercado atacadista, embora esse movimento ainda não tenha chegado efetivamente na ponta do consumidor. De outro lado, com um cenário global de estoques baixos de proteína animal, as exportações do produto subiram 3%, menos que as de carne bovina e suína, com variações superiores a 20%.
“A capacidade de resposta da produção de frango é bem mais rápida e a gente sente menos o impacto”, explicou. “Mas não tem como paralisar o processo. O investimento está feito e tem que escoar a produção”, acrescentou.
Mercado de ovos
No caso do ovo, a migração de consumo também trouxe elevação de preços, que agora começam a encontrar uma acomodação. Só na última semana de abril, a referência do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para o ovo branco caiu 10,67%, com base em Bastos (SP). O indicador para os ovos vermelhos diminuiu 8,59% no período, também com base no município do interior paulista.
“Agora está ocorrendo um ajuste. Mas o ovo buscou outros patamares de preços pela migração de consumo”, disse Lygia. “Em termos de equilíbrio de oferta e demanda, a gente está encontrando um ponto mais balanceado”, acrescentou.
Para a consultora, o mercado começa a sinalizar uma virada para os próximos meses. Além da acomodação dos preços dos ovos, as cotações do milho, que representam 70% do custo de produção de frango, também estão em queda, acompanhando a tendência do mercado internacional.
“O milho deve cair na mão do produtor. Fica a oportunidade de comprar. Devemos estar chegando no fundo do poço. Ficar tentando acertar a virada do mercado é muito arriscado. É difícil a a gente entender onde vai virar, mas há indícios de que o mercado deve ter encontrado um equilíbrio”, disse ela.
Ajustes na produção
Lygia avaliou ainda que, diante do cenário de incerteza, podem ser feitos ajustes de produção. Do lado da demanda, destacou que a retração da atividade econômica e a renegociação de contratos de trabalho representam diminuição de renda no mercado interno, o que deve continuar favorecendo a preferência por proteínas mais baratas.
Depois de acumularem quedas entre 17% e 19% em abril, os indicadores do Cepea para a carne de frango resfriada e congelada iniciaram maio apontando valorização, com altas superiores a 1% nos primeiros dias deste mês no mercado atacadista de São Paulo.
Source: Rural