O rebanho nelore da Chácara Naviraí, de Uberaba (MG), participa do Projeto Genômica, da ABCZ (Foto: Divulgação)
*Publicada originalmente na edição 414 de Globo Rural (abril/2020)
Por conta do êxito do programa de genotipagem, implantado há dois anos, e que já avaliou quase 90 mil animais, a grande maioria da raça nelore, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) lançou no mês passado um projeto que vai facilitar aos criadores brasileiros ter acesso à moderna tecnologia que permite acelerar o processo de aprimoramento da qualidade do gado, com maior segurança na decisão e incremento na produtividade.
A avaliação genômica é considerada fundamental para o avanço da pecuária no Brasil, pois tem maior grau de acurácia e acelera o processo de avaliação de touros jovens, entre outros fatores positivos, o que reduz os custos, explica Luiz Antonio Josahkian, superintendente técnico da ABCZ.
A entidade fez parcerias com empresas de genotipagem e criou o programa batizado de 2 por 1, que garante subsídios aos criadores. A cada dois animais escolhidos pelo criador para a genotipagem, a ABCZ custeará o trabalho de um animal, explica Josahkian.
Animais durante julgamento na Expozebu, em Uberaba (MG) (Foto: Divulgação)
A expectativa é que pelo menos 400 mil sejam genotipados nos próximos três anos, diz Josahkian. Se atingida, a marca consolidará o Brasil como líder mundial na genética do gado zebu, originário da Índia.
O processo de avaliação genômica do zebu nacional é fruto de uma parceria da ABCZ com a Embrapa Gado de Corte, unidade sediada em Campo Grande (MS). As duas instituições se uniram para a obtenção de estimativas únicas de valor genético genômico das raças zebuínas no Brasil, o que está dando importante contribuição para a qualidade da carne e para a eficiência alimentar dos animais em sistemas de produção mais sustentáveis, segundo a Embrapa.
A genotipagem normalmente é feita a partir de amostra do pelo do boi. O pesquisador Luiz Otávio Campos da Silva, da Embrapa Gado de Corte, explica que são feitas coletas padronizadas e sistêmicas de dados referentes à pedigree da raça, fenótipos e genótipos de milhares de animais que formam a população de referência do programa.
“A partir daí (da base de dados) é possível calcular de forma mais precisa os valores genéticos de bovinos de corte criados em condições específicas em diferentes sistemas de produção”, diz ele.
Claudio Sabino Carvalho Filho, diretor da Chacara Naviraí (Foto: Divulgação)
Precocidade
A tecnologia da genotipagem permite ao produtor ganhar tempo, já que o resultado da avaliação é possível quando o animal tem menos idade. O criador pode conhecer a capacidade reprodutiva do macho aos dois anos. No sistema tradicional, é necessário esperar até seis ou sete anos, e obter os resultados por meio das progênies ou do desempenho do reprodutor, observa Josahkian.
Claudio Sabino Carvalho Filho, responsável por uma das mais tradicionais marcas do gado nelore do país, a Naviraí, faz uso da genotipagem, aprova e acredita que a tecnologia vai crescer rapidamente no Brasil. A Chácara Naviraí tem unidades de criação de bovinos em Uberaba (MG) e Naviraí (MS), com mais de 2 mil matrizes na reprodução.
O criador diz que a genotipagem facilita ganhos econômicos e oferece mais certeza acerca da capacidade reprodutiva do gado. Ele observa que outras técnicas de avaliação também são decisivas no processo de melhoramento do gado, desde o olhar humano até outros critérios. O rebanho bovino brasileiro é de cerca de 220 milhões de cabeças. Do total, 170 milhões têm sangue zebuíno, de acordo com a Embrapa.
Pelo do animal utilizado na genotipagem (Foto: Divulgação)
Vantagens da genotipagem
Uso da tecnologia propicia ganhos econômicos e genéticos
1 – Permite a seleção de animais ainda jovens. É como se eles já tivessem filhos com dois anos de idade. Pelo sistema tradicional, seria preciso esperar até os seis anos para ter uma avaliação confiável.
2 – Um touro genotipado pelo sistema da Embrapa Gado de Corte tem 37% menos chance de erro quanto à possibilidade dele ser um melhorador.
3 – O sistema aumenta o grau de confiança do criador nos valores genéticos preditos, isto é, anunciados antecipadamente.
4 – O genoma é como a digital de cada bovino e, por meio dele, é possível conhecer suas características, o que dá condições de identificar aqueles que têm o maior potencial para produção, além de descobrir outras qualidades importantes, como a reprodutiva.
5 – A genotipagem permite verificar não só as características que o bezerro herdou do pai e da mãe, mas também das gerações
anteriores, os avós.
6 – O programa conta com um banco de dados formado a partir de bases unificadas, o que permite uniformizar as avaliações genéticas das raças zebuínas brasileiras.
Source: Rural