(Foto: Roberto Seba/Ed. Globo)
Embora o preço da arroba bovina venha se mantendo na casa dos R$ 200 desde março, os efeitos da desaceleração da economia após as medidas de contenção da Covid-19 no Brasil já começam a afetar o mercado interno brasileiro.
Em contraste às exportações recordes, o consumo de carne tem dado os primeiros sinais de enfraquecimento, com queda na procura por cortes mais nobres, como os destinados a churrasco e às redes de restaurante.
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Segundo a Scot Consultoria, o preço médio dos cortes traseiros, considerados mais nobres, registra queda de 5,5% neste mês. Já os cortes dianteiros, menos nobres, têm alta de 2,2%. Na média, o preço do boi casado, que considera a carcaça com osso, acumula desvalorização de 2% na parcial de abril comparada com igual período de 2019.
Quando começa a cair o poder de compra, o consumidor tende a migrar para proteínas mais baratas. Sai do corte traseiro e começa a ir para cortes dianteiros. E quem está consumindo carne de segunda começa a substituí-la por proteínas alternativas, como frango e suínos
Filipe Reis, analista da Scot Consultoria
Filipe Reis, analista da Scot, destaca que, após a pandemia, as previsões para o consumo interno brasileiro precisaram ser revistas, ficando abaixo do apontado em janeiro, quando a consultoria projetava um cenário promissor para o setor.
Consumo patinando
“O que devemos ver e registrar, pelo menos por enquanto, nesse primeiro semestre, é um consumo que vai patinar devido ao aumento do desemprego e perda do poder de compra”, avalia Filipe Reis, da Scot.
(Foto: Fernanda Bernadino/Ed. Globo)
Lygia Pimentel, da Agrifatto, tem opinião semelhante. Ela destaca o fechamento de parte dos frigoríficos do país como o principal termômetro para a demanda interna. “Isso ocorreu num primeiro momento e, agora, a gente está trabalhando num mercado mais ajustado”, explica.
O resultado foi uma arroba bovina estável até o momento, mas com dúvidas sobre o futuro, Como em maio começa a estação seca, a previsão é de que as condições de suporte das pastagens diminua, forçando o pecuarista a ofertar o gado em um mercado mais fraco. “Por
enquanto, a gente vê uma oferta limitada segurando os preços”, explica Reis.
Nicho de mercado
De acordo com o analista de agronegócios da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG), Wallison Lara, os cortes bovinos mais nobres costumam ter menor elasticidade de preços devido a um nicho específico de mercado.
Contudo, a nova realidade enfrentada pela indústria, com bares e restaurantes fechados, coloca dúvidas sobre esse padrão de mercado. As perspectivas são de que mesmo os cortes premium, que atendem a um mercado consumidor onde a queda na renda impacta menos o consumo, sofram com a menor demanda.
Enquanto tem recurso, o brasileiro consome. Mas a partir do momento em que a situação financeira vai ficando limitada, ele naturalmente migra para outras opções
Wallison Lara, analista de agronegócios da FAEMG
Retomada
Para o segundo semestre, Filipe Reis, analista da Scot, vê possibilidade de recuperação desse nicho de mercado, dado o adiamento de boa parte das festividades que ocorreriam neste primeiro semestre.
“Temos diversos eventos que foram adiados para o segundo semestre e que podem fazer com que haja concentração de demanda. Claro que vai depender de como vai ser a situação até lá. Às vezes temos um cenário de isolamento estendido até junho, ninguém sabe ao certo”, reconhece.
Exportações como escape
Com cerca de 80% das vendas do setor voltadas para o mercado interno, Reis considera difícil que as exportações cubram a desaceleração do consumo no país. “A exportação ajuda, principalmente com o dólar alto e o mercado interno ruim, mas esperar que cubra esse buraco na demanda é muito difícil”, conclui o analista.
No primeiro trimestre deste ano, as exportações brasileiras de carne bovina somaram 413,2 mil toneladas, avanço de 2% ante igual período do ano passado.
Source: Rural