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Medidas de isolamento social afetaram a demanda por hortifruti (Foto: Silva Junior/Ed. Globo)

 

Quando atendeu a Globo Rural, o produtor Ismael Mendonça, de Campinas (SP), acabava de deixar a agência bancária na qual possui conta, onde foi cadastrar sua empresa para receber o crédito emergencial para o pagamento de seus funcionários nos próximos meses. “Está complicado, eu acho que na minha lavoura, mais de 50% do plantio vai pro lixo. Embora o tempo esteja bom para produzir, as vendas caíram”, revela Mendonça.

O avanço da pandemia foi um duro golpe no setor, com queda de preços e de demanda por conta de medidas de isolamento social. A situação levou o produtor a tomar decisões que impactarão sua produção ao longo dos próximos meses: vai reduzir a área plantada de dez hectares para apenas três e já dispensou um dos seus três fornecedores de mudas.

“Esse ano o produto da gente não deu preço. Geralmente, todo verão, há alguma falta de produto, mas este ano, não. O tempo foi favorável”, lamenta o agricultor.

Segundo o presidente da Produce Marketing Association (PMA), Giampaolo Buso, as condições dos produtores de folhosas são ainda mais graves, pois muitos trabalham com fluxo de caixa apertado e não possuem fôlego para aguentar a crise por muito tempo. “Muitos estão começando a antecipar recebíveis no varejo e, nessa antecipação, tem um desconto financeiro. Então ele já vendeu por um preço baixo e, quando vai receber, ainda perde 3% a 4% desse valor pela antecipação”, relata Buso.

Cenário nacional

A dificuldade de Ismael Mendonça, de Campinas (SP) não é diferente da vista em outras regiões do Brasil. Em seu último levantamento, o Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro (Prohort), elaborado pela Conab, aponta os novos hábitos de consumo após a pandemia de coronavírus. A redução das feiras livres e fechamento de restaurantes e escolas contribuíram para agravar ainda mais a situação dos produtores.

“Com a reorganização das famílias nas idas aos mercados e reabertura de parte das feiras no país pode ocorrer um aumento na demanda pelas folhosas, porém muitos produtores estão colhendo quantidades menores pelo risco de não conseguirem mercado ou dos preços estarem muito baixos”, afirma a Conab. Em março, o Prohort apurou desvalorização de 9,84% para a alface na Ceagesp.

“O preço caiu muito e muito produtor não consegue vender. Com isso, muita gente passou o trator nas áreas já plantadas e está reduzindo o plantio”, conta Marina Marangon, pesquisadora do Cepea. O Centro de Estudos apurou uma queda de 55,7% no preços da alface americana no atacado paulista em março comparado com igual período do ano passado. No campo, essa desvalorização foi de 39% quando considerada a região de Mogi das Cruzes.

Efeitos de médio prazo

Marina explica que, apesar da maior intensidade provocada pela crise, a queda no plantio de folhosas é comum nesta época do ano, quando os produtores migram para culturas mais adaptadas ao clima e ao consumo do inverno. Entre esses itens estão legumes e verduras
mais resistentes, como a couve. O ciclo dessas culturas varia entre 30 e 60 dias, o que pode prolongar os efeitos de uma maior escassez até meados do segundo semestre. 

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“A única diferença agora é que, com a demanda, reduzida mesmo com a oferta menor o preço não deve reagir tanto. Se esta situação permanecer por bastante tempo,  provavelmente vai continuar difícil para o produtor”, conclui a pesquisadora do Cepea. No início da cadeia, contudo, a previsão é de queda nas vendas de sementes, observa Marcelo Pacotte, diretor executivo da Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (Abcsem).

“Em decorrência dos reflexos da Covid-19, a Abcsem prevê a possibilidade de redução na comercialização de sementes de folhosas por parte da indústria sementeira de hortaliças nos próximos meses, caso não ocorram melhorias no atual cenário instalado pela pandemia,
mas ainda não é possível mensurar eventuais impactos”, destaca Pacotte em nota. Segundo ele, a entidade tem se organizado junto a seus associados para manter o fornecimento de sementes de hortaliças para todo o território nacional.

Incerteza

Stefan Coppelmans, presidente do Instituto Brasileiro de Horticultura (Ibrahort), vê como natural a reação do produtor diante das falta de previsibilidade do mercado. “O povo, com medo, segura mais o dinheiro e a tendência é de excesso de oferta se o produtor não
se adequar a isso. Mas a própria insegurança do produtor faz com que ele ponha o pé no freio e, a depender de como ele faz isso, pode gerar escassez”, explica o produtor, que não arrisca previsões para o setor. “Eu não consigo enxergar muito claramente o que
vai acontecer. Ainda estou tentando ver para qual lado a coisa está indo e os dois fatores precisam ser administrados – consumo e oferta”, ressalta Coppelmans.

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Source: Rural

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