Com produção de soja concentrada em poucos players, China tem poucas opções além do Brasil (Foto: Enrique Marcarian/Reuters)
Os produtores de soja do Brasil já venderam de forma antecipada cerca de 35% da safra 2020/2021, que será plantada a partir de setembro. A alta do dólar e a preocupação com os custos dos insumos para a produção levaram a um comprometimento maior da produção futura, especialmente através do barter, disse, nesta quinta-feira (16/4), o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Bartolomeu Braz Pereira.
“Fazendo essa troca, temos uma margem melhor. Com isso, a gente conseguiu fazer margem e recorde de fechamento futuro, até porque estamos em um momento da economia em que a gente não sabe o que vai acontecer”, disse ele, em entrevista ao vivo transmitida pelo perfil da Globo Rural no Instagram.
Sobre a safra atual, que está sendo colhida, ele destacou as perdas na região sul do Brasil, por conta da estiagem. Uma situação que levou a própria Aprosoja Brasil a revisar para baixo sua expectativa de produção, para 120 milhões de toneladas. O executivo indicou ainda que podem ser feitas novas revisões, porque algumas regiões do Matopiba e do Pará tem sido atingidas por chuvas que vem prejudicando os grãos.
“Mas a expectativa é de uma grande safra e de uma grande exportação”, disse.
Impacto do coronavírus
Diante da pandemia de coronavírus, a produção não parou, afirmou Pereira. Segundo ele, tem sido tomadas precauções de saúde e de segurança dos trabalhadores e feitas campanhas em conjunto com sindicatos rurais e prefeituras. A preocupação, segundo ele, é com os efeitos econômicos da pandemia e sua extensão sobre o agronegócio.
“O impacto poderá vir sim. A gente tem um consumo ainda forte, só que a gente vai ter um imapcto na economia. Não sabemos o tamanho do desemprego, do impacto que pode ocorrer na cadeia de alimentos. É preocupante até onde pode chegar o coronavírus dentro do Brasil”, analisou.
Em relação às exportações de soja, o presidente da Aprosoja Brasil lembrou que houve quebra da produção dos Estados Unidos na safra 2019/2020, o que ajudou a sojicultura brasileira a aumentar seu protagonismo no mercado internacional. Além da guerra comercial com a China, que reduziu a participação dos americanos naquele país.
Da parte do Brasil, a intenção é reduzir a dependência do mercado chinês. “Estamos buscando outros mercados, como a Índia, Indonésia, Vietnã, Japão. A gente busca diversificar para não ficar dependente, mas a grande força vem da China. É nosso principal mercado e nossas principais oportunidades”, disse.
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Também participando da transmissão ao vivo pelo Instagram da Globo Rural, a analista da consultoria INTL FCStone, Ana Luisa Lodi, disse que os atritos recentes entre autoridades brasileiras e chinesas não tiveram impacto no comércio de soja. O Brasil tem atendido à demanda chinesa, que também não tem muitas outras opções, por conta da produção concentrada em poucos players globais.
Segundo a especialista, o avanço da pandemia de coronavírus trouxe preocupações em relação às exportações de soja do Brasil para a China, mas o país asiático está retomando as atividades aos poucos e continua demandando o grão. Outra preocupação era com a fase um do acordo dos chineses com os Estados Unidos. Mas neste período do ano, a soja brasileira manteve sua vantagem competitiva.
“No primeiro semestre, a soja brasileira tem vantagem. Sazonalmente, é o período em que a gente mais exporta. E os lineups indicam que o mês de abril pode ser recorde”, disse Ana Luisa, fazendo referência ao posicionamento de navios nos terminais portuários.
Ela acredita na possibilidade dos Estados Unidos venderem maiores volumes de soja para a China nos próximos meses, mas a situação deve ficar mais firme apenas no último trimestre do ano. Mas ainda há dúvidas sobre como os chineses vão cumprir a fase 1 do acordo comercial, que prevê, nas palavras da consultora, “um aumento muito significativo de exportação”.
Safra 2020/2021
Sobre a safra 2020/2021 no Brasil, Ana Luisa Lodi diz ainda não ter projeções, mas avalia que ainda há espaço para aumento de área, principalmente sobre áreas de pastagens que são pouco aproveitadas. A confirmação dessa tendência, no entanto, dependerá do comportamento da demanda nos próximos meses.
“Atualmente, o cenário é bom. Exportações estão fortes e devem continuar nos próximos meses, as margens de esmagamento também têm cenário positivo, apesar da preocupação com a demanda por carnes, que pode ser resultado da pandemia. A pandemia impacta na renda da população, impacta hábitos de consumo”, disse ela.
Source: Rural