(Foto: José Medeiros/Ed.Globo)
Empresários, economistas e consultores acreditam que o agronegócio brasileiro poderá sair da crise gerada pela pandemia de coronavírus com algumas vantagens em relação aos seus concorrentes mundo afora.
Entre os motivos, está a competitividade da agricultura brasileira, o câmbio favorável, a confiança do mercado no Brasil como fornecedor e o investimento em agricultura digital nas fazendas.
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Para que o produtor consiga acompanhar esta tendência, porém, há um consenso de que é preciso exercitar o gerenciamento de risco, ou seja, planejar bem as safras 2020/2021 e 2021/2022.
O assunto foi discutido em uma transmissão ao vivo na quinta-feira (9/4), com a participação de Aurélio Pavinatto, CEO do Grupo SLC, Eraí Maggi Scheffer, acionista do Grupo Bom Futuro, André Pessôa, diretor da Agroconsult, o economista Alexandre Figliolino e Paulo Mesquita, da Riza Asset.
Exportações de commodities
De acordo com o consultor André Pessôa, as exportações brasileiras de commodities (soja, milho e algodão) estão em uma situação confortável, que tende a melhorar nos próximos meses. Para ele, 2020 deve ser um bom ano para a agricultura.
A pandemia deu uma desacelerada nos negócios, mas as exportações estão aumentando e tendem a aumentar mais. Os países compradores terão a necessidade de repor seus estoques nos próximos meses
André Pessôa, diretor da Agroconsult
Para Pessôa, os melhores cenários são para a soja e o milho, enquanto o algodão poderá sentir uma lentidão maior nos negócios. “É um setor que foi diretamente afetado, pois a indústria têxtil precisou parar durante a crise, no mundo inteiro”, afirmou. A projeção é que o setor reduza em 4 milhões de toneladas as suas exportações (22 milhões de toneladas de pluma). “O desafio será embarcar este algodão”.
A notícia positiva, porém, é que mais de 70% da safra de algodão já foi vendida em contratos futuros. “Com a previsibilidade de lucros, o produtor se antecipou e vendeu com bons preços. O que vai mudar é que os contratos serão postergados, e o movimento, que antes era mais intenso entre agosto e dezembro, vai se estender para os próximos meses do ano”.
(Foto: Tadeu Vilani/Ed. Globo)
Preço do milho
As incertezas acerca dos preços internacionais do milho no mercado internacional, gerado pela queda na demanda americana pelo etanol de milho, é uma preocupação para os produtores, relatou o consultor.
“O produtor brasileiro também saiu na frente e comercializou boa parte da safra de milho antecipadamente, mas as análises primárias sobre as consequências da crise nos Estados Unidos apontam para uma queda muito forte na demanda por etanol (de milho), o que provocará uma depreciação no mercado”, ressalta.
De um modo geral, a projeção é que as demandas por soja e milho aumentem, ainda que menos que o estimado anteriormente. “Mas, devido ao câmbio, que está favorável para o Brasil, as margens dos produtores rurais serão acima do previsto”, pontua.
Competitividade
A análise de todos os cenários após a pandemia aponta que o Brasil deve sair da crise com mais vantagens que os seus concorrentes. Com volumes e produtividades maiores, em todas as regiões produtoras, exceto no Rio Grande do Sul, margens positivas da safra 2019/2020 e câmbio favorável, o produtor rural que souber gerenciar as transações terá “folga” nas safras futuras.
O grande desafio agora é a geração de fluxo de caixa e o gerenciamento das safras futuras: é o momento ideal para comprar insumos como defensivos, fertilizantes, sementes
Eraí Maggi Scheffer, acionista do Grupo Bom Futuro
Para Eraí Maggi Scheffer, do Grupo Bom Futuro, o cenário atual também é ideal para vender e fixar preços. “O produtor tem que aproveitar a margem que está tendo agora para investir nas safras futuras porque o dólar alto está fazendo com que os custos de produção, em dólar, caiam”, alerta.
O executivo da SLC, Aurélio Pavinatto, afirma que a competitividade “dentro da fazenda” vai aumentar. “É o momento oportuno para aumentar a competitividade do produtor rural, que ainda conta com custos logísticos altos”, disse.
(Foto: Divulgação/Case)
Planejamento
Tanto o Grupo Bom Futuro quanto a SLC afirmaram que já anteciparam as compras de insumos para as safras 2020/2021 e 2021/2022 e já fixaram preços para comercializar boa parte da safra. “Quase 60% da safra 2020/2021 já está comercializada”, contou Scheffer.
Com a projeção de uma demanda maior em todo o mundo, principalmente porque todos os países e blocos terão a necessidade de aumentar seus estoques e nem todos os fornecedores já terão reaberto seus mercados, os empresários e consultores acreditam que o Brasil se firmará como o fornecedor global mais confiável.
O que a gente já sabe é que a demanda vai aumentar e o agronegócio brasileiro, que não parou durante a crise e ainda vai elevar as suas safras, terá condições de atender a demanda e sai reforçado dessa crise
Aurélio Pavinatto, CEO do grupo SLC
“A crise foi uma oportunidade de o nosso agro mostrar a sua eficiência para o mundo”, destaca Pavinatto, citando como diferenciais do agro brasileiro os processos de digitalização das fazendas e o investimento em sustentabilidade.
Source: Rural