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(Foto: Acervo/Ed. Globo)

 

 

 

 

 

A restrição na movimentação de veículos em todo o país, decorrente da quarentena para evitar a propagação do coronavírus, tem feito caminhoneiros passarem por momentos de dificuldade e até falta de alimento nas estradas brasileiras.

Muitos contam não terem recebido das empresas de transporte produtos e equipamentos de higiene, sem contar a reduzida quantidade de bares e restaurantes em funcionamento ao longo das rodovias.

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Para garantir logística, governo define postos, restaurantes e oficinas como essenciais

 

Na segunda-feira (23/2), um desses relatos viralizou nas redes sociais. Em vídeo, o caminhoneiro Illizeu Kooski, de 34 anos, desabafou. "Está todo mundo trancado em casa, mas não estão pensando em quem mantém o Brasil em pé. Vocês acham que os médicos e enfermeiros vão ter condições de trabalhar sem comer?", disse.

 

Se vocês têm alimentos, somos nós que estamos transportando. Ninguém está vendo isso. É um ou outro que está apoiando, fora da nossa classe", continuou, em outro trecho do vídeo. Naquele momento, Kooski se encontrava às margens da BR-101, no município de Casemiro de Abreu, interior do Rio de Janeiro, a 135 km da capital carioca.

Depoimentos semelhantes de outras partes do país têm chegado à Globo Rural. Desde 2003, Elisamar Pereira Silva, 56 anos, tem um restaurante em Trairão, no Pará, em um trecho da BR-163, uma das mais importantes rodovias brasileiras, que liga o país de Norte a Sul.

Restaurante de Elisamar está fechado às margens da BR-163, no Pará (Foto: Divulgação)

 

 

Ela conta que, antes das restrições impostas pela pandemia, vendia cerca de 50 marmitas por dia. Agora, ela, o marido e os três funcionários têm enfrentado incertezas com o estabelecimento fechado desde sábado (21/3).

"Nunca havia sido necessário fechar o estabelecimento. Nós sempre abrimos para dar suporte aos caminhoneiros. Com esse vírus, tivemos que baixar as portas", disse Elisamar, que perdeu parte do estoque de alimentos, como frutas, legumes e verduras.

Penúria

 

O transporte de cargas está incluído no decreto de atividades essenciais editado pelo governo. Mas só a garantia no papel não tem sido suficiente. “Os bares estão todos fechados, e as churrascarias estão nos atendendo com marmitex. É uma situação extremamente complicada”, relata o motorista José Helder de Oliveira, 53 anos.

Motorista José Helder de Oliveira, 53 anos (Foto: Divulgação)

 

Oliveira saiu de Recife (PE) em direção a São Luís (MA), para fazer uma entrega de farinha de trigo. De lá, seguiu para Baixa Grande do Ribeiro (PI), onde recebeu uma carga de milho para retornar à capital pernambucana. "Com esse coronavírus, a demanda caiu muito. Eu quase fiquei sem opção e iria retornar vazio", afirmou.

Pesquisa indica queda

 

Uma pesquisa do Departamento de Custos Operacionais da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (Decope) com 600 empresas, entre segunda (23/3) e terça-feira (24/3), mostrou uma queda de 22,9% na demanda de entrega de cargas no país.

No agronegócio, o recuo é de 11,5%. Entre o comércio e supermercados, essa baixa chega a 18,6%. Para o setor de insumos, como embalagens, a redução foi ainda mais drástica: 55,3%. Para o presidente da associação, Francisco Pelucio, a indústria diminuiu o ritmo porque há uma demanda menor.

Houve uma corrida de abastecimento, por parte da população, de produtos como feijão, arroz, farinha e cerveja. Mas agora deu uma equilibrada porque as pessoas têm estoque em casa

Francisco Pelucio, presidente da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística

Higiene em risco

 

Por conta da falta de segurança, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL) divulgou uma resolução em que pede medidas para proteger a saúde dos motoristas, como disponibilização de álcool em gel e máscaras, e kits de higiene, com sabão, toalhas e água. Também requisita a liberação dos trabalhadores em idade avançada, que são parte do grupo de risco, e a garantia de manutenção dos empregos.

Os restaurantes de estrada estão fechados em muitas regiões. Muitos caminhoneiros relatam que estão passando fome e sede

Delair Bolis, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal

 

Pelucio, da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, que representa mais de 10,5 mil empresas e 50 entidades patronais, conta que o órgão contratou enfermeiras e tem priorizado o fornecimento de vacinas a caminhoneiros idosos nas 155 unidades no país.

Ele afirma, no entanto, que não tem como auxiliar no fornecimento de alimentação aos motoristas. “Quem cuida da área do Estado são os governadores e os prefeitos. Nós não temos como determinar que as pessoas voltem ao trabalho. Essa orientação tem que vir do governo federal junto com o Ministério da Saúde”, disse.
Source: Rural

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