Estudo do Rabibank avalia condições de comercialização de soja usando o rendimento de uma aplicação financeira rentabilizada pela taxa Seliccomo custo de oportunidade (Foto: Enrique Marcarian/Reuters)
A redução da taxa de juros no Brasil traz oportunidade para o produtor gerenciar melhor a venda da safra de soja. É o que indica um estudo feito pelo Rabobank, considerando os preços e os custos para armazenar a produção. Para o banco, o cenário atual dá mais condições para o produtor decidir se é melhor fechar o negócio no disponível ou travar a negociação a futuro para entrega posterior.
“A ideia do estudo é mostrar que, neste cenário de juros mais baixos, a opção de carregamento de soja pode ser interessante. No momento em que o produtor decide a venda, ele avalia a melhor alternativa”, explica Victor Ikeda, analista sênior do mercado de grãos e oleaginosas do Rabobank, responsável pelo estudo.
Os cálculos já consideram a taxa Selic de 3,75% ao ano, definida na quarta-feira passada (18/3) pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central. Levam em conta também preços da soja na Bolsa de Chicago na manhã de 19 de março, com cotações de US$ 8,49 por bushel para maio, US$ 8,56 para agosto e US$ 8,57 para novembro.
O estudo usou como referência ainda o preço médio da soja praticado no Médio Norte de Mato Grosso em março, que, até a conclusão do trabalho, estava em R$ 76,89 a saca de 60 quilos. E também dados de mercado sobre custos de armazenamento na região, que, segundo o Rabobank, é de R$ 1,80 a saca na entrada e mais US$ 0,30 a saca por mês de custo operacional e quebra técnica.
Câmbio e desconto de base
De acordo com o banco, o custo de carregamento – desembolso do produtor para manter a safra armazenada – está em patamares mais baixos que em anos anteriores. Ao mesmo tempo, apesar do avanço da colheita no Brasil e da volatilidade das cotações em Chicago, os preços da soja em reais estão mais elevados, muito por causa do suporte vindo da valorização do dólar.
A instituição ressalta ainda que deve se considerar na conta a variação cambial e o chamado desconto de base, vinculado a fatores como preços de frete e prêmios de exportação. De qualquer forma, avalia, há possibilidade de se obter margens nas vendas futuras, o que justifica o produtor colocar esses fatores na ponta do lápis e decidir se vende no spot ou trava uma entrega mais para frente.
“Em um cenário de juros baixos, essa conta pode começar a fazer sentido. Não é o produtor procurar o maior preço, mas a operação que traz a melhor margem. O preço e o câmbio podem ter mudança. Por isso, ao adotar essa estratégia, ele tem que considerar o melhor contrato”, explica Victor Ikeda.
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A taxa de juros entra na definição do chamado custo de oportunidade. Com essa lógica, o Rabobank faz a seguinte comparação: o produtor vender a soja no disponível e fazer uma aplicação financeira com capitalização pela Selic, ou travar uma venda futura, protegendo-se da variação dos preços da soja e do câmbio, e arcar com os custos de carregamento da produção até a entrega.
“Se o produtor vender uma saca a R$ 100 e capitalizar pela Selic, depois de um ano, ele teria R$ 103,75, sem considerar custos de transação. Para comparar se sua comercialização foi melhor, em um ano, o preço deveria estar acima disso. Usamos essa conta para comparação. E ela deve fechar com um valor maior do que se o dinheiro capitalizasse normalmente”, teoriza Ikeda.
Capitalização x venda futura
No estudo, o analista estimou que, se um produtor do Médio Norte de Mato Grosso vendesse sua soja por R$ 76,89 a saca no mercado spot, teria uma margem operacional de 46,2%. Se ele optasse por colocar esse dinheiro para render pela Selic, valeria em agosto R$ 78,09. O que ele chama de custo de oportunidade é a diferença entre os valores, no caso US$ 1,20.
É com esses números que o sojicultor faz a comparação, explica Ikeda. Usando agosto como referência, ele ponderou a cotação da soja em Chicago, o câmbio futuro e o desconto de base – aplicado conforme níveis históricos para o período – e estimou um preço de venda de R$ 85,57 para entrega daqui cinco meses.
Tem que avaliar caso a caso. A ideia é não é o produtor especular"
Victor Ikeda,analista sênior de grãos e oleaginosas do Rabobank
Concluiu que, com esse valor, mesmo levando em conta a despesa para armazenar e o rendimento de uma aplicação financeira do valor do mercado spot, em tese, poderia fazer sentido uma venda futura. A margem da operação para agosto foi estimada em 46,4%, um pouco maior que no disponível. Mas, a depender das condições de cada período, o resultado pode ser diferente.
“Tem que avaliar caso a caso. A ideia não é o produtor especular”, pontua Ikeda. “Na decisão de venda, ele vai optar por entregar no spot ou travar Chicago e dólar futuro. Se não tiver necessidade de caixa no momento, pode avaliar esses fatores e ponderar se carrega o estoque”, acrescenta o analista, ressaltando que fez o mesmo estudo em anos anteriores e o carregamento não aparecia como opção mais favorável.
Gestão de custos
De acordo com Vitor Ikeda, a intenção desse tipo de estudo é mostrar para o produtor rural a importância da gestão de custos e de ficar mais atento às mudanças do mercado. Consequentemente, a depender das suas necessidades e possibilidades, considerar o melhor momento para entregar a produção.
Ele ressalta que o trabalho foi feito considerando um sojicultor que não tem armazenagem própria. Mas afirma que a mesma lógica pode ser aplicada por quem tem esse tipo de estrutura, que significa um custo menor.
“Teoricamente, fizemos com quem tem armazenamento terceirizado, que tem custo mais alto. É uma questão de escala. Se o produtor não tiver escala, pode ter um custo fixo muito elevado também. É uma questão de dimensionamento da atividade e de ver a partir de que tamanho faz sentido ter uma armazenagem própria”, diz ele.
Source: Rural