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(Ilustração: Getty Images)

 

 

*Publicado originalmente na edição 413 de Globo Rural (março/2020)

Além de alimento, água e matéria-prima, a natureza provê múltiplos benefícios, como regulação do clima, polinização, reciclagem de resíduos, fixação de carbono, controle de doenças e pragas, filtragem da água, controle de erosão e enchentes, recreação, entre outros. Esse conjunto de benefícios, que direta ou indiretamente ajuda a sustentar a vida no planeta, é conhecido como serviços ambientais e ecossistêmicos.

No final dos anos 1990, pesquisadores estimaram em US$ 33 trilhões o custo de  produzir esses serviços, caso nós, humanos, fôssemos capazes de fazê-lo.  Quando essa estimativa foi feita, o produto interno bruto (PIB) de todos os países do mundo era pouco mais da metade disso: US$ 18 trilhões. Esse tipo de estudo ajudou a demonstrar que os recursos que a natureza nos provê de graça são ainda, em grande medida, desconhecidos, subvalorizados ou até mesmo ignorados.

 

Usar a melhor ciência para descrever e valorar tais ativos é essencial para uma mudança de percepções e melhor gestão dos recursos naturais da Amazônia

 

A busca pela sustentabilidade deu grande visibilidade aos serviços ambientais e ecossistêmicos, além da possibilidade de  retribuir àqueles que contribuem para a sua manutenção e fortalecimento. 

À primeira vista, atribuir valor econômico e pagamento por tais serviços pode levar a distorções nas relações dos sistemas econômicos com a natureza. Mas essa parece ser a única forma de inclui-los de forma permanente nos processos de tomada de decisão da sociedade, evitando sua degradação e perda, com impactos desastrosos para todos.

Esse é um tema crítico quando pensamos sobre o futuro das nossas propriedades rurais, pois ainda prevalece em muitas partes do mundo a visão de que a nossa agricultura é predatória e insustentável, a despeito dos enormes avanços já alcançados.

(Foto: Divulgação)

 

Além do Código Florestal, uma ousada política de preservação de vegetação nativa e proteção dos cursos d’água nas propriedades rurais, é crescente a disseminação de práticas provedoras de serviços ambientais nas nossas fazendas, como o plantio direto, a integração de lavouras, pecuária e floresta, a fixação biológica do nitrogênio, dentre muitas outras. De fato, os biomas brasileiros são poderosos provedores de serviços ambientais e ecossistêmicos, mas que ainda precisam ser qualificados e valorados. 

A Amazônia é o caso mais clássico:  além de alimento, água e matéria-prima, ela provê regulação do clima e dos ciclos hidrológicos, fixação de carbono na vegetação e no solo, reciclagem de resíduos e nutrientes, e outros serviços. Usar a melhor ciência para descrever e valorar tais ativos é essencial para uma mudança de percepções e melhor gestão dos recursos naturais da Amazônia.

É, portanto, imprescindível que o Brasil organize uma ampla coalizão, com universidades, institutos de pesquisa, agências públicas, setor privado, agentes financiadores e parceiros internacionais de modo a produzir avanços concretos na descrição, qualificação e valoração dos serviços ambientais gerados no nosso território. Assim, nossos biomas e nossas fazendas agregarão uma marca positiva e diferenciada à imagem dos nossos setores mais estratégicos – agricultura e meio ambiente.

Por fim, se formos capazes de viabilizar o pagamento por serviços ambientais, a utilidade e o valor dos recursos naturais deixarão de ser ignorados ou subvalorizados, e os esforços daqueles que contribuem para a sua manutenção e fortalecimento – produtores rurais, comunidades tradicionais, povos indígenas, etc. – poderão ser reconhecidos pela sociedade.

*Maurício Antônio Lopes é engenheiro agrônomo e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
Source: Rural

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