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Apelidado de Teco, macaco-prego só aparece para receber comida das "amigas" da cidade (Foto: Sergio Ranalli)

 

Em uma tarde quente de janeiro, os gritos estridentes de um macaco-prego invadiram o apartamento da professora aposentada Olésia Santoni de Lima, 75 anos, no centro de Londrina, no Paraná. Ouvindo o som de desespero do animal, ela se deu conta do que estava acontecendo.

Atravessou a rua até chegar ao Bosque Municipal Marechal Cândido Rondon, área de dois hectares de mata encravada entre a Catedral Metropolitana, um colégio particular e edifícios. Olésia chegou a tempo de ver o primata, que ela vinha alimentando havia quase um ano, dentro de uma gaiola.

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Colocou as mãos pelos vãos das grades para acariciá-lo. Foi advertida de que poderia ser mordida. “Em seguida, colocaram a gaiola em cima de uma caminhonete e levaram o bichinho, que foi gritando. E eu fiquei chorando”, conta a professora.

A história dos dois macacos-prego no bosque da cidade começou em janeiro de 2019, quando Tico e Teco, como foram batizados pelos moradores, começaram a pular de árvore em árvore. Ninguém viu quem deixou os animais na área urbana.

Boque onde macacos apareceram fica no centro de Londrina (Foto: Sergio Ranalli)

 

 

Não demorou para que passassem a ser alimentados. No cardápio, doces, café e até cerveja. “Foi aí que eu interferi e comecei a atraí-los para perto de onde já alimentávamos os gatos que moram na mata”, recorda Olésia.

(Foto: Sergio Ranalli)

 

O macaco Tico vivia mais no chão do que nas árvores, aninhando-se nos braços de quem lhe oferecesse um carinho. Passava boa parte do dia sobre os ombros de senhores que jogam baralho em mesinhas instaladas por ali, ganhando petiscos. Teco ficava mais na dele, observando de longe.

(Foto: Sergio Ranalli)

 

O Instituto Água e Terra (IAT), departamento do Governo do Paraná encarregado de questões ambientais, como o zelo pela fauna silvestre, passou a acompanhar a situação dos macacos. Por e-mail, o Escritório Regional de Londrina do IAT informou à Globo Rural que foram mais de 15 tentativas de captura dos dois desde janeiro de 2019.

Mordida e captura

Mas, nos primeiros dias de 2020, um deles mordeu a perna de uma idosa que passava pelo bosque. A história ecoou na imprensa local, acendendo o debate sobre as doenças que os macacos podem transmitir para os humanos.

(Foto: Sergio Ranalli)

 

Dias depois, técnicos do IAT conseguiram capturar Tico. Tiveram que tirá-lo do pescoço de um dos jogadores de baralho, gerando a gritaria que tirou lágrimas de Onésia e Oneia. Militares da Polícia Ambiental tiveram que apoiar a operação. Algumas pessoas não queriam que o levassem dali.

Encaminhado ao Hospital Veterinário da UniFil, universidade particular que atende gratuitamente animais silvestres atropelados ou vítimas do tráfico, o macaco-prego ganhou cuidados. Pesava apenas 1,2 kg, em torno de 50% a menos do que deveria, e estava infestado por diversos tipos de vermes, com piolhos e um dos dentes cariado.

Revelações no exame

(Foto: Sergio Ranalli)

 

O exame dos médicos veterinários também identificou que Tico, na verdade, é uma fêmea com idade entre um ano e meio e dois anos. Imediatamente, ela passou a ser chamada de Chica. O episódio também convenceu a todos que seria melhor que Teco também fosse atendido.

“Certamente são macacos oriundos do tráfico de animais silvestres que, por algum motivo, foram deixados no Bosque ainda muito novinhos”, explica a professora Mariana Cosenza, coordenadora clínica do Hospital Veterinário da UniFil.

Nem armadilha funciona

(Foto: Sergio Ranalli)

 

O problema é que, se foi relativamente fácil pegar Chica, Teco não dá moleza. Nas últimas semanas, foram três tentativas de técnicos do IAT. Armadilhas com alimentos dentro de gaiolas não funcionaram. Ele deu um jeito de pegá-los por fora das grades.

Até a Chica foi levada em uma gaiola para ver ser o bicho se aproximava. Ele só observou do alto de uma árvore. Atirar dardos tranquilizantes está fora de cogitação. O animal fica em árvores altas e é pequeno demais. O risco é que seja atingido em uma área vital.

(Foto: Sergio Ranalli)

 

De acordo com o médico veterinário Marcos Shiozawa, especialista em animais silvestres da UniFil, se Teco não for capturado e receber tratamento, não terá vida longa no bosque. “Assim como pode transmitir doenças para os humanos, os macacos também adquirem muitas doenças, como gripe e sarampo. Uma simples herpes pode ser fatal para eles", explica.

O veterinário também pondera que, na região, há uma superpopulação de pombos, muitos morcegos e gatos, que também podem transmitir doenças. "Além disso, é claro, a alimentação inadequada. Eles são onívoros, dependem de várias fontes diferentes de nutrientes, o que não tem por ali”, ressalta.

Perto só das "amigas"

(Foto: Sergio Ranalli)

 

Teco já percebeu que querem levá-lo. Mas não quer ir. Os profissionais envolvidos na captura mudaram a tática nos últimos dias. Agora frequentam a área como quem não quer nada, tentando uma aproximação.

Contudo, o mais perto que o macaco chega de humanos é de Olésia e da comerciante aposentadad Oneia Bombonatto, 69 anos. As duas seguem depositando, duas vezes por dia, frutas e ovos em uma cestinha presa em uma árvore. Às vezes, Teco até pega algum alimento das mãos delas, desde que não haja mais ninguém por perto.

Sabemos que, se ele não for para o hospital, vai morrer. Queremos a captura. Só não peçam para nós fazermos isso

Olésia Santoni de Lima, professora aposentada

Chica já está quase de alta. Cabe ao IAT definir para onde ela será levada depois do tratamento. Por enquanto, o mais provável é uma reinserção na natureza, em local adequado e no qual possa haver uma transição para integrá-la a algum bando da mesma espécie.

No entanto, a ideia é soltar juntos os dois animais que são companheiros há tanto tempo no bosque. Só falta combinar com o Teco. “Queremos um bom lugar para eles. Pegamos amor nos bichinhos”, diz Oneia.

(Foto: Sergio Ranalli)

 
Source: Rural

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