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(Ilustração: Getty images)

 

*publicado originalmente na edição 411 de Globo Rural (janeiro/2020)

Cirurgiões, pilotos de avião, arquitetos, engenheiros, farmacêuticos e outros profissionais são treinados a trabalhar com exatidão e precisão, uma vez que equívocos nas suas profissões podem colocar vidas em risco. A agricultura, pelas implicações que tem na saúde e bem-estar das pessoas, no meio ambiente e na economia dos países, é atividade que também exige cada vez mais precisão e exatidão em todos os seus processos.

Precisão e exatidão (ou acurácia) nem sempre podem ser alcançadas pela agricultura convencional, que é impactada por variabilidade em fatores que afetam o desempenho de plantas e animais, como fertilidade do solo, temperatura, umidade, pragas e doenças, dentre muitos outros. Apesar de a ciência agronômica ter evoluído na geração de conhecimentos e instrumentos para identificar e medir múltiplas fontes de variabilidade no campo, ainda persistem limitações em precisão e exatidão em muitas práticas agrícolas, o que custa caro aos produtores.

Tomemos como exemplo o controle de pragas, que conta com monitoramento para avaliar a pressão de ataque, o limiar de risco econômico e as intervenções para controle. No entanto, aplicações de defensivos são usualmente realizadas em grandes áreas, e não apenas nos locais ou plantas afetados, o que significa custos desnecessários e impactos ambientais. Práticas de correção e fertilização do solo são ainda baseadas em dados médios, tomados em grandes áreas, ignorando variabilidade espacial, o que faz com que certas áreas recebam menos e outras mais insumos do que deveriam.

Essa realidade irá mudar com o advento da automação digitalmente pilotada, que está viabilizando o manejo sítio-específico nas lavouras (e até em criações) com enorme redução de custos e riscos.

Nas suas versões mais avançadas, essa “agricultura de precisão” envolve o massivo uso de dados e algoritmos que analisam em grande detalhe múltiplos fatores que afetam o desempenho de plantas e animais. Informação que orienta a aplicação de insumos, com grande precisão – com equipamentos muitas vezes guiados por satélite; e com grande exatidão, usando sensores e atuadores que permitem a aplicação de quantidades corretas nos locais e momentos adequados.

Com os avanços recentes em tecnologias de inteligência artificial, é possível antecipar para um futuro próximo a disponibilidade de drones comandados por algoritmos sofisticados, e munidos com sensores e atuadores, sobrevoando lavouras e aplicando tratamentos químicos, biológicos e físicos de forma autônoma e precisa. Tal modelo de automação digitalmente pilotada trará ganhos significativos em precisão, exatidão e sustentabilidade no campo, respondendo às expectativas por uma agricultura menos impactante para o meio ambiente e para a saúde das pessoas.

O Brasil já é um dos países líderes na adoção da agricultura de precisão, e o tema recebe aqui grande atenção dos agricultores, da indústria e do governo. Isso é importante, pois, com o surgimento de uma agricultura baseada na digitalização e na automação, uma nova força de trabalho adaptável a essa nova realidade precisará ser formada em curto prazo. E mais: com o surgimento de modelos de negócios orientados por dados e algoritmos, será importante definir como se dará o manejo e o uso dos valiosos dados gerados nas fazendas brasileiras. Afinal, não queremos ver nossos agricultores relegados à condição de meros compradores de tecnologias e alimentadores de bases de dados.

 
Source: Rural

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