Skip to main content

(Foto: Getty Images)

 

Faz dois anos que o produtor Félix Muraro Junior instalou um sistema de energia solar em uma das propriedades da família, em Chapecó (SC). Foram investidos R$ 120 mil em um sistema com potência de 42 quilowatts (kW). Na fazenda, de 100 hectares, a safra de verão é de milho, usado como silagem para o gado leiteiro. Hoje, são 90 vacas em lactação, com três ordenhas diárias. A segunda safra é de soja para comercialização. “Trouxe uma economia de custo. Eu vi a energia solar como investimento e vamos ter retorno”, diz Félix.

Não é um caso isolado. O investimento em energia solar fotovoltaica tem crescido no meio rural, mostram dados da Absolar, associação que representa o setor. Em 2017, a capacidade instalada era de 9 megawatts (MW). Em 2018, saltou para 47,2 e, até março deste ano, estava em 60,3 MW.

Números atualizados até agosto apontam que o campo representa 5,5% dos sistemas conectados à rede no Brasil – atrás de residências e setores de comércio e serviços – e 9,8% da potência instalada, atrás de comércio e serviços, residências e indústrias. Ao todo, são 93.597 instalações de geração distribuída no Brasil, que inclui propriedades rurais. A potência total é de 1 gigawatt (GW).

Entre os argumentos do setor para incentivar o uso dessa fonte de energia estão redução de custos, baixo impacto ambiental, diversificação da matriz energética e crédito disponível. Mapeamento da Absolar aponta a existência de mais de 70 opções de financiamento de agentes públicos e privados para diversos setores da economia brasileira, incluindo a agropecuária.

Alcione Belache, CEO da Renovigi 

 

A Coopercitrus, sediada em Bebedouro (SP), usou 1 hectare para construir uma usina de 1,17 megawatt, com 3.600 placas solares. Inaugurada oficialmente em abril, a instalação foi ligada em 28 de janeiro e, desde então, gerou uma economia média de R$ 100 mil por mês, diz o coordenador da área na cooperativa, Diego Branco. “Tudo dentro do esperado para a produção ao longo do ano frente ao que tínhamos de expectativa. Foi um ótimo investimento.”

Em Chapecó, Félix Muraro Júnior afirma que tem estrutura para até 70 kW. E planeja aumentar. Só aguarda o momento certo. “Na época em que fiz a negociação, consegui um bom preço, o dólar estava mais baixo. Se hoje não estive mais alto, já teria aumentado. Já fiz o orçamento e foi autorizado pela família”, diz. “Dois anos atrás, não tinha praticamente linha de crédito. Hoje tem linhas específicas”, acrescenta.

Com a maior demanda, empresas do setor de energia solar fotovoltaica olham com mais atenção para o campo. Sediada em Chapecó, a Renovigi, fundada em 2012, espera ampliar de forma significativa a presença do setor rural nos resultados, afirma o CEO da empresa, Alcione Belache.

Em 2018, a Renovigi faturou R$ 150 milhões. A expectativa para este ano é de R$ 500 milhões e, para 2020, chegar a R$ 1 bilhão. O plano é elevar a participação da clientela rural dos atuais 5% da receita total da empresa para algo entre 10% e 20% até o final do ano que vem.

Placas instaladas em fazenda da família Muraro, em Chapecó (SC) 

 

“Temos observado um crescimento em áreas rurais. Estamos estruturando nossa empresa para atender a esse mercado. Tivemos autorização para ofertar linhas do BNDES e, normalmente, isso vai para a área rural. Podemos atender a um pequeno agricultor ou a uma grande fazenda”, diz.

Quem pode mudar as expectativas é a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que discute alterações na Resolução Normativa 482/2012. O texto dita as condições de acesso da micro e minigeração distribuída ao sistema e a forma de compensação pela energia fornecida à rede. A Absolar defende manter as regras atuais. Do outro lado da discussão estão as concessionárias de energia elétrica.

Alcione, da Renovigi, não acredita em retração do mercado. Mas, a depender do que for definido, a expansão pode ser menor. “Estamos engatinhando e já se quer mudar as regras. Podemos regredir dois a três anos. Dois anos atrás, o retorno para um sistema maior era de sete, oito anos. Hoje, são três, quatro”, afirma.

A Coopercitrus espera por uma definição, explica o diretor Diego Branco. Está nos planos expandir o uso da fonte solar para outras unidades em São Paulo e Minas Gerais. “Estamos aguardando a definição do mercado para ver que caminho seguir.”

Procurada, a Aneel informou que está prevista para este mês a abertura de audiência pública para a revisão da proposta.

 
Source: Rural

Leave a Reply