Skip to main content

(Foto: Lalo de Almeida/Ed. Globo)

 

Manhã nebulosa no Vale do Ribeira, região de divisa entre São Paulo e Paraná, onde predomina a produção de bananas. A caminho da fazenda, Eduardo Corrêa aponta para as primeiras bananeiras que aparecem numa saída da BR-116, destruídas pela chuva de granizo que anunciou a chegada do inverno neste ano. “Choveu pedra. As plantações mais expostas também ficaram assim”, conta o produtor, na direção da caminhonete — o tempo ruim afetou 200 bananais, que perderam até metade da safra. Em Jacupiranga (SP), a família Corrêa cultiva 260 hectares e produz 13 mil toneladas (90% do tipo nanica) por ano.

Graças a mudanças recentes no processo produtivo, os donos garantem que a Fazenda Salto do Berrador oferece, hoje, o melhor produto da vizinhança. “Todo mundo ficou de bico virado. Falam até que estou dando margem para ambientalistas”, diz Eduardo.

A banana é uma das frutas mais populares do planeta. O Brasil planta cerca de 500 mil hectares e colhe 6,5 milhões de toneladas por ano, sendo o quarto maior produtor mundial. São Paulo, norte de Minas e sul da Bahia lideram a oferta nacional.

A produção paulista se concentra no Vale do Ribeira, com 34 mil hectares e produção de 680 mil toneladas anuais, ou cerca de 10% da produção brasileira. Eduardo é um dos 1.500 produtores, dos quais apenas um décimo possui área maior que 30 hectares.

Processo de lavagem e seleção das frutas na Bananas Corrêa (Foto: Emiliano Capozoli/Ed. Globo)

 

Desde que chegou à região, no início dos anos 1990, a família Corrêa conquistou as maiores redes de supermercados, atacados e pequenos comércios paulistas. Em abril de 2018, recebeu uma proposta do Carrefour, seu comprador há mais de uma década, para alinhar a produção com o que há de mais qualificado no varejo global. O resultado foi lançado em julho deste ano. Bananas cultivadas a partir de critérios rigorosos, desde o plantio até chegar às gôndolas, com rastreamento e certificação: o selo Sabor & Qualidade.

O volume acertado inicialmente foi de 5.500 toneladas por ano, quase um terço da produção da fazenda, para 33 lojas da rede varejista em São Paulo. “A gente trabalhou e poupou para isso. Estamos, no mínimo, dois anos à frente dos outros produtores em termos de gestão e logística”, diz Eduardo. “Até o fim do ano, queremos dobrar esse volume de 7% para 15% do total vendido pela rede no Brasil.” 

A consultoria custa R$ 5 mil para os produtores, compensados pela garantia de venda, redução de custos e possibilidade de exportação, o que já acontece com a manga. Os Corrêa foram eleitos para a atual empreitada da companhia francesa. “Já temos mais dois produtores na fila”, revela o diretor comercial da rede, Marcelo Prado. “A ideia é melhorar os produtos com um manejo especial. Basicamente, cultivo agroecológico, defensivos biológicos e cuidados com o solo. A rede entra com auditoria e certificação”, ele explica.

Na origem da propriedade, a produtividade era de 25 toneladas por hectare; hoje, é de 50. A tecnologia melhorou muito. A população só cresce, e o consumidor ficou mais exigente. Nós precisamos trabalhar a sustentabilidade para acompanhar a evolução do mercado”, observa José Corrêa, da segunda geração da família, que começou num sítio em Miracatu (SP), no ano de 1943, com seu pai.

Eduardo Aparecido Correa e seu pai, José Luiz Corrêa, proprietários da Bananas Corrêa (Foto: Emiliano Capozoli/Ed. Globo)

 

MENOS DERIVA

Enquanto os drones pulverizadores não se popularizam, os produtores reconhecem que a aplicação aérea de agrotóxicos provoca “deriva”, isto é, excesso de químicos nos arredores da lavoura. Além de adotar defensivos de base vegetal, a família Corrêa passou a usar tratores na pulverização de um terço da lavoura. “Não barateia porque o avião é mais eficiente”, diz José. É uma novidade no Vale do Ribeira. “Oitenta porcento da produção são feitos com aviões. A pulverização terrestre é mais eficiente porque tem menos deriva e pode ser parada quando precisa. Além disso, a aérea é terceirizada.”

Dos 400 funcionários da fazenda, os colhedores produzem, cada um, 130 caixas por dia. “É uma cultura trabalhosa, que necessita de muita mão de obra e gera bastante emprego”, afirma Fabiano, irmão de Eduardo. Na parte final do processo produtivo, a packing house, onde a banana chega em ganchos, é lavada e embalada por cerca de dez funcionários, o produtor explica que as frutas rendem 3.500 caixas por dia, ou 52 toneladas diárias, passando por um tanque de água. “No modelo tradicional, o processo é mais sujo”, observa Fabiano. Segundo ele, as remessas são separadas em quatro categorias, da melhor à pior qualidade, e agora parte delas recebe o selo comercial.

Sediada em São Bernardo do Campo (SP), a Bananas Corrêa tem uma frota de 40 caminhões, que assumiram, com o projeto, o papel da Centro de Distribuição do Carrefour na entrega do produto às lojas da rede paulista.

“É uma fruta fresca. Precisa chegar aos destinos em 72 horas, no máximo”, diz Eduardo, revelando que o próximo passo é integrar o produto a um blockchain, sistema virtual ligado às bitcoins, além de vender bananas embaladas nas estações do metrô de São Paulo.

 
Source: Rural

Leave a Reply